Brasil 123milhas ainda vende passagens em meio à recuperação judicial e dívida bilionária; entenda Redação22 de setembro de 2023056 visualizações Trinta e cinco dias após revelar uma crise financeira bilionária que culminou em um pedido de recuperação judicial, a empresa 123milhas segue vendendo passagens aéreas, hospedagens em hotéis e pacotes de viagens para vários países. A situação foi alvo de questionamentos de clientes da companhia que não poderão viajar na data prevista, já que a empresa suspendeu a emissão de tíquetes comprados até 18 de agosto deste ano para viagens previstas para acontecer entre setembro e dezembro de 2023. “Então a 123 Milhas continua vendendo passagem aérea?”, escreveu um internauta. “Deles a gente não se surpreende, né?”, comentou outro. Um levantamento realizado pelo R7 mostra que a negociação no portal da empresa está com fluxo normal. É possível comprar serviços para curto ou longo prazo. Há, inclusive, anúncio de passagens com 50% de desconto. Pelas simulações, foi possível encontrar passagens aéreas, de ida e volta, entre Guarulhos (SP) e Nova York, nos Estados Unidos, para março de 2024, por R$ 3.552. O trecho só de ida para o Rio de Janeiro saindo de Confins, na Grande BH, é oferecido por R$ 249. Afinal, a 123milhas pode continuar a vender os serviços enquanto tenta na Justiça um processo de recuperação? A resposta é sim, segundo Sérgio Mourão Correia Lima, professor de direito empresarial na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e advogado especializado em falência e recuperação judicial. “Ao contrário do que se pensa, é exigido por lei que a empresa continue operando. Se ela estiver parada, não pode passar por recuperação judicial. Neste caso, teria que decretar falência”, explicou ao R7. Na prática, o processo de recuperação judicial é um mecanismo que empresas em crise usam para evitar a falência. Quando uma companhia tem autorização da Justiça para seguir o trâmite, as ações de cobrança de dívida contra ela ficam congeladas por até 180 dias. Neste período, os gestores precisam apresentar estratégias para pagar os credores. No caso da 123milhas, a suspensão dos pagamentos vale para as transações realizadas até o dia 29 de agosto deste ano, quando a companhia abriu pedido de recuperação. As dívidas contraídas até a data só ganharão previsão de pagamento no decorrer do processo. Novas estimativas mostram que aproximadamente 770 mil credores foram lesados pela agência, em um rombo próximo de R$ 2,3 bilhões. Apenas no Rio de Janeiro, o Procon estadual recebeu 2.210 reclamações contra a 123milhas. O órgão tentou marcar audiências de conciliação com clientes que tiveram a emissão de passagens cancelada, mas os pedidos foram negados, informou a instituição. “A empresa está impedida judicialmente de fazer pagamentos referentes a transações realizadas até 29/08/2023, justamente para garantir a isonomia entre os credores. Mas reitera que compras e reservas posteriores ao dia 29 de agosto não sofreram qualquer alteração”, declarou a 123milhas em comunicado enviado ao R7. Novos contratosO advogado Sérgio Mourão Correia Lima ressalta que os novos clientes precisam ficar atentos ao fornecimento dos serviços contratados. Em caso de descumprimento, os órgãos fiscalizadores precisam ser acionados. “Se a empresa não cumprir com os novos compromissos, ela pode ter a falência decretada. Monitorar isto é uma das funções dos administradores judiciais. Eles fiscalizam, entre outras coisas, se a empresa está funcionando, se está descumprindo medidas e se está arrecadando mais do que gastando”, alerta. Apesar de a empresa garantir que os novos contratos serão honrados, o futuro da companhia é incerto. Na quarta-feira (20), um desembargador do TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) paralisou o trâmite da recuperação judicial. A medida vale até a realização de uma perícia para avaliar se a empresa tem condições reais de se recuperar ou se deve decretar falência. O desembargador Alexandre Victor de Carvalho acolheu um recurso do Banco do Brasil. Na visão da instituição, a 123 não forneceu os dados necessários para o início da recuperação judicial nem apresentou informações econômicas capazes de fazer um raio-X da saúde financeira da empresa. O congelamento dos processos, no entanto, foi mantido. “Os consumidores não têm nada a fazer. Agora, eles precisam esperar. Uma perícia desse porte, com tamanho número de credores, pode demorar. O prazo vai depender se a documentação da empresa está ou não organizada. Se estiver, será mais fácil”, disse o advogado Sérgio Mourão Correia Lima ao declarar que não é possível prever um prazo para o fim do processo. Em nota, a 123milhas afirmou que “permanece fornecendo dados, informações e esclarecimentos às autoridades competentes sempre que solicitados”. “A empresa e seus gestores se disponibilizam, em linha com seus compromissos com a transparência e a ética, a construir conjuntamente medidas que possibilitem pagar seus débitos, recompor sua receita e, assim, continuar a contribuir com o setor turístico brasileiro”, pontuou. A companhia ainda informou que, em caso de dúvidas, os clientes devem acessar os canais oficiais da empresa disponibilizados em http://123milhas.com/central-de-ajuda. Fonte: r7