Delator do PCC denunciou policiais civis por extorsão à Corregedoria oito dias antes de ser executado em Guarulhos

por Redação

Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC, foi ouvido no dia 31 de outubro na Corregedoria da Polícia Civil sobre a denúncia de que policiais civis estavam cometendo extorsão. O depoimento foi dado oito dias antes de ele ser executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira (8).

A informação foi divulgada por Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública do estado de São Paulo, em coletiva de imprensa nesta segunda (11).

“O inquérito foi instaurado na Corregedoria para que ele pudesse apontar os nomes e quais desvios de conduta, esses policiais civis teriam cometido”, completou.

Em março, o empresário fechou um acordo de delação premiada com o MP com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do PCC e crimes cometidos por policiais. Gritzbach acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não o implicar no assassinato do Cara Preta.

Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).

A SSP criou uma força-tarefa para investigar a execução, que será coordenada pelo secretário-executivo da SSP, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.

Ainda segundo Derrite, dentro do veículo utilizado pelos suspeitos, foi encontrado um galão de gasolina. A investigação apura que eles iriam incendiar o carro.

O material genético encontrado no Gol também já foi coletado e passará por análise. A polícia também busca por imagens de câmeras de segurança para refazer o trajeto do carro e, verificar se os suspeitos usaram um outro veículo para fugir. Segundo testemunhas, a informação é que eles fugiram a pé.

Seguranças indicados por tenente
Os policiais militares, que faziam a escolta pessoal do delator do PCC, foram indicados para fazer o bico ilegal por meio de um tenente da PM.

A prática de bicos, como a segurança particular, é proibida pelo Regulamento Disciplinar da PM e é classificada como uma transgressão grave.

As informações foram registradas nos depoimentos de três policiais à Corregedoria da PM e ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), responsáveis pelas investigações.

No sábado (9), os PMs Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima foram afastados de suas funções até o final das investigações. Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é que os seguranças de Gritzbach teriam falhado de forma proposital e indicado o momento em que o empresário estava desembarcando do aeroporto.

Em depoimento, Adolfo contou que foi convidado em 2023 pelo tenente Garcia, do 23° Batalhão Metropolitano, a prestar serviço de segurança particular para a família do empresário.

Ele ainda disse que trabalhou na escolta pessoal durante aproximadamente dez meses e interrompeu a prestação de serviço, quando descobriu pelo noticiário que Gritzbach estava envolvido com a facção criminosa paulista.

Convidado novamente pelo tenente Garcia, Adolfo aceitou fazer um “serviço esporádico” de dois dias entre quinta (7) e sexta-feira (8) para buscar o delator do PCC e namorada no aeroporto, “em razão de sua precária condição financeira”.

À Corregedoria da PM, Jefferson também relatou que começou a trabalhar na escolta pessoal de Gritzbach — acusado de lavar dinheiro para o PCC proveniente do tráfico de drogas — por intermédio do tenente Garcia. Ainda disse que tinha a função de garantir a segurança do filho do empresário.

Durante o período trabalhado, Jefferson recebeu a informação de um possível envolvimento de Gritzbach com atividades ilícitas e de que não estaria mais sendo investigado, por isso continuou prestando serviço à família.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) não respondeu se o soldado Samuel e se o tenente Garcia são investigados e se foram afastados de suas funções.

A pasta se limitou a informar que “a Polícia Militar esclarece que atividades externas à Corporação constituem infração ao regulamento disciplinar da instituição, sujeitando o infrator a sanções administrativas. As punições são aplicadas conforme a gravidade da infração e o histórico de transgressões do autor, podendo variar de advertência até a exclusão das fileiras da Polícia Militar. Quanto ao caso citado, os policiais envolvidos foram ouvidos nos dois inquéritos em curso e permanecem afastados das atividades operacionais”.

Até a última atualização da reportagem, a defesa deles não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

Fonte: G1

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