Entenda por que luminárias japonesas foram retiradas da Rua dos Aflitos, na Liberdade, que guarda a memória negra de SP

Na semana do Dia da Consciência Negra, luminárias japonesas que ficavam na Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, foram retiradas da via e substituídas por LED. O restante do bairro ainda segue com os tradicionais postes de iluminação asiáticos.

A decisão da prefeitura de retirar as luminárias apenas daquela rua ocorreu após pressão de ativistas do movimento negro.

A administração municipal ressaltou que a troca feita em 18 de novembro visa “equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro” e garantir que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”.

A Associação Amigos da Capela afirmou que a remoção foi fruto de uma luta de seis anos. “A reurbanização do Beco dos Aflitos faz parte do projeto Ruas Abertas. Reparação aos nossos ancestrais, dando visibilidade à Capela dos Aflitos, patrimônio histórico tombado”, disse, em nota.

Mas por que houve a pressão dos ativistas? O que a rua representa para o movimento negro? Entenda abaixo:

Cemitério dos Aflitos e Capela Nossa Senhora dos Aflitos

Antes de se chamar “Praça da Liberdade”, o espaço público era conhecido como Largo da Forca, destino dos condenados à morte até a metade do século 19, sendo a maioria deles de escravos fugitivos: negros e indígenas.

O local de enforcamentos foi escolhido pela proximidade com a necrópole, o Cemitério dos Aflitos, que ficava entre as Ruas dos Estudantes, Galvão Bueno, da Glória e dos Aflitos.

Pouco abaixo do antigo Largo da Forca ficava o Largo do Pelourinho (atual Largo Sete de Setembro). Era ali onde os negros fugitivos eram açoitados até a metade do século 19.

No fim da Rua dos Aflitos, está a Capela dos Aflitos, uma igreja construída em 1779 ao redor do cemitério de escravizado. O prédio continua no local e é patrimônio tombado.

Em dezembro de 2018, um grupo de arqueólogos encontrou em um terreno particular, entre a Rua dos Aflitos e a Rua Galvão Bueno, nove ossadas de escravos entre os séculos 18 e 19.

A descoberta, em uma área onde seria construído um prédio particular na Rua Galvão Bueno, transformou o local em um sítio arqueológico.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o sítio arqueológico Cemitério dos Aflitos foi incluído na plataforma de informação e gestão do Patrimônio Cultural, gerenciada por meio do Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão.

O cadastro feito pelo Iphan, em 13 de fevereiro de 2020, “apresenta importante significado histórico para a cidade, na medida em que recupera uma memória praticamente perdida”, ressalta o instituto.

Ainda conforme o Iphan, estudos apontam que foram sepultadas no Cemitério dos Aflitos pessoas executadas, indígenas e escravos.

O estudo identificou ainda materiais (botões) diretamente associados a dois indivíduos, como parte da indumentária de um indivíduo e quatro contas de vidro azul junto ao pescoço de outro.

Movimentos sociais reivindicaram em audiências públicas na Câmara Municipal a criação do Memorial dos Aflitos no terreno. Em dezembro de 2020, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) sancionou um projeto de lei para criar o Memorial dos Aflitos no terreno.

Atualmente, o local passa por obras para abrigar o memorial. No início de novembro, o g1 noticiou que, por conta de uma reforma indevida, parte da parede de um prédio vizinho das obras tombou e caiu dentro da área de escavações.

Fonte: G1

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