Apresentado como novo treinador do Santos, nesta quarta-feira, Cléber Xavier disse que a comparação com Tite, com quem trabalhou como auxiliar por 24 anos, será inevitável, mas ressaltou que espera repetir o sucesso da parceria entre os dois neste início de carreira como técnico.
— É inevitável que isso vá acontecer (comparação com Tite). Foram 24 anos de parceria, o cara que me deu toda a confiança, o cara com quem eu tenho relação muito forte e que me deu todo o espaço para desenvolver, junto dele, o comando de equipes grandes e de seleção brasileira. Mas eu não temo. Não tenho como temer — declarou Cléber Xavier em entrevista coletiva na Vila Belmiro.
— Eu vou ficar muito contente, muito feliz, se eu conseguir, dentro dessa carreira que eu inicio agora, conquistar pelo menos a metade dos títulos que a gente conquistou juntos e apresentar o futebol da maneira que a gente apresentou, desde os aspectos defensivos como os ofensivos, em todas as equipes que a gente passou. Eu espero conseguir isso, eu me proponho a isso.
Apesar de trazer para o Santos ex-companheiros da comissão técnica de Tite, Cléber Xavier sustentou que não se trata de uma preparação para o retorno do treinador, que fez uma pausa na carreira para cuidar da saúde mental.
— A minha decisão é de seguir carreira solo. O Tite estava sentado com o Corinthians e eu não iria com eles. As reuniões que teve antes do Corinthians não tiveram minha participação, nem conversamos sobre isso. Sou profissional de 24 anos de parceria com ele, poderia ter tomado a decisão antes. Mas, pela relação, pelo espaço, pela confiança e pela qualidade dos trabalhos, continuei fazendo a função por me sentir bem. Mas, a partir do momento que tomo a decisão (de seguir carreira solo), eu não tenho como voltar atrás.
Decidido a seguir carreira solo desde outubro do ano passado, Cléber Xavier contou que recebeu uma mensagem de Tite nesta quarta-feira.
Opinião sobre Neymar
Na entrevista coletiva, o treinador falou que errou ao opinar que não via Neymar jogando no Brasil, e sim em um clube europeu, em meio à indefinição sobre a continuidade do craque no Al-Hilal, da Arábia Saudita.
— Errei. Imaginava uma coisa e aconteceu outra. Ele estava se recuperando no Al-Hilal e achei que seguiria lá para tratar da sua recuperação com o objetivo de voltar à Seleção. Ele voltou para o clube que ama, feliz, os atletas estão muito felizes com ele, comissão idem.
— Trabalhamos juntos por seis anos e meio. Sempre me perguntam, é um ídolo, um dos maiores dos últimos anos. Sempre me perguntam sobre Neymar ser problema. Nunca, nenhuma vez, sempre foi solução. Dentro e fora de campo. O primeiro jogador que encontrei foi ele quando cheguei ao clube. Ele me disse que está feliz por estar com ele, e eu feliz por estar com ele também.
O técnico ressaltou que, mesmo lesionado, Neymar é importante para o time fora de campo.
— Faz isso muito bem, tem essa preocupação, traz alegria ao vestiário. Falamos rapidamente ontem sobre isso. A importância de ele participar mesmo sem jogar.
Crise no Santos e necessidade de reforços
Na entrevista coletiva, Cléber Xavier repetiu que os primeiros treinamentos são focados no adversário da estreia, o CRB, nesta quinta-feira, às 18 horas, na Vila Belmiro, pelo jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil.
O técnico destacou, contudo, que sabe o momento delicado que o Santos enfrenta no Campeonato Brasileiro. O time está na penúltima colocação, com só quatro pontos.
— A gente vai trabalhar, jogo a jogo, para sair desta situação. Eu já passei por isso em outros clubes. Tentar levantar, buscar uma forma de jogar e buscar os resultados para, a partir daí, formar uma equipe com os atletas que estão — disse Cléber Xavier, comentando ainda a possibilidade de o Santos trazer reforços na janela de meio de ano.
— A necessidade que a gente tenha de trazer é uma conversa que vamos ter mais para a frente com a diretoria, para a busca de um, dois, três, o número que for, vendo a relação dos atletas. É uma coisa que temos que trabalhar com calma. Tem que ter paciência nisso. Primeiro a gente tem que trazer uma situação da realidade. O mundo real é a estreia do Santos na Copa do Brasil. É o nosso primeiro objetivo e, a partir de sexta, a gente começa a pensar no objetivo que é sair desta situação no Campeonato Brasileiro.
