Análise: ponderações são necessárias, mas não dão conta de explicar futebol pobre da Seleção

por Redação

Na véspera da partida contra o Paraguai, o capitão Danilo e o técnico Dorival Júnior concederam entrevistas coletivas bastante lúcidas e aprofundadas sobre o momento da Seleção e do futebol mundial. Embora viesse de vitória sobre o Equador, o Brasil seguia pressionado para voltar a jogar bem, e as perguntas para a dupla eram essencialmente sobre a busca por um desempenho melhor e mais vistoso. Em quase uma hora de conversa com os jornalistas, eles apresentaram uma série de ponderações, tais como:

o equilíbrio cada vez maior entre seleções fruto do aperfeiçoamento tático e da globalização do futebol;
a falta de tempo para treinamentos nas datas Fifa;
a incipiência do trabalho de Dorival, que estreou pelo Brasil em março e acaba de completar dez jogos;
o momento de renovação da Seleção, que tem recebe novos jogadores, muitos deles jovens, e em paralelo já não conta mais com pilares de tempos atrás;
o tempo perdido no início deste ciclo de Copa, com duas convocações de Ramon Menezes e quatro de Fernando Diniz, que deixaram legado pequeno ou nulo para Dorival;

Outros argumentos poderiam ser utilizados, como a ausência de Neymar desde outubro do ano passado, os campos com menores dimensões na Copa América, os muitos desfalques com os quais Dorival lidou e até mesmo a constatação de que as Eliminatórias não são tão fáceis quanto pareceram na era Tite.

Embora justas e necessárias para uma análise coerente, tais ponderações não dão conta de explicar o futebol tão pobre praticado pelo Brasil na derrota por 1 a 0 para o Paraguai, nesta terça-feira, em Assunção.

Também não são suficientes para justificar a seleção pentacampeã mundial ter a mesma pontuação da Venezuela e estar atrás do Equador, que começou as Eliminatórias com três pontos a menos devido a punição.

Apesar de repleta de jogadores talentosos, a Seleção parecia amedrontada satisfeita em trocar passes de lado, especulando à espera de sabe-se lá o que para agredir o adversário no estádio Defensores del Chaco, em Assunção.

O que se viu, especialmente no primeiro tempo, foi uma equipe que teve a bola, mas não ideias do que fazer com ela. Mesmo com posse na casa de 70% e mais do que o triplo de passes do adversário, o Brasil deu apenas dois chutes.

Faltava acelerar o jogo, buscar passes verticais e aproximações para tabelas. Jogadas de um contra um, que talvez sejam o grande diferencial de nossos jogadores, praticamente não foram vistas.

O Paraguai, time de melhor defesa nas Eliminatórias, com três gols sofridos, estava satisfeito em ficar sem a bola, mesmo jogando dentro de casa. Até porque não era sufocado e ainda conseguia achar escapadas esporádicas ao ataque. Em uma delas, aos 19 minutos, conseguiu o gol que desmontaria a estratégia e desestabilizaria os nervos do adversário.

Após cruzamento na área, Gabriel Magalhães cortou mal, Guilherme Arana e Bruno Guimarães demoraram para pressionar a bola e, assim, Diego Gómez teve espaço para soltar um chute de rara felicidade.

A estratégia de Dorival, com a entrada de Endrick entre os titulares e Rodrygo partindo da ponta direita não funcionou. O garoto de 18 anos sofreu com duelos físicos, acabou desarmado muitas vezes e não foi acionado em profundidade com condições de finalizar.

A saída de bola brasileira era feita de forma lenta e facilitava a vida da marcação paraguaia. O tripé de meio-campo, com André, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá estava apagado, arriscava pouco e não conseguia municiar os atacantes de lado – Vini Júnior só apareceu em jogada aos 24 minutos, a melhor do Brasil no primeiro tempo. O camisa 7 ganhou disputa no corpo, invadiu a área e rolou a bola para Guilherme Arana, que teve chute bloqueado quase em cima da linha.

Dorival voltou para o segundo tempo com duas mudanças: Luiz Henrique e João Pedro entraram nos lugares de Bruno Guimarães e Endrick. Rodrygo voltou a jogar mais centralizado, e a Seleção passou a ter um centroavante mais fixo e de maior estatura e imposição física.

As trocas deram resultado, o Brasil criou algumas chances por cerca de dez minutos, mas ainda assim não se pode dizer que jogou bem ou fez por merecer o empate na etapa final.

Mesmo apagado (novamente), Vini Júnior foi mantido em campo até o fim e ainda criou duas chances, uma em chute de fora da área e outra finalizando nas mãos de Gatito uma jogada criada por Rodrygo. Muito pouco pelo talento que tem o camisa 7 e pelo que se espera dele.

Diferentes argumentos já foram usados para tentar justificar o desempenho aquém de Vini na Seleção. Primeiro era a necessidade de recomposição defensiva que atrapalharia seu jogo. Depois, uma suposta dificuldade em se encaixar com Neymar, além da admiração excessiva do garoto pelo ídolo, que, em tese, o forçava a procurar o companheiro a todo momento em vez de tentar jogadas individuais. Agora não está errado dizer que o atacante é pouco acionado pelos companheiros, mas isso não apaga o fato de ele cometer erros técnicos e de tomada de decisão em excesso. Também se espera mais iniciativa e busca por protagonismo de um favorito à conquista do prêmio de melhor do mundo. Se a bola não chega à ponta esquerda, por que não buscá-la em outro lugar?

Entretanto, não resta dúvidas que Vini e vários outros talentos da Seleção precisam de um coletivo mais azeitado para que suas qualidades individuais sejam realçadas.

Que o momento ruim não gere a falsa constatação de que o futebol brasileiro tem uma safra ruim de atletas. Embora careça de peças para determinadas posições e funções – como as laterais, no exemplo mais gritante – a Seleção ainda tem alguns dos melhores do mundo.

O maior desafio de Dorival é criar mecanismos para que estes bons jogadores se complementem. Em dez jogos do treinador até aqui isso apareceu poucas vezes.

Obter progressos num cenário de cobrança por resultados urgentes torna tudo ainda mais difícil, mas a realidade está posta e não há como alterá-la. O Brasil voltará a campo daqui a um mês diante do Chile ainda mais pressionado para vencer e convencer. As ponderações do começo deste texto seguem válidas, mas de nada adiantarão quando a bola voltar a rolar. A Seleção precisa de mais gols do que justificativas.

Fonte: GE

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