Áudios revelam sofrimento de mulher mantida em cárcere por 5 anos no Paraná: ‘Você me bate como se eu fosse um homem’

por Redação

Vítima de violência doméstica, a jovem de 23 anos mantida em cárcere privado pelo próprio marido por pelo menos 5 anos gravou áudios de conversas que teve com o suspeito em momentos que se sentia ameaçada.

O suspeito, Jean Machado Ribas, de 23 anos, está foragido. A defesa dele não quis se manifestar.

A mulher foi resgatada junto com o filho de 4 anos pela Polícia Militar (PM) em Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. A ajuda veio depois que ela enviou um e-mail com um pedido de socorro para a Casa da Mulher Brasileira, que oferece atendimento integral e humanizado para mulheres em situação de violência.

Em outra conversa gravada, a vítima fala sobre as agressões e o suspeito diz que “foi apenas uma briga”.

Vítima: Aquele dia você quase me matou, sendo que eu não fiz nada.
Jean: Aquele dia era uma briga.
Vítima: Era uma briga, mas não pode bater em uma pessoa que não faz nada.
Jean: Aquilo foi só uma briga.
Vítima: Briga? Aquilo lá foi um inferno para mim.
Jean: Foi só uma briga.
Vítima: Não foi, um inferno, Jean. Aquilo lá nunca mais sai da minha cabeça. É olhar para tua cara e eu lembro de você me socando em cima do sofá.
Em outro áudio, a vítima lamenta que foi agredida na frente do próprio filho.

Vítima: Aquela vez que você me amarrou eu achei que ia morrer.
Jean: Não.
Vítima: A pessoa amarrar a própria esposa!
Jean: Ah, mas que coisa…
Vítima: Eu não aguento mais entrar aqui, olhar no sofá e lembrar aquele dia que você me sufocou naquele sofá ali e o filho olhando para minha cara. Desde aquela vez que você me deixou com o rosto doendo. Você me deu um murro na cara, coisa que eu nem estava fazendo, e você me deu um murro na cara.
A vítima e o filho dela foram acolhidos e estão recebendo acompanhamento psicológico.

Suspeito usava câmera para monitorar a vítima

Segundo a vítima, os dois se conheceram na escola e se casaram. Juntos, tiveram um filho. No início do relacionamento, Jean não era agressivo, porém, com o tempo, a relação se transformou e ela passou a sofrer agressões físicas e psicológicas.

Ela relata que só podia sair acompanhada dele e, mesmo assim, apenas para locais controlados pela família do agressor.

Uma câmera de segurança instalada na casa, voltada para a porta da residência, era usada para monitorá-la, e Jean a vigiava remotamente enquanto trabalhava.

“Ele falava: ‘Se você fugir, eu vou onde você tiver para te matar'”, lembra.

Conforme o delegado Gabriel Fontana, o suspeito exercia um controle sobre a vida da vítima em forma de violência psicológica.

Ao ser preso em flagrante, o homem prestou depoimento e negou que privava a vítima de liberdade. Ao ser questionado quando foi a última vez que agrediu a mulher, afirmou “que não se lembrava”.

“É um depoimento que tenta desacreditar a palavra da vítima, mas ficou demonstrado que essa liberdade não existia em sua plenitude”, explica o delegado.

Homem foi preso em flagrante, mas liberado e está foragido

No dia do resgate, em 14 de março, Jean Machado Ribas foi preso em flagrante. Porém, na manhã de domingo (16), foi solto após passar por uma audiência de custódia.

Na ocasião, o Ministério Público se manifestou contra a prisão preventiva do homem, afirmando que o suspeito não apresentava antecedentes criminais relevantes e que a medida protetiva vigente seria suficiente para preservar a integridade física e psicológica da vítima.

Porém, um dia depois, o órgão voltou atrás e solicitou a prisão preventiva do homem. Ao solicitá-la, a Promotoria de Justiça destacou a periculosidade do suspeito e a necessidade da medida para a garantia da segurança da mulher e dos familiares.

“O pedido de prisão preventiva foi realizado após o recebimento de novas informações, sobretudo do temor enfrentado pelas vítimas e seus familiares”, afirma a promotora de Justiça Thaís Bueno Martins Ribeiro.

O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR) aceitou o pedido e a Polícia Militar tentou cumprir o mandado de prisão, mas o suspeito não foi encontrado.

Ele é procurado pelos crimes de sequestro, cárcere privado, causar dano emocional à mulher, ameaça e lesão corporal contra a mulher.

A polícia pede a colaboração da população com informações que levem à captura de Jean. Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelos telefones 197, da PCPR ou 181, do Disque-Denúncia.

Segundo a PM, esta não foi a primeira vez que a mulher tentou pedir ajuda para denunciar as violências sofridas.

Em outra data, a vítima entregou um bilhete pedindo socorro em um posto de combustíveis.

“Me ajude. Sofro muita violência em casa”, dizia o papel.

Na época, conforme a polícia, a corporação fez diligências na região indicada pelo bilhete, mas não encontrou a mulher, nem o suspeito.

No dia 7 de março, a vítima enviou um e-mail para a Casa da Mulher Brasileira, usando o celular do marido.

“Me ajudem […]. Eu sofro muita violência doméstica e não consigo ir até a delegacia. Eu estou sendo vigiada por câmeras 24 horas. Tenho um filho de quatro anos e quero sair de casa com meu filhinho. Ele vê tudo o que passo. […] Me ajudem por favor”, a vítima escreveu no e-mail.

Uma semana depois, no dia 14 de março, a polícia chegou à casa.

Primeiro, a vítima negou ter feito a denúncia. Os policiais, então, pediram para que ela mostrasse o celular que usava e questionaram qual era o e-mail cadastrado no aparelho, sendo que a informações coincidiu com o endereço registrado pela Casa da Mulher Brasileira. A mulher então admitiu que era vítima de violência e que tinha mandado o e-mail.

Fonte: G1

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