Estilo de jogo
O novo treinador comentou que o seu estilo de jogo é variável, podendo serem exploradas diversas opções táticas.
— 4-3-3 não é meu estilo preferido e não é o único. Podemos variar com dois pivôs, meia de flutuação pela direita com o Rollheiser, dois pontas, amplitude na lateral e construção com três. O contexto e o momento vão mostrar o que fazer no jogo. Não é ficar preso ao sistema, é como vamos desenvolver, iniciar e construir. Atacar o último terço. E sempre mudando durante o jogo.
Ele defendeu que, independente do esquema, a “entrega ao trabalho” é algo inegociável em sua equipe.
— A questão do contexto define muito como trabalhamos. Tem DNA ofensivo, grandes jogadores, tenho que pensar assim. Em qualquer clube é inegociável definir bem os momentos do jogo. Podem confundir equilíbrio em ser defensivo, mas não é. Joga-se de maneira ofensiva com cuidado defensivo, e defendendo pronto para o ataque. Quero um clube protagonista, o que domina, propositivo. Mas temos que entrar com calma, primeiro cuidar.
Contrato curto
Cléber Xavier assinou contrato com o Santos até dezembro deste ano, com multa rescisória baixa – bem menor do que os cerca de R$ 15 milhões devidos ao português Pedro Caixinha, em um impasse que pode terminar na Justiça.
Ele chegou ao CT Rei Pelé na manhã de terça-feira, conheceu a estrutura, os atletas, os dirigentes e os funcionários do clube, se reuniu com o elenco e comandou o primeiro treino à tarde.
— Quando fechei o contrato só vi que era até o final de 2025. Não quis nem adentrar mais nesse aspecto. Na minha cabeça é isso. Na minha cabeça a renovação de contrato, permanência, sempre tivemos isso ano a ano. Minha preocupação é o agora. Chegar até o fim do contrato atingindo objetivos que conversamos internamente.
Decisão arriscada
O CEO do Santos, Pedro Martins, defendeu que, embora o clube tenha passado duas semanas sem conseguir encontrar o substituto para Pedro Caixinha, a escolha de Cléber Xavier é a melhor.
Ele tratou de rebater a avaliação, de parte da torcida, de que se trata de uma decisão arriscada, já que o novo comandante terá a primeira experiência como treinador de uma equipe profissional.
— Durante as conversas pude compreender mais o perfil de liderança, a maneira de pensar o jogo e o método de trabalho. Dentro do que o Santos procurava para a temporada e para a construção do projeto, compreendemos que o Cléber tinha todas as ferramentas que gostávamos. Profissional experiente, muito vencedor. Compreendemos que, dentro da maneira dele de ver jogo, entender o futebol, se conectava com a realidade do Santos — declarou o CEO Pedro Martins.
— Entendemos que não era uma decisão arriscada. Pelo contrário. Era a decisão certa. Conectar um clube em processo de reconstrução com um profissional experiente, com títulos e com muita fome de assumir um desafio desse tamanho. Com total conhecimento e clareza dos passos necessários para o Santos retomar o papel de protagonista. No fim do dia a decisão foi óbvia e nos deu um conforto. Conseguimos trazer o profissional certo para o momento do projeto que vamos construir.
Quem é Cléber Xavier
Estreando como treinador de uma equipe profissional, Cléber Xavier tem 61 anos e é nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul.
Ele trabalhou como principal auxiliar técnico de Tite por 24 anos e começou a carreira de 37 anos comandando times de categorias de base.
A parceria com Tite o levou a integrar a seleção brasileira por sete anos, com a qual participou de duas Copas do Mundo, em 2018 e 2022, e a passar por clubes como Grêmio, Internacional, Palmeiras, Atlético-MG, Corinthians e Flamengo.
Cléber Xavier deixou a comissão técnica fixa de Tite em outubro do ano passado para se lançar em carreira solo como treinador, mas chegou ao Santos com ex-companheiros da equipe de Tite, os auxiliares Matheus Bachi e Vinicius Marques e o preparador físico Fábio Mahseredjian.
Fonte: GE