Impostos sobre jatos particulares e superiates poderiam financiar ação climática

Pesquisas estimam que 1% das pessoas mais ricas contribuem com mais emissões do que dois terços de toda a humanidade. Diante disso, muitos acreditam que este grupo deveria pagar impostos maiores com a finalidade de financiar a ação climática – e essa demanda tem ganhado força ultimamente.

Por exemplo, impostos justos sobre jatos particulares e superiates gerariam bilhões. Só no Reino Unido, que tem um dos maiores números de voos privados da Europa e é lar de uma frota de 450 superiates, o valor estimado em 2023, segundo a Oxfam, seria de £ 2 bilhões (aproximadamente R$ 15 bilhões).

Na Escócia, a organização diz que o Imposto de Partida Aérea (ADT) planejado pelo governo, com a adição de um novo imposto sobre jatos particulares, arrecadaria o suficiente para financiar tarifas ferroviárias de baixa temporada durante o dia todo até o final de 2024.

“Enquanto os super ricos continuam a poluir em taxas excessivas, são as pessoas que vivem na pobreza – tanto no Reino Unido quanto no mundo todo – que menos fizeram para causar a crise climática e que mais estão sofrendo com seus impactos devastadores”, destacou Natalie Shortall, consultora de política de justiça climática da Oxfam GB.

Ela acrescentou, segundo o Euronews, que mais medidas para tributar melhor a riqueza extrema são necessárias para acelerar a ação climática e combater a desigualdade, e aumentar os impostos sobre luxos altamente poluentes, como jatos particulares e superiates, é um bom jeito de começar.

Para Shortall, estas são o tipo de “soluções de senso comum” que são necessárias para reduzir as emissões e angariar fundos financeiros climáticos cruciais, “fazendo com que os maiores e mais ricos poluidores paguem”.

Mas um ponto que precisa ser considerado é que as pessoas têm dificuldade em estimar como a riqueza impacta as pegadas de carbono pessoais, e isso pode interferir no apoio a políticas climáticas voltadas para os ricos.

Como publicamos esta semana em Um Só Planeta, um estudo realizado por uma equipe internacional e publicado no periódico Nature Climate Change, constatou justamente que a pegada de carbono pessoal das pessoas mais ricas é altamente subestimada, e isso tanto pelos próprios ricos quanto por aqueles com renda média e baixa. Ao mesmo tempo, ambos os grupos superestimam a pegada de carbono dos menos abastados.

O trabalho, que consultou 4 mil pessoas da Dinamarca, da Índia, da Nigéria e dos Estados Unidos, também demonstrou que os participantes dinamarqueses e nigerianos que subestimaram a desigualdade da pegada de carbono eram geralmente menos favoráveis as políticas climáticas, como a implementação de um imposto sobre o carbono.

“Em todos os grupos de renda, as pessoas querem soluções reais para a crise climática, sejam elas regulatórias ou tecnológicas”, disse o primeiro autor, Kristian Steensen Nielsen, da Copenhagen Business School. “No entanto, as pessoas com as maiores pegadas de carbono têm a maior responsabilidade de mudar seus estilos de vida e reduzir suas pegadas.”

Ramit Debnath, professor assistente e Cambridge Zero Fellow na Universidade de Cambridge, completou: “Devido à sua maior influência financeira e política, a maioria das políticas climáticas reflete os interesses dos mais ricos da sociedade e raramente envolve mudanças fundamentais em seus estilos de vida ou status social”.

Fonte: G1

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