Estudo aponta produtos cancerígenos na água de Guarulhos; Sabesp nega

por Redação

Estudo aponta produtos cancerígenos na água de Guarulhos; Sabesp nega

Estudo divulgado essa semana pela ONG Repórter Brasil aponta que a água consumida pelos guarulhenses contem 11 substâncias químicas e radioativas em quantidades acima do limite aceito pelas autoridades sanitárias do país. Desses, dois (Selênio e Tetracloroeteno) tem os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer.

Além dos dois, outras 5 substâncias que também geram riscos à saúde e foram

encontrados na água da cidade são: .Simazina, Ácidos haloacéticos total, Trihalometanos Total, Antimônio e Bário.

Além de Guarulhos, o levantamento mostra que a situação também é preocupante em São Paulo (13 testes acima do limite) e Florianópolis (26).

Segundo apontado pela ONG, Todos nós bebemos pequenas doses diárias de substâncias químicas e radioativas. São agrotóxicos e outros resíduos da indústria que se misturam aos rios e represas. Alguns especialistas defendem que não há risco se elas estiverem dentro do limite regulamentado. Outros argumentam que as doses aceitas no Brasil são permissivas, pois são bem mais altas do que as da União Europeia.

No entanto, todos concordam em um ponto: essas substâncias são prejudiciais à saúde quando estão acima do limite brasileiro. O consumo diário aumenta o risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso –a depender do produto.

Os dados apresentados no estudo foram coletados entre os anos de 2018 e 2020 e mostram que esses riscos atingem 763 cidades em todo o país.

Dados públicos

As informações divulgadas pela Repórter Brasil são públicas e podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água, que destaca quais substâncias extrapolaram o limite e explica seus riscos. Os dados são resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde.

Segundo a ONG, Os testes são feitos após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água.

Para Fábio Kummrow, professor de toxicologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e colaborador do estudo, confirma que a água estando contaminada “o risco para quem a bebe varia de acordo com a substância e com o número de vezes que ela foi consumida ao longo do tempo”.

Baseado nessa afirmação, Guarulhos e outras 81 cidades estão nessa situação, pois uma mesma substância foi encontrada acima do limite nos três anos analisados (2018, 2019 e 2020).

Ainda de acordo com a reportagem da Repórter Brasil, estudos que associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde são realizados pelos mais respeitados órgãos de saúde, como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Tratamento é apontado como vilão da contaminação

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De acordo com os dados da ONG, as maiores responsáveis pelos problemas com a água no Brasil são substâncias geradas pelo próprio tratamento. Quando o cloro interage com elementos como algas, esgoto ou agrotóxicos, nascem os chamados “subprodutos da desinfecção”. Eles estão acima do limite em 493 cidades, 21% das que testaram.

Nota da Prefeitura de Guarulhos

“A Secretaria da Saúde por meio do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) participa do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que consiste no conjunto de ações adotadas continuamente pelo setor para garantir à população o acesso à água em qualidade compatível com o padrão de potabilidade.

O SISAGUA é um instrumento do Vigiagua que tem como finalidade auxiliar o gerenciamento de riscos à saúde a partir dos dados gerados rotineiramente pelos profissionais do setor saúde (Vigilância) e responsáveis pelos serviços de abastecimento de água (Controle) e da geração de informações em tempo hábil para planejamento, tomada de decisão e execução de ações de saúde relacionadas à água para consumo humano.

Nenhuma das substâncias mencionadas: Trihalometanos, Ácidos haloacéticos e 2, 4, 6-Triclorofenol foram detectadas acima do volume máximo permitido, na água dos sistemas de abastecimento de água do município de Guarulhos, nas datas mencionadas e posteriores.

Os responsáveis pelos sistemas de abastecimento de água no município deverão, sempre que detectado qualquer parâmetro insatisfatório, realizar a correção dos mesmos, através de ações corretivas e preventivas e comunicá-las às autoridades de saúde pública.

A Vigilância Sanitária realiza mensalmente, diversas coletas e envio de amostras para análises laboratoriais, de forma a garantir a qualidade da água distribuída no município. As coletas de água são realizadas de forma amostral e preventiva. Atualmente, verificamos após a conclusão das análises laboratoriais um índice de amostras satisfatórias compatível com o padrão estabelecido na legislação vigente. Não foram detectados, cloro acima do limite nas amostras realizadas, na água dos sistemas de abastecimento de água do município.

Caso exista alguma amostra insatisfatória verificada após resultados das coletas realizadas, ou após análise do SISAGUA, tais resultados subsidiam as ações das autoridades sanitárias que, de forma imediata, tomam as providências necessárias para a correção sempre pensando na saúde da população.”


Nota oficial da Sabesp

“A Sabesp informa que, diferentemente do informado pela ONG Repórter Brasil, a água fornecida pela companhia não é imprópria e cumpre a legislação para potabilidade: Anexo XX

 da Portaria de Consolidação nº 5, alterado pelas Portarias GM/MS nº 888/21 e nº 2472/21 do Ministério da Saúde. Visando garantir sua qualidade, a Companhia monitora continuamente, conforme exigências do ministério, todas as etapas do sistema de abastecimento, desde o manancial, onde é feita a captação da água, as estações de tratamento, as redes de distribuição até o cavalete na entrada do imóvel dos clientes. Os dados são enviados ao Siságua, sistema do Ministério da Saúde, e são públicos, conforme mostra o acesso realizado pela ONG. Sempre que anomalias são constatadas, são tomadas as providências necessárias visando a regularização da situação. Conforme a legislação, o padrão de potabilidade deve ser avaliado levando-se em conta seu histórico completo. Os dados apresentados no Mapa da Água mostram resultados pontuais, sem considerar o histórico de medições exigido pela legislação brasileira. Essas medições apontam conformidade com os padrões de potabilidade e garantem a qualidade da água fornecida.”

Principais substâncias que foram detectadas na água de Guarulhos entre 2018 e 2020 e que pode gerar doenças crônicas, como câncer

Selênio – é classificado como provavelmente cancerígeno para humanos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. A exposição a altos níveis de selênio provoca descoloração da pele, deformação patológica, perda de unhas e cabelo, cárie, falta de agilidade mental e apatia. Historicamente, o principal uso do selênio foi na indústria eletrônica como fotorreceptor para fotocopiadoras. Hoje, é utilizado em aço inoxidável, esmaltes, tintas, borracha, baterias, explosivos, fertilizantes, ração animal, produtos farmacêuticos, e shampoos

Tetracloroeteno – é classificado como provavelmente cancerígeno para o ser humano pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde, com base em estudos epidemiológicos que evidenciaram aumento para o risco de câncer de esôfago e cervical e de linfoma não Hodgkin. A substância é utilizada como desengraxante de peças metálicas, em lavagens a seco, na indústria têxtil, de produtos de limpeza e de borracha laminada.

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