Mãe e irmão impediram que Djidja Cardoso recebesse tratamento e ajuda de outros parentes, dizem familiares; polícia investiga
Familiares da ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso, encontrada morta em Manaus, denunciaram à polícia que tentaram ajudá-la a obter ajuda contra a dependência química, mas foram impedidos pela mãe e pelo irmão dela – Ademar e Cleusimar Cardoso estão presos preventivamente. Eles são investigados por integrarem um grupo religioso que utilizava cetamina em rituais.
A morte de Djidja, que por cinco anos foi uma das estrelas do Festival de Parintins, é investigada pela Polícia Civil do Amazonas. A principal suspeita é que ela teve uma overdose de cetamina, anestésico de uso humano e veterinário, mas a polícia aguarda o resultado do exame de necropsia realizado pelo Instituto Médico Legal (IML), que deve sair em até 30 dias.
Segundo os familiares que denunciaram a mãe e o irmão à polícia, há cerca de uma ano, a jovem passou a ser usuária da droga. Eles afirmam que tentaram ajudá-la, mas foram impedidos por Ademar e Cleusimar, que não permitiram que ela recebesse tratamento adequado.
Djidja foi encontrada morta no dia 28 de maio dentro da casa onde morava com a mãe e o irmão, na Zona Norte de Manaus.
Segundos os parentes, os três viviam o drama da dependência química em cetamina, e nos últimos meses, devido ao uso constante da droga, Djidja ficou debilitada ao ponto de não conseguir mais sair da cama, conforme a denúncia de uma prima, que afirma que foi impedida de ajudá-la.
Dias antes de Djidja ser achada morta, outra prima dela registrou, no dia 24 de maio, um Boletim de Ocorrência (BO) contra a mãe e o irmão da ex-sinhazinha por sequestro e cárcere privado. A denúncia consta no inquérito policial que investiga o caso – ao qual o g1 teve acesso.
Conforme o registro, a prima denunciou que Djidja não podia receber visitas e nem sair de casa, pois se encontrava sempre sob efeito da droga. Também foi relatado no BO que o irmão era o responsável de levar a droga para dentro de casa e permitir que a família fizesse uso.
Há pouco mais de um mês, a polícia começou a investigar Djidja, o irmão e a mãe dela por tráfico de cetamina. Segundo o inquérito, os três criaram um grupo religioso chamado, “Pai, Mãe, Vida”, que incentivava o uso da droga para alcançar uma falsa plenitude espiritual.
A investigação aponta que Verônica da Costa, gerente de um salão de beleza de Djidja, era a responsável por comprar a droga ilegalmente, sem receita médica. Ela tinha apoio de Marlisson Vasconcelos e Claudiele Santos, que também eram funcionários da família Cardoso. Os três (Verônica, Marlisson e Claudiele) também estão presos por ordem judicial.
Segundo Cícero Túlio, delegado responsável pelo caso, a família passou a ter alucinações por causa do uso excessivo de cetamina.
A investigação indica, ainda, que o grupo fazia aplicação forçada de cetamina em integrantes e obrigavam os funcionários de uma das unidades da rede de salões de beleza a participar da doutrina.
A defesa, no entanto, diz que não existia nenhuma prática de grupo religioso e que tudo não passavam de discursos feitos enquanto os suspeitos estavam sob efeito da droga.
“Não existia esse negócio de ritual e de que funcionários e amigos eram obrigados ou coagidos a usar a droga. Não existia isso. Eles ofereciam sob efeito de drogas, com aquele argumento, com aquela alegação da transcendência da evolução espiritual”, disse.
Ainda segundo a defesa, Ademar, Cleusimar e a gerente Verônica estão sofrendo de abstinência na prisão. Conforme a defesa, os três estão em isolamento nas unidades prisionais onde estão presos. Ademar e Verônica mais estáveis e Cleusimar em estado mais crítico.
A defesa afirma que vai pedir a internação compulsória dos três.
Morte investigada
As investigações sobre a morte de Djidja Cardoso estão sendo conduzidas pela Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).
A suspeita é que Djidja possa ter sofrido a overdose durante um dos rituais do grupo religioso chefiado pela família. O corpo dela foi encontrado pelos policiais com sinais de uso excessivo da substância.
“Estamos em uma fase preliminar em relação à coleta de depoimentos e informações, incluindo áudios e mídias que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagens, para verificar a veracidade”, detalhou o delegado Antony.
Fonte: G1