Em julho, em Taubaté, no interior de São Paulo, o humorista Heitor Martins, famoso pelo personagem Pit Bitoca, foi vítima do chamado “golpe do amor” e ficou cinco dias em cativeiro após ter marcado um encontro. No mesmo mês, um empresário do comércio varejista de São Paulo foi sequestrado em Osasco, na região metropolitana, depois de ter jantado com uma mulher que havia conhecido em um aplicativo de relacionamento. No início de setembro, um homem de 49 anos foi mantido em cativeiro ao ser sequestrado também em um suposto encontro amoroso.
Apenas em 2022, 19 ocorrências de golpes que envolvem encontros marcados por aplicativos tiveram grande repercussão e acabaram em sequestro, roubo e até morte, como no caso do empresário que precisou fazer um Pix de R$ 10 mil antes de ser assassinado em São Paulo. Em 18 dos episódios, as vítimas eram homens, e apenas em um era mulher. O perfil de homens com alto poder aquisitivo e geralmente de meia-idade é o que prevalece, segundo especialistas.
O advogado especializado em direito digital e crimes cibernéticos Jonatas Lucena afirma que já atendeu dezenas de vítimas que sofreram o golpe do amor desde o nascimento do Pix, em 2020: “O que motivou o aumento do golpe do amor foi o Pix, por conta da facilidade de não ter dia e não ter hora [para fazer a transferência]. É muito fácil para o criminoso e fica difícil para a vítima reaver o valor roubado”.
A presidente do Sindicato dos Delegados e especialista nessa modalidade de golpes, Jacqueline Valadares, explica que as vítimas, normalmente do sexo maculino, costumam ser abordadas em aplicativos de relacionamento por mulheres de boa aparência. Os homens são, muitas vezes, chamados para um encontro. Quando a vítima chega ao local combinado, é abordada por criminosos que a sequestram e a obrigam a realizar transferências via Pix.
A delegada explica, porém, que esses são os casos mais extremos do golpe. Muitas vezes, as pessoas chegam a “apenas” trocar vídeos de conteúdo íntimo com os suspeitos por aplicativos de mensagens. A partir desse momento, os golpistas passam a exigir dinheiro para não divulgar os “nudes”.
“Muitas vezes essa pessoa é casada, então a vítima cede ao golpe para não mostrar para a esposa e não ter imagens divulgadas nas redes sociais”, afirma Jacqueline Valadares.
Perfil das vítimas
Segundo o advogado Jonatas Lucena, a maioria dos casos que ele atendeu é de homens de 35 a 55 anos, com maior poder aquisitivo. “O que acontece é eles estudam as vítimas antes de fazer contato. O bandido ou a bandida vai pesquisar nas redes sociais quem é aquela pessoa. Normalmente, eles vão atrás de gente que tem possibilidade de um potencial financeiro que dê para eles levarem”, explica Lucena.
A delegada Jacqueline Valadares diz que, como algumas vítimas são casadas, o encontro costuma ser marcado em locais um pouco mais afastados e ermos. Em muitos casos, há a preocupação da própria pessoa de ficar no sigilo, e essa é uma opção melhor para esses criminosos.
“Em geral, essas vítimas são abordadas por redes sociais. Normalmente é feita uma pesquisa em meio aberto por parte dessas organizações, a fim de verificar o perfil dessas vítimas e se têm um potencial financeiro que interesse”, conta Valadares.
Como evitar o golpe
Uma das principais orientações é evitar marcar esses encontros em ambientes e locais ermos. O ideal é sempre combinar em lugares com grande movimento de pessoas. Também existe a possibilidade de tentar fazer uma pesquisa no Google, ainda que de fonte aberta, sobre a pessoa que está prestes a conhecer.
“São opções e caminhos que podem ser adotados para evitar que mais pessoas sejam vitimadas nesse tipo de golpe, assim como evitar ter aplicativos de banco no celular que você vai utilizar para transitar na rua. O ideal seria ter um aparelho específico que fique em casa”, exemplifica.
Outra dica é fazer uma chamada de vídeo para se certificar de que a pessoa com quem o interessado vai se encontrar é a mesma das imagens do aplicativo.
Caso a pessoa perceba que está sendo ou foi vítima de um golpe, é importante denunciar o caso o mais rapidamente possível. “O que a gente percebe é que mais homens estão se encorajando a denunciar esse tipo de conduta criminosa, até mesmo em decorrência da gravidade dos fatos que vêm ocorrendo. Era muito comum ouvir de vítimas do sexo masculino que eles tinham vergonha de reportar terem sido alvo nesse tipo de situação”, finaliza Jacqueline Valadares.
Fonte: Com informações da Agência Estado