Brasil ‘Corpo gela’, ‘dor de barriga’: soldado agredido no Exército tem ataques de pânico ao lembrar de violência, diz advogado Redação25 de fevereiro de 2025014 visualizações O soldado de 19 anos, que denunciou ter sido agredido no 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Pirassununga (SP), ainda sofre com ataques de pânico e ansiedade ao lembrar da violência, segundo relato do advogado dele, Pablo Canhadas. “[Ele sente] o corpo gelar, tem dor de barriga e pensamentos ruins”, afirmou Canhadas. A defesa disse que ele ficou ‘aliviado’ com a expulsão dos seis militares suspeitos da violência, mas não deve voltar às atividades militares. O jovem foi agredido com remo de panela industrial, pedaços de ripa de madeira e teve a farda arrancada e uma vassoura quebrada na região do ânus. Os suspeitos vão responder como civis a processo na Justiça Militar da União (JMU). Os militares, que não tiveram as identidades divulgadas, não moram na mesma cidade do jovem. “Isso evita que ele tenha que encontrá-los.” Segundo o advogado, o soldado segue em tratamento psicológico e psiquiátrico, com uso de medicamentos antidepressivos e antipsicóticos. “Ele tem apresentado evolução, aos poucos vai retomando a reinserção social, conseguindo frequentar ambientes mais familiares. Tem sido importante”, comentou. Jovem não deve voltar ao ExércitoApesar desse progresso, Canhadas admitiu que, quando se trata da relação profissional, o trauma do jovem ainda é intenso. Na semana passada, quando foi ouvido pela primeira vez no processo na JMU, relatou ao advogado que estar no quartel era motivo de o “corpo gelar”, ter “dor de barriga” e “pensamentos ruins”. O jovem está afastado oficialmente do Exército desde 24 de janeiro, quando passou por uma avaliação médica no próprio 13º RC, em Pirassununga. Conforme Canhadas, o afastamento é válido por 45 dias, mas o soldado deve ser reavaliado no início de março, na Junta Militar, em São Paulo. O Exército não confirmou a informação sobre a licença médica ao g1. Apenas afirmou que “as informações de saúde são de caráter pessoal e de acesso restrito ao militar em questão”. Expulsão dos militaresOs seis militares investigados por agressão ao soldado do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Pirassununga, foram expulsos do Exército Brasileiro, segundo o Comando Militar do Sudeste. A vítima, de 19 anos, denunciou que a violência aconteceu em 16 de janeiro, quando estava estava organizando um espaço dentro do quartel e outros soldados disseram que ele teria que limpar uma câmara fria. O jovem disse que, ao chegar no local, foi violentamente agredido com diversos objetos. O g1 questionou a instituição a quais crimes eles vão responder, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. O inquérito policial militar (IPM), instaurado em 20 de janeiro e concluído na última semana, está sob sigilo. Em nota, o Exército Brasileiro informou que “repudia, veementemente, a prática de maus-tratos ou qualquer ato que viole os direitos fundamentais do cidadão”. Na semana passada, o soldado foi ouvido pela primeira vez no processo na JMU. O g1 tentou contato com as defesas dos militares, mas não tinha conseguido até a última atualização desta reportagem. A Polícia Civil enviou ao Exército Brasileiro documentos e uma suposta conversa entre o soldado que denunciou agressão e um dos colegas de corporação suspeitos de atacá-lo. Em uma das mensagens, um militar identificado como cabo Douglas afirmou que a vítima “aceitou a brincadeira”. O g1 teve acesso a um trecho das supostas conversas enviadas ao Exército. (veja acima o print e abaixo a transcrição). A reportagem questionou várias vezes o Exército se a troca de mensagens faria parte do material da investigação. A instituição, no entanto, respondeu apenas que “foi instaurado um IPM que corre sob sigilo, visando garantir a eficácia da investigação e a elucidação de um crime.” O jovem militar disse à polícia que a agressão aconteceu em 16 de janeiro. Na mensagem, supostamente enviada já no início da madrugada de sexta-feira (17), o cabo Douglas pergunta primeiro se o soldado está bem. Veja o diálogo abaixo: Cabo Douglas: “Tá tudo bem com você?”Soldado agredido: “Bem como se me arrebentaram hoje, uma tortura, não sei nem o que vou fazer da minha vida. Acabaram com a minha vida seus fdp”.Cabo Douglas: “Não fizemos nada com você. Você aceitou a brincadeira”.Soldado agredido: “Brincadeira?”Cabo Douglas: “Quero nem papo com você. Você aceitou”.Soldado agredido: “Você acha que é brincadeira que fizeram comigo?”Cabo Douglas: “Você aceitou”. O g1 não conseguiu contato com o cabo Douglas. Investigação e abalo emocionalO caso foi registrado como lesão corporal no 1º Distrito Policial de Pirassununga. Mas, conforme apurou a reportagem, não houve investigação da Polícia Civil, apenas do Exército. Em nota, o Comando Militar do Sudeste informou que “o Exército Brasileiro não compactua com qualquer conduta ilícita envolvendo seus integrantes”. A instituição informou, inicialmente, que os investigados poderiam ser expulsos, o que de fato aconteceu. O soldado ficou traumatizado, muito abalado e introspectivo, contou Canhadas. O responsável pela defesa também afirmou que as agressões duraram cerca de 30 minutos. O jovem relatou que dois colegas o seguraram, enquanto o restante o agredia. Fonte: G1