Efeito do retorno do X no ecossistema de desinformação antes do segundo turno é incerto, avaliam especialistas

O impacto do desbloqueio do X, que ficou fora do ar durante o primeiro turno do pleito municipal, tende a ser limitado no debate eleitoral do segundo turno em meio à concorrência com outras redes, na avaliação de pesquisadores ouvidos pelo GLOBO. Mas o efeito da volta da plataforma de Elon Musk no ecossistema de desinformação ainda é incerto e será um ponto de preocupação na corrida eleitoral, diante da política de moderação menos rígida.
Coordenadora de pesquisa do Internet Lab, Iná Jost destaca a ocorrência de um “grande fluxo” de migração de usuários para o Bluesky, o que pode impactar a importância do X nesse retorno.

— É difícil saber se o retorno do X impactará esta eleição. A plataforma não aceita anúncios políticos, mas precisamos ficar atentos para vermos como as campanhas vão se desenrolar por lá. Precisamos monitorar se vão crescer os índices de correntes de desinformação e se decisões judiciais serão cumpridas pela empresa, caso elas existam — explica.

Queda de interações
O X registrou queda de 73,5% em interações no debate sobre política no Brasil entre os dias 2 e 17 de setembro, segundo estudo da FGV Comunicação Rio divulgado pelo GLOBO na semana passada. Nos primeiros dias após o bloqueio da plataforma, o Bluesky recebeu 2,6 milhões de novos usuários, com a estimativa de que 85% destes seriam brasileiros.

O levantamento também mostrou que a conversa na plataforma de Musk passou a ser ditada apenas por perfis de direita, que continuaram acessando o X via VPN, ferramentas de gestão de redes ou por origem internacional após a suspensão da rede social.

O antropólogo David Nemer, do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, avalia que o retorno do X não deve impactar o voto do eleitor. Para o pesquisador, a consequência do desbloqueio ficará restrita a uma mudança na narrativa da direita, que não deve chegar àqueles que não são convertidos. Além disso, há possibilidade de o eleitorado mais à esquerda permanecer no Bluesky ou em outros concorrentes.

— A falta de moderação no X é motivo de preocupação. Agora, vamos ver como a rede vai se comportar, já que, se não atender às demandas e ordens judiciais, vai voltar a ser banida, e pelo visto Musk não quer isso — analisa Nemer. — Mas acho muito difícil o X ser determinante para qualquer resultado no segundo turno destas eleições. O que vai mudar é a narrativa da direita, que vai tratar a volta da rede como uma vitória.

O X passou por uma queda de usuários após ser adquirido pelo empresário Elon Musk, em 2022, quando ainda se chamava Twitter. Especialistas citam mudanças nos algoritmos e o enfraquecimento da política de moderação de conteúdos sob a gestão dele como possíveis causadores desse impacto negativo.

Influência no debate
Segundo o estudo DataReportal, havia uma base de 22,1 milhões de usuários do X no início deste ano no Brasil — cerca de 2 milhões a menos do que em 2023. O levantamento considera o total de pessoas que podem ser impactadas por anúncios na rede. Foi a primeira vez, desde 2019, em que houve um recuo no volume de internautas atingidos.

Apesar de não estar no topo do ranking de redes sociais no Brasil, o X tem como característica a capacidade de direcionar o debate público pela presença de jornalistas, políticos, acadêmicos e influenciadores, o que ajuda a dimensionar o seu impacto político. Também costuma agendar discussões nas outras redes.

Criado em 2006 nos Estados Unidos, o Twitter se popularizou no Brasil a partir de 2008 como um espaço de discussões de temas variados. A rede também foi largamente usada em mobilizações populares, como os protestos de 2013.

Antes da aquisição por Musk, a rede, antes restrita a postagens com até 140 caracteres, já havia expandido esse limite e permitido a inclusão de fotos e vídeos, além do encadeamento de múltiplos tuítes e citações diretas de postagens de terceiros.

Especialistas já indicavam, à época, que a lógica interna da plataforma passava a dar mais visibilidade a publicações que engajavam outros usuários com “comoção negativa”, como discurso de ódio, fenômeno similar ao observado em outras plataformas. No primeiro ano como proprietário, Musk reformulou a plataforma, mudou o nome, o processo de verificação do serviço e as regras de moderação.

Fonte: OGLOBO

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