A força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta terça-feira (12) que afastou preventivamente oito policiais militares investigados por suspeita de envolvimento na execução de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Vinicius foi morto a tiros durante atentado na sexta-feira (8) no Aeroporto Internacional de São Paulo, que fica em Guarulhos, cidade da região metropolitana. Câmeras de segurança gravaram o momento em que dois criminosos encapuzados e armados com fuzis disparam 29 vezes na direção do empresário.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os agentes da Polícia Militar (PM) que foram afastados já eram investigados um mês antes do crime pela Corregedoria da corporação. Testemunhas tinham denunciado eles por fazerem segurança particular para Vinicius. O ‘bico’ fora do expediente de trabalho e sem autorização é considerado irregular pela PM.
O fato de os agentes terem feito escolta para alguém com envolvimento com o PCC foi repudiado pelo SSP. Vinicius Gritzbach se apresentava como empresário do ramo imobiliário, mas era réu na Justiça em dois processos: por lavagem de dinheiro para o crime organizado e também acusado por um duplo homicídio.
Os agentes da PM afastados trabalham no 18º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM-M), na Zona Norte de São Paulo, onde atua a maioria do grupo, e do 23º BPM-M, na Zona Oeste da capital paulista. Até a última atualização desta reportagem nenhum dos PMs havia sido indiciado ou responsabilizado criminalmente por participação no crime.
O empresário e a namorada estavam voltando de uma viagem de Maceió, em Alagoas, para São Paulo. No domingo (10), viajariam para Vitória, no Espírito Santo. Ele foi morto com dez tiros. A companheira não foi atingida pelos disparos.
Além dele, outras quatro pessoas que estavam entre a plataforma externa e o saguão interno do aeroporto foram atingidas pelos disparos. Um motorista por aplicativo morreu. As outras três vítimas ficaram feridas, mas sobreviveram (veja abaixo quem são).
As autoridades apreenderam armas usadas no crime que foram encontradas abandonadas pela polícia em outro local distante do aeroporto (veja abaixo).
Força-tarefa, MP e PF apuram crime
A força-tarefa, composta por representantes da Polícia Civil, Polícia Militar (PM) e Polícia Técnico-Científica, investigam as causas, motivos e eventuais responsabilidades pelo crime, como saber, por exemplo, quem foram os executores e os mandantes do homicídio.
De acordo com a pasta da Segurança, o caso é apurado como “homicídio, lesão corporal e localização e apreensão de objeto” pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que preside o inquérito.
A investigação analisa vídeos do crime, e ouve depoimentos de testemunhas e sobreviventes para tentar esclarecer o que ocorreu. Até a última atualização desta reportagem, nenhum dos criminosos foi identificado ou preso.
O Ministério Público (MP) acompanha as apurações.
Pelo fato de o atentado contra Vinicius ter ocorrido no aeroporto internacional em Guarulhos, a Polícia Federal (PF) também investiga o caso.
A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos, vai investigar por que não havia nenhum agente na base da corporação no aeroporto no momento em que o delator do PCC foi executado.
Hipóteses investigadas
A força-tarefa foi criada na segunda-feira (11). Uma das linhas de investigação é de que Vinicius foi morto por agentes de segurança pública. Além dos PMs que faziam sua segurança privada, policiais civis são investigados.
Em em 31 de outubro, oito dias antes de ser executado, ele foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil e denunciou agentes da instituição que estariam tentando extorquir dinheiro dele. Os policiais denunciados trabalham no DHPP, no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), no 24º Distrito Policial (DP), Ermelino Matarazzo, e no 30º DP, Tatuapé.
Outra linha de investigação é a de que ele possa ter sido morto a mando da facção criminosa por ter delatado quem eram os membros do PCC que faziam parte do grupo que lavava dinheiro.
E uma terceira frente de apuração trabalha com a possibilidade de que alguém teria decidido matá-lo por alguma dívida financeira. Vinicius foi a Maceio cobrar dinheiro de uma pessoa, que lhe deu joias em troca. Elas foram avaliadas em cerca de R$ 1 milhão.
Delação premiada
A delação de Vinicius foi homologada em março pela Justiça. E fez parte de um acordo com o MP para delatar policiais corruptos e integrantes do PCC envolvidos na lavagem de dinheiro. Em troca, o réu receberia benefícios, como, por exemplo. a redução do tempo da pena no caso de condenação.
Segundo um de seus advogados, Vinicius chegou a pedir mais proteção aos promotores, em virtude de ter sido jurado de morte. Mas esse pedido não teria sido atendido.
Mas à GloboNews, o promotor Lincoln Gakiya disse que Vinicius recusou as ofertas de segurança feitas a ele. Segundo o MP, o delator alegava que podia bancar a própria segurança e não queria abrir mão do estilo de vida que levava. Ao entrar no programa de proteção, ele precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos.
Segundo a Promotoria, para se proteger, o empresário contratou cinco policiais militares para fazerem sua escolta particular. Quatro deles tinham ido ao aeroporto se encontrar com Vinicius, mas não estavam com ele quando foi morto. Os agentes foram ouvidos pela força-tarefa e disseram que um dos carros usados para buscar o empresário teve um problema na ignição.
O quinto PM viajava com o empresário, mas disse à investigação que, quando ouviu o barulho de disparos, se escondeu atrás de um ônibus estacionado. À Corregedoria, ele explicou que estava em desvantagem, por isso decidiu proteger a própria vida.
Os PMs também são investigados pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). A investigação está refazendo os passos deles, seguindo o trajeto antes de o carro supostamente quebrar, além de extrair dados dos celulares dos PMs.
Fonte: G1