Brasil A história da jornalista que testemunhou o sequestro de Silvio Santos e foi recebida pelo apresentador por ter ‘ajudado a salvar vida dele’ Redação19 de agosto de 2024049 visualizações Ícone da televisão brasileira, o apresentador Silvio Santos era conhecido não apenas pelo carisma que transmitia em seus programas, mas também pela simplicidade e gestos de reconhecimento na vida privada. ESPECIAL G1: Como Silvio Santos transformou os domingos do brasileiro Um desses gestos marcou a vida da jornalista Carla Augusta Sant’Anna, que na época tinha 23 anos e foi convidada pelo próprio apresentador para ir até a casa dele tomar um chá, dois dias depois de um dos momentos mais tensos da vida da família: o sequestro da filha Patrícia e, posteriormente, do próprio Senor Abravanel. Na quinta-feira, dia 30 de agosto de 2001, Carla e o cinegrafista Carlos Alberto Correia receberam a tarefa da chefia do antigo Canal 21 – que pertencia à TV Bandeirantes – de fazer uma reportagem sobre a retomada da vida da família Abravanel após o sequestro da filha Patrícia, que tinha sido solta pelos sequestradores dois dias antes, em 28 de agosto. Era por volta das 6h da manhã quando a jornalista chegou à porta da mansão de Silvio Santos, no bairro do Morumbi, Zona Sul da cidade de São Paulo, na esperança de registrar a volta à rotina da família vítima do crime mais falado daquele ano no Brasil. Como o apresentador dirigia o próprio carro, a expectativa da equipe era conseguir falar com ele na saída de casa para a empresa. A dupla de jornalistas fazia plantão em frente à mansão, quando Carla avistou um homem chegando de agasalho de moletom e touca. Até então, não se sabia que se tratava de Fernando Dutra Pinto, autor do sequestro de Patrícia Abravanel. O homem passou pelo carro de reportagem discretamente, sem perceber que havia gente lá dentro, e, alguns minutos depois, sem grandes dificuldades, pulou para dentro da casa pelo muro lateral da mansão. Ao ver a cena, os dois correram para a guarita da segurança e avisaram: “’Olha, um rapaz pulou para dentro da casa”. “Mas os seguranças não deram muita confiança, achando que a gente queria gerar alguma notícia”, lembra ela, 23 anos depois do episódio. “Liguei na redação e relatei o que estava acontecendo. Logo, o meu chefe, o Bottini, pediu para a gente continuar por lá e mandou outra equipe. Em poucos minutos, a casa estava cercada de policiais e jornalistas. Era o início do sequestro do apresentador, que durou mais de sete horas e mobilizou o Brasil.” Fernando Dutra Pinto, depois de sequestrar Patrícia Abravanel e na fuga matar dois policiais, voltou à cena do crime e fez o maior e mais rico apresentador de televisão brasileira refém, sob a mira de uma arma. Os jornais da época registraram que Silvio foi surpreendido perto da cozinha da casa, enquanto Patrícia, a esposa Iris e as demais filhas correram para a casa de um vizinho. O sequestro foi transmitido ao vivo pelas principais emissoras de TV e rádio do país durante mais de seis horas. A estratégia do criminoso, na época, era tentar garantir que não seria morto pela polícia caso fosse preso pelo sequestro de Patrícia e pelas mortes de dois policiais que investigavam o crime. Silvio só foi solto após a presença do então governador paulista Geraldo Alckmin (na época no PSDB e hoje vice-presidente da República pelo PSB). Alckmin ajudou a negociar a libertação do apresentador, e o sequestro terminou após mais de 7 horas de tensão na mansão do Morumbi. “Naquele dia, o meu telefone não parava. O Brasil inteiro me ligava querendo saber detalhes do ocorrido. Até depoimento na polícia fui prestar, porque era a única testemunha que viu o início de tudo. Fui entrevista por jornais e emissoras. Foi uma loucura. Mas o mais louco foi o que aconteceu dois dias depois…”, lembra a jornalista. O encontro, segundo Carla Sant’anna, durou cerca de cinco a dez minutos. Silvio Santos sentou do lado dela e fez algumas perguntas sobre o episódio. “Fique dias sem acreditar. Voltei para a redação como se tivesse vivido um sonho. Estive frente a frente com o homem mais conhecido do Brasil. Na época não tinha essa coisa de selfie e nem registro fiz daquele encontro. Mas eu fiquei tão paralisada na frente dele que, se fosse hoje, também não teria pensado sequer em fazer uma foto. Ele se mostrou simpático, cordial, humano e realmente interessado no que eu tinha para dizer”, afirmou. Carla disse que acordou neste sábado (17) com familiares mandando mensagem contando sobre a morte de Silvio Santos, no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, aos 93 anos, vítima de uma broncopneumonia, após infecção por influenza (H1N1). Mais de duas décadas depois do encontro com Silvio Santos, a jornalista guarda numa pasta em casa todos os recortes de jornais e revista da época contando a história daquele que pode ter sido um dos momentos mais tensos da vida do maior apresentador do Brasil. Fonte: G1