A equipe de ginástica feminina do Brasil conseguiu uma medalha inédita nesta terça-feira (30). Com 25 anos, a nota no salto de Rebeca Andrade garantiu o bronze para a equipe. Ela conseguiu 15.100 pontos.
Além de Rebeca, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Julia Soares e Lorrane Oliveira também brilharam na competição. Durante o aquecimento, Flavia caiu das barras, bateu com o rosto no chão e abriu o supercílio, mas, ainda assim, continuou competindo.
A equipe brasileira fechou a final em 3º lugar, com pontuação final de 164.497. Rebeca conseguiu as maiores pontuações do time em todos os aparelhos, com 15.100 no salto, 14.200 no solo, 14.133 na trave e 14.533 nas paralelas.
Em 2021, o g1 conversou com a mãe de Rebeca, Rosa Rodrigues (veja abaixo) quando a “Daianinha” levou a medalha de ouro e prata em Tóquio. De lá para cá, Rebeca já ganhou:
9 medalhas em campeonatos mundiais
4 medalhas em Jogos Pan-Americanos
5 medalhas em Campeonatos Pan-Americanos
6 medalhas em Copas do Mundo de ginástica
E agora, com o bronze em Paris, ela se igualou a Fofão (do vôlei) e Mayra Aguiar (do judô) no ranking de mulheres medalhistas olímpicas do Brasil.
“Daianinha de Guarulhos”
Rebeca nasceu em Guarulhos, na Grande São Paulo, e começou a treinar aos 4 anos no Ginásio Bonifácio Cardoso. Ela iniciou a carreira no projeto social Iniciação Esportiva, da prefeitura da cidade.
Lá, ela ganhou o apelido de “Daianinha de Guarulhos”, em referência a Daiane dos Santos, vencedora de nove medalhas de ouro em campeonatos mundiais no solo entre 2003 e 2006. Ela chegou a conhecer Daiane na ocasião.
Rebeca é atleta do Flamengo. No solo desta terça, mais uma vez ela se apresentou ao som de “Baile de Favela”, de Anitta, escolha já tradicional da ginasta.
Segundo Rosa, o acaso interveio, e a tia de Rebeca, que era funcionária pública, teve que cobrir a licença de uma outra pessoa que trabalhava no ginásio da cidade. Na semana em que a tia começou a trabalhar por lá, estavam abertas as inscrições para testes de novos atletas. Ela levou Rebeca, que na época tinha 4 anos, para se inscrever. Foi nesse dia de teste que ela ganhou o apelido de “Daianinha”.
O passo seguinte foi dado por Mônica Barroso dos Anjos, técnica da equipe de ginástica de Guarulhos e árbitra internacional. Foi ela quem descobriu Rebeca na Iniciação Esportiva.
Mônica treinou a jovem por um ano e meio. Em seguida, a encaminhou para o grupo de alto rendimento, onde Rebeca disputou competições representando Guarulhos, como o estadual, o brasileiro e até um interclubes em Cuba, em 2009.
Rebeca treinou por cinco anos, entre 2005 e 2010, no ginásio de Guarulhos com o projeto do município que atende crianças e jovens com idade entre 7 e 17 anos.
Além da ginástica artística, há diversas modalidades, como futsal, voleibol, basquete, futebol, handebol e natação, entre outras. Atualmente, cerca de 5 mil jovens são atendidos pelo projeto.
Rosa Rodrigues, que além de Rebeca tem outros sete filhos, conta que a família enfrentou dificuldades para que a jovem continuasse treinando. “No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo. Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais. Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino — cerca de duas horas a pé.”
Quando a jovem parou de frequentar os testes por falta de dinheiro, os treinadores de Rebeca criaram um esquema de rodízio para levá-la até o local. Na época, a Prefeitura de Guarulhos disponibilizou uma espécie de bilhete único para que os atletas frequentassem os treinos, porém, quando o valor disponível no cartão acabava, demorava muito tempo para cair a recarga novamente.
Aos 9 anos, Rebeca recebeu um convite da atual treinadora para acompanhá-la em Curitiba. Em 2012, a jovem foi para o Rio de Janeiro para competir pelo Flamengo. Atualmente, ela é atleta do time.
Apoio da família
Rosa conta que foi nesse período que o irmão de Rebeca, Emerson Rodrigues, hoje com 34 anos, comprou uma bicicleta para levar e buscar a atleta nos treinos. “No começo, ele levava ela a pé, mas teve a ideia de comprar a bicicleta em uma fábrica de reciclagem. Ela tinha entre 6 e 7 anos, e ele, cerca de 15.”
Rosa conta que muitas pessoas ajudaram a família a pagar a condução para que a jovem não deixasse de treinar em Guarulhos. Havia até um motorista de ônibus que dava carona para Rebeca e Emerson sempre que encontrava os dois no caminho.
Fonte: G1