Família de homem morto por motorista de Porsche manifesta ‘repúdio e indignação’ com oferta de salário mínimo mensal

por Redação

A família de Ornaldo da Silva Viana, motorista por aplicativo morto num acidente no mês passado, causado pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, divulgou nota à imprensa para repudiar e demonstrar indignação com a oferta de um salário mínimo mensal feita pelo condutor do Porsche aos parentes da vítima.

“Diante da barbárie a que foi vítima o trabalhador e exemplar pai de família Ornaldo da Silva Viana, a família vem manifestar repúdio e indignação”, informa comunicado escrito pelos advogados José Luiz Sotero dos Santos e Jair Sotero da Silva, que defendem os interesses dos familiares do morto.

A oferta de R$ 1.412 foi feita pelos advogados de Fernando no processo do caso, que segue sob segredo de Justiça. O empresário que dirigia o Porsche não especificou, no entanto, o período que duraria a ajuda financeira.

A defesa de Fernando, que é feita pelos advogados Merhy Daychoum e Carine Acardo Garcia, alegou estar “sensível ao momento” e informou que ficou sabendo, por meio da mídia, que a família de Ornaldo passa por dificuldades financeiras.

Os defensores também disseram que, em outra oportunidade, tentaram contato com os advogados da família da vítima para oferecer “as assistências necessárias”, mas receberam a resposta de que “não era o momento”.

Câmeras gravaram acidente

O carro de luxo guiado por Fernando bateu na traseira do Sandero conduzido por Ornaldo em 31 de março na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, Zona Oeste. O acidente foi gravado por câmeras de segurança (veja vídeo abaixo). A vítima tinha 52 anos.

Segundo testemunhas, o empresário de 24 anos havia tomado bebidas alcoólicas e dirigia o Porsche em alta velocidade. O limite para a via é de 50 km/h.

Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo de Fernando, e que estava no banco do carona do carro de luxo, fraturou quatro costelas no acidente. Ele ainda passou por duas cirurgias (para retirada do baço e colocação de drenos nos pulmões). O estudante de medicina tem 22 anos e recebeu alta médica na quinta-feira (11) do hospital onde estava internado.

Ele e sua namorada, que haviam se encontrado antes do acidente com Fernando e a namorada deste num restaurante e depois numa casa de poker, disseram à polícia que o empresário havia bebido.

Fernando foi indiciado por homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por machucar Marcus) e fuga do local do acidente (para não fazer o teste do bafômetro da Polícia Militar (PM), que poderia detectar se ele bebeu e dirigiu).

Empresário nega ter bebido

O empresário negou ter bebido antes de dirigir, e que tenha fugido. Ele se apresentou numa delegacia mais de 38 horas depois do acidente. Alegou ainda que guiava o Porsche “um pouco acima do limite” para a via. A namorada de Fernando também negou que ele tenha bebido.

A mãe de Fernando alegou que a PM havia liberado seu filho para deixar o lugar e ir a um hospital porque ele teria um corte na boca. Ela, no entanto, não o levou para um atendimento.

O 30º Distrito Policial (DP), que investiga o caso, já pediu duas vezes a prisão de Fernando à Justiça, mas ela negou as solicitações. Apesar disso, obrigou o condutor do Porsche a pagar fiança de R$ 500 mil como um valor antecipado para eventuais pagamentos de indenizações às famílias de Ornaldo e para Marcus. O pagamento foi feito na sexta-feira (12) numa conta judicial.

A Justiça também determinou que Fernando não se aproxime do amigo, da família da vítima e das testemunhas. E que ele entregasse o passaporte à Polícia Federal (PF). Além disso, teve a carteira de motorista suspensa provisoriamente.

“A família reafirma a confiança no trabalho da força policial, membros do Ministério Público e Judiciário, em representar os anseios da família e da sociedade, voltando suas atuações para elucidação dos fatos e aplicação de penalidades aos responsáveis de forma exemplar nos termos da lei..”

‘Fatalidade’, diz defesa de motorista

A polícia analisa documentos, comandas de estabelecimentos comerciais por onde o grupo de amigos passou, buscando câmeras de segurança e ouvindo testemunhas para tentar confirmar se Fernando bebeu antes de dirigir. Além disso, pericia as imagens para saber qual era a velocidade do Porsche quando bateu no Sandero.

A defesa de Fernando alega que o acidente foi uma “fatalidade”. Procurada nesta quinta para comentar os depoimentos de Marcus e da namorada dele, a advogada Carine Acardo Garcia respondeu que “nos parece que a informação foi de que ingeriram drinque muitas horas antes do acidente”.

A Corregedoria da Polícia Militar (PM) investiga se os policiais militares falharam no atendimento da ocorrência por não terem feito o teste do bafômetro em Fernando. Sem o exame, não foi possível saber se o motorista do Porsche havia bebido.

“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo Ornaldo, morto no acidente.

Fonte: G1

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