Delegado é afastado de caso do Porsche após críticas e por cobrar que PM entregue imagens de câmeras corporais de acidente

por Redação

O delegado Nelson Alves foi afastado nesta quinta-feira (18) do inquérito que investigava as causas e eventuais responsabilidades pelo acidente com o Porsche, que deixou uma pessoa morta e outra ferida no mês passado, na Zona Leste de São Paulo. Ele foi transferido do 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, para o 81º DP, Belém.

A mudança foi confirmada nesta sexta-feira (19) ao g1 pelo próprio delegado. Entretanto, ele disse desconhecer os motivos do afastamento e da transferência. “Ninguém sabe, só cumpro ordens”, comentou Nelson.

O Inquérito do caso do Porsche ainda não foi concluído. Quem assume a investigação é o delegado Milton Burguese, que estava no 81° DP. Ele também irá presidir outros inquéritos contra o crime organizado.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) negou o afastamento e disse que “ocorreu uma mudança administrativa” na qual o delegado Milton Burguese foi para o 30° DP “por ter experiência em apurações de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.”

“A unidade vem desenvolvendo investigações complexas contra membros de uma facção criminosa que atua em várias regiões do Estado, motivo pelo qual se faz necessária a experiência do delegado citado. A investigação sobre a morte do motorista de aplicativo foi conduzida pelo delegado Nelson Alves e está em fase final para ser relatado à Justiça”, diz o texto.

O g1 e a TV Globo apuraram que o afastamento do delegado da investigação e sua transferência foram decididas por seus superiores hierárquicos. E que ele deixa a investigação após críticas feitas ao seu trabalho na condução do inquérito.

A defesa dos investigados no caso chegou a informar no processo judicial que vazaram informações sigilosas do inquérito à imprensa. O caso está em segredo de Justiça.

Além disso, Nelson havia solicitado à Polícia Militar que entregasse as imagens das câmeras corporais que os agentes usaram para gravar o atendimento e socorro às vítimas da batida.

O pedido foi reforçado na Justiça no início de abril, pelo delegado Marcos Casseb, titular do 30°DP, e foi feito porque a PM ainda não entregou as gravações das body cams dos policiais militares que atenderam a ocorrência.

Por causa do acidente, Ornaldo foi socorrido por uma ambulância dos Bombeiros, mas morreu com diversas fraturas e parada cardiorrespiratória ao chegar no hospital.

O amigo do empresário, o estudante Marcus Vinicius Machado Rocha, que estava no banco do carona do Porsche, quebrou quatro costelas, passou por duas cirurgias (para retirada do baço e colocação de drenos nos pulmões) e ficou duas semanas internado até ter alta do hospital.

Fernando teria tido um corte na boca, mas não passou por nenhum atendimento médico. Segundo os agentes da PM, que atendiam a ocorrência, a mãe do motorista do carro de luxo havia dito que levaria o filho a um hospital, mas não o fez. Os policiais militares liberaram o empresário sem fazer o teste do bafômetro nele, que poderia confirmar se ele havia tomado bebida alcoólica.

Marcus e a namorada dele contaram à Polícia Civil que Fernando havia bebido antes de dirigir. O motorista do Porsche e a namorada deste negaram que o empresário tenha bebido quando foram ouvidos na delegacia que investiga o caso.

As filmagens são importantes para ajudar os investigadores a esclarecer algumas dúvidas, como, por exemplo, se foi mesmo a PM que liberou Fernando para deixar o local do acidente sem fazer o teste do bafômetro. E ainda se o empresário tinha sinais de embriaguez, como disseram algumas testemunhas.

Sobre as body cams da PM, a Secretaria da Segurança Pública respondeu “as imagens serão fornecidas, como de costume, para a análise da Polícia Civil. As investigações do caso seguem em andamento, sob segredo de Justiça.”

O acidente foi gravado por câmeras de segurança (veja vídeo acima). Segundo testemunhas, o empresário também dirigia o Porsche em alta velocidade. O limite para a via é de 50 km/h.

Fernando se apresentou dias após o acidente no 30º DP. Ele foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por ter ferido Marcus) e fuga do local do acidente (para não fazer o teste do bafômetro).

À polícia, o empresário disse ter guiado “um pouco acima do limite” e negou ter fugido do local do acidente.

Apesar de a Justiça ter negado dois pedidos da Polícia Civil para prender Fernando, ela determinou que ele pagasse uma fiança de R$ 500 mil (para garantir futuros pagamentos de pedidos de indenizações à família de Ornaldo e a Marcus), além de suspender a carteira de motorista dele e obrigá-lo a entregar o passaporte na Polícia Federal (PF).

A defesa de Fernando alega que o acidente foi uma “fatalidade”. Procurada nesta quinta para comentar os depoimentos de Marcus e da namorada dele, a advogada Carine Acardo Garcia respondeu que “nos parece que a informação foi de que ingeriram drinque muitas horas antes do acidente”.

“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo Ornaldo, morto no acidente.

Fonte: G1

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