São Paulo, Brasil
O Brasil foi eliminado da Copa do Mundo do Catar na noite de 9 de dezembro de 2022. Cumprindo o combinado, Tite deixou de ser o treinador imediatamente.
Já se passaram exatos 6 meses e 11 dias.
E a CBF não contratou um treinador.
Jamais na história da seleção, que começou em 1914, ela ficou tanto tempo acéfala.
O país fracassou nas últimas cinco Copas.
Na prática, o Brasil perdeu seis meses de preparação para o Mundial de 2026.
Porque não se resume a jogos.
São vários pontos travados.
A escolha com critério dos atletas, da definição tática, planejamento, aproximar o relacionamento com os clubes europeus, escolha de amistosos.
Tudo está parado.
Carlo Ancelotti, 63 anos, a prioridade, está esperando a definição da direção do Real Madrid, se ele continuará no clube, depois dos fracassos na Champions e no Espanhol.
A partir daí, qualquer treinador é plano B. Não terá a total confiança de Ednaldo Rodrigues. O presidente da CBF escolheu meticulosamente o italiano. Pelo estilo de jogo ofensivo, excelente relacionamento com jogadores brasileiros, dominar o idioma espanhol, ser ótimo no trato com dirigentes. E com a imprensa.
Confirmada a negativa, com a continuidade de Carlo no Real Madrid, as chances maiores recaem sobre Jorge Jesus. O experiente treinador português de 68 anos deixou marcas importantes em dirigentes da CBF pelo trabalho que fez no Flamengo.
Intermediários já deixaram claro: estará à disposição da seleção, caso Ednaldo queira, assim que terminar a temporada europeia. Ele foi muito pressionado pela direção do Fenerbahçe. Mas mesmo assim não renovou contrato. Ele espera, pacientemente, assumir o Brasil.
A mídia carioca continua em uma campanha fortíssima para que Fernando Diniz assuma o cargo. Por seu ótimo trabalho no Fluminense.
Mas ele continua um treinador de currículo muito pobre em conquistas. Trabalhava de forma utópica até a temporada passada, montando equipes ofensivas mas muito vulneráveis. Seu trabalho é inspirado no de Pep Guardiola. Principalmente pelo período importantíssimo no Barcelona. Mas ele possuía atletas de excepcional nível técnico.
Não só atacantes, mas defensores também.
Diniz expunha demais suas equipes e colecionava fracassos, até vencer o Campeonato Carioca deste ano.
É uma convivência pequena demais com as conquistas.
A insistência de jornalistas sobre o dinizismo já começa a mexer com alguns presidentes de federações. Por conta do futebol ofensivo, busca constante de gols. Eles identificam o DNA da seleção.
Mas o que chama atenção nessa “peneira” feita pela CBF é a rejeição, o medo de Abel Ferreira. Por mais que o treinador português acumule vitórias e títulos com o Palmeiras, ele praticamente não tem chance de ser o escolhido.
Bicampeão paulista (2022 e 2023), da Libertadores (2020 e 2021), além de campeão brasileiro (2022), da Recopa Sul-Americana (2022), Copa do Brasil (2020) e Supercopa (2023).
Nada disso importa para a cúpula da CBF.
Ednaldo foi convencido de que seu sistema de jogo é reativo, muito pragmático. Contra adversários fortes, inúmeras vezes ele montou times defensivos, para jogar nos contragolpes. O que não combina com o Brasil pentacampeão do mundo, de acordo com vários dirigentes da CBF.
Além disso, ele é, de longe, o de mais difícil trato.
Como combinar os privilégios para Neymar? Inclusive táticos? Os inúmeros amistosos inúteis, mas lucrativos, a que a seleção se submete?
E o ponto fraco do português continua sendo seu comportamento à beira do gramado. São 45 cartões desde que começou seu trabalho, em novembro de 2020.
Uma expulsão em jogo eliminatório de Copa do Mundo pode colocar a seleção brasileira exposta a uma eliminação. Esse argumento é muito repetido.
Há uma barreira quase intransponível para Abel Ferreira.
Ednaldo Rodrigues chegou à presidência da CBF por ser um homem de conciliação, político. Ele não gosta de não ter o controle das situações.
Ele não daria o controle total do futebol a Abel Ferreira como Leila Pereira, presidente do Palmeiras, faz.
Enquanto isso, a seleção brasileira continua imobilizada.
Todos os nove países que disputarão as Eliminatórias já contrataram treinador e fazem seu planejamento para o Mundial dos Estados Unidos.
Sete são argentinos: Argentina — Lionel Scaloni; Bolívia — Gustavo Costas; Chile — Eduardo Berizzo; Colômbia — Néstor Lorenzo; Paraguai — Guillermo Barros Schelotto; Uruguai — Marcelo Bielsa; Venezuela — Fernando Batista. O espanhol Félix Sánchez é o técnico do Equador. E o peruano Juan Reynoso comandará a seleção de seu país.
Todos já começaram a trabalhar.
França seguirá com Deschamps, Zlatko Dalic continuará na Croácia, Hansi Flick foi mantido na Alemanha. Luis de la Fuente é o da Espanha. Gareth Southgate comanda ainda a Inglaterra. Domenico Tedesco assumiu a Bélgica. Roberto Mancini segue na Itália. Roberto Martínez assumiu Portugal. Ronald Koeman foi o escolhido pela Holanda.
Ou seja, as maiores seleções do mundo já se articulam para 2026.
O Brasil está parado há seis meses.
Desperdiçando tempo.
Esperando Ancelotti.
Sem a menor certeza se ele vai aceitar ou não.
O Brasil já jogou com o Marrocos e perdeu, com Ramon Menezes como treinador interino, no dia 25 de março.
A seleção deverá jogar, nos dias 12 e 20 de junho, amistosos contra seleções africanas. E ainda com treinador interino, possivelmente outra vez Ramon.
Ele comanda o Brasil no Mundial sub-20, na Argentina.
Se o Brasil chegar à final, a decisão acontecerá no dia 11, na véspera do primeiro amistoso da seleção principal.
O planejamento da CBF já se mostra caótico…
Fonte: r7