Em carta, aluna de 13 anos revela como agia professor suspeito de abuso sexual em Barretos

Em uma carta entregue na escola onde estuda, em Barretos (SP), a aluna de 13 anos vítima de abuso sexual revela, em detalhes, como o professor Alan David Brandes da Silva, de 35 anos, agia e conta que demorou para fazer a denúncia porque tinha medo dele. O suspeito está preso desde o dia 2 de julho.

“Eu sei que errei em ir onde ele manda, mas ele ainda é meu ‘superior’ e meu professor. De qualquer forma, ele manda em mim e eu tenho medo da reação dele ao não ir, mesmo de não ter ido semana passada. É algo que eu não sei o que vai acontecer se eu parar de ir de vez, se vai ficar bravo comigo, se vai se magoar, se vai ter uma visão ruim de mim, se pode fazer algo comigo”, diz trecho.

O conteúdo foi anexado ao inquérito policial que investiga o professor.

A menina segue o desabafo.

“Tentei ser amiga, tentei ser grossa, tentei dar uma ideia de que era errado, tentei dar pequenas indiretas de que eu não estava bem com aquilo (mas ele não entendia), eu tentei quase tudo que podia fazer nesses últimos meses, agora estou aqui pedindo ajuda”.

A ajuda veio de um outro professor da escola, que a vítima procurou para contar a situação. A partir daí, o caso foi levado à direção, que procurou a polícia.

Silva foi preso na casa dele e deve responder por estupro de vulnerável. O advogado de defesa, Sebastião Luis de Azevedo Borges, diz que o professor tem consciência do crime.

A Prefeitura de Barretos abriu um processo administrativo para exoneração de Silva. A aluna voltou às aulas. Ela e a família estão recebendo apoio psicológico e terapêutico.

Abraços estranhos
Na carta, a menina denunciou o assédio em detalhes e confessou que considerava os abraços que recebia do professor estranhos, mas, por muitas vezes, relevou.

Em um trecho, ela conta que a primeira aproximação se deu porque estava triste e Silva foi consolá-la.

“Eu estava bem triste, cabisbaixa, precisava desabafar, ansiosa, deprimida e bem triste por conta de uns problemas aí e o professor percebeu isso e um dia desses, no final da aula, pediu pra mim dar um abraço nele (…) eu aceitei porque realmente estava mal”.

Na sequência, a vítima disse que o professor passou as mãos nas partes íntimas dela e conta que achou errado, mas relevou. Os pedidos de abraço continuaram.

“Aí veio o dia da prova dele (…) tive que fazer o que restava da prova na sala do laboratório e, por eu ser uma das últimas a entrar na sala, consequentemente, eu fiquei na sala sozinha com ele (…) às vezes ele vinha do meu lado me ajudar com alguma questão passando a mão na minha cintura”.

Em outro trecho, a menina diz que o suspeito chegou a pedir para ela não contar a ninguém sobre os abraços.

“A prova termina. Neste momento estava tudo ok, fiquei conversando com ele depois da prova como se nada tivesse acontecendo, porque eu realmente achava que era só uma desconfiança. Neste momento, ele me deu vários destes abraços estranhos, mas achava que era normal. Ele me falava para não contar sobre os abraços para ninguém, absolutamente ninguém”.

Silva chegou a criar uma conta falsa nas redes sociais para conversar com a menina. Em uma das trocas de mensagem a que a polícia teve acesso, ele fala em sexo oral.

Em outra conversa, elogia a menina em uma foto que ela postou. “Tá gata mesmo, por isso gosto de te beijar”.

Professor temia ser descoberto
A investigação da polícia descobriu que Silva tinha medo de ser descoberto. Para os encontros forçados, ele escolheu uma sala dentro da escola com janelas altas, para dificultar a visão de quem estivesse do lado de fora.

Promotor de Justiça, Walter de Souza Vicentini Vilela diz que o suspeito pode ter a prisão temporária convertida em preventiva e ainda pena aumentada, por ter relação de autoridade sobre a vítima.

De acordo com o artigo 226 do Código Penal, a pena para o crime de estupro é aumentada se o agente é ascendente, padrasto, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título que tiver autoridade sobre ela.

Notícias Relacionadas

Mulher que estava com estudante no hotel em que ele foi morto diz ter medo de sofrer retaliação e cita ‘falta de preparo’ de PMs

Mortes pela PM de SP aumentam 46% em 2024, segundo ano da gestão Tarcísio

Pai de estudante de medicina de 22 anos morto pela PM em SP conta que viu o filho vivo no hospital: ‘Me ajuda, dizia ele’