A Justiça tornou rés, no mês passado, sete pessoas acusadas de participar do sequestro do ex-jogador Marcelinho Carioca e da amiga dele, Taís Alcântara de Oliveira, em 17 de dezembro em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo. Eles estavam num cativeiro na mesma cidade e foram soltos um dia depois pela Polícia Militar (PM).
Dos sete acusados de envolvimento no crime, quatro (dois homens e duas mulheres) foram presos em flagrante e continuam detidos: Jones Santos Ferreira, Wadson Fernandes Santos, Eliane de Amorim e Thauannata dos Santos. Outros três acusados (dois homens e uma mulher) são procurados pela polícia: Matheus Eduardo Candido Costa, Caio Pereira da Silva e Camily Novais da Silva.
Todos eles tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça. Prisões preventivas são aquelas nas quais quem é acusado de um crime fica detido até seu eventual julgamento. Ainda não há data marcada para isso. O grupo foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por diversos crimes, como associação criminosa, receptação, roubo, extorsão mediante sequestro e lavagem de dinheiro.
O caso é investigado pela Divisão Antissequestro (DAS) da Polícia Civil. Segundo a investigação, ao menos dez pessoas participaram do sequestro de Marcelinho, um dos maiores ídolos do futebol do Corinthians, e da amiga dele. A Justiça determinou que a DAS apresente mais provas do envolvimento dessas outras três pessoas investigadas. Por este motivo, não decretou as prisões delas.
As impressões digitais dos três suspeitos também foram encontradas no carro do ex-jogador. Segundo os policiais, o veículo chamou a atenção dos criminosos, que decidiram abordar Marcelinho quando ele visitava Taís em Itaquaquecetuba. Ele tinha ido levar ingressos de um show para ela.
Dois dos bandidos estavam armados. O automóvel foi abandonado depois pela quadrilha, que levou as vítimas para uma casa e passou a exigir dinheiro do ex-jogador, que era ameaçado de morte. Ele também foi agredido. Amigos e familiares de Marcelinho foram procurados pelos criminosos e chegaram a transferir dinheiro para os sequestradores.
Com a confirmação do sequestro de Marcelinho e Taís, a divulgação do caso na imprensa, e a busca da polícia pelos reféns, a quadrilha os obrigou a gravar um vídeo falso. Eles foram obrigados a dizer que eram amantes e haviam sido pegos pelo marido da mulher. Tanto Marcelinho quanto Taís negaram ter um relacionamento. O ex-companheiro dela foi ouvido depois pela investigação e afirmou não ter nenhum envolvimento com o caso.
O vídeo falso foi divulgado nas redes sociais pelos bandidos. Segundo a DAS, o intuito era o de atrapalhar a investigação para dificultar os trabalhos da polícia na localização de Marcelinho e Taís.
A Polícia Militar encontrou os dois após receber denúncias anônimas do local do cativeiro em Itaquaquecetuba. Um vídeo, obtido pelo g1 e pelo Fantástico, mostra o momento em que policiais militares veem Marcelinho e a amiga na residência. O ex-jogador estava com uma toalha cobrindo a cabeça, chorou quando viu os agentes e abraçou um deles.
Taís estava deitada na cama, olhando para a parede. Ela é funcionária da Secretaria de Esportes de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde o ex-atleta foi secretário até janeiro deste ano.
Uma mulher que tomava conta deles foi presa. Outra colega dela e mais dois homens foram detidos em seguida. Durante as investigações, a DAS identificou mais seis suspeitos pelo crime. A polícia chegou a pedir as prisões do sexteto, mas a Justiça determinou que somente três deles fossem procurados e presos. Até a última atualização desta reportagem, nenhum suspeito havia sido detido.
Quem são os quatro presos:
Jones Santos Ferreira, de 37 anos. O acusado confessou que já participou de outros casos de estelionato e que buscava contas para receber valores de golpes. Ele afirmou que foi procurado por um criminoso, e essa pessoa pediu para receber valores em sua conta bancária. Jones falou que acredita que seria para um golpe, não um sequestro, e fez contatos com Wadson e Eliane para fornecer as contas para as movimentações bancárias. Foi indiciado por associação criminosa, receptação, lavagem de dinheiro e extorsão mediante sequestro.
Wadson Fernandes Santos, de 29 anos, disse à investigação que conhece Jones, e que ele lhe perguntou se tinha conta bancária para receber dinheiro. Wadson disse que não quis oferecer a conta. Acabou indiciado por associação criminosa, receptação e lavagem de dinheiro.
Eliane de Amorim, de 30 anos, é acusada de emprestar sua conta bancária para Jones. Ela disse à polícia que não recebeu nenhum dinheiro por isso. Foi indiciada por associação criminosa, receptação e lavagem de dinheiro. No dia 16 de janeiro de 2024, a Justiça atendeu pedido de sua defesa e determinou que ela ficasse em prisão domiciliar. A mulher tem dois filhos menores de 12 anos e não possuía ficha criminal anterior.
Thauannata dos Santos, de 18 anos, tomava conta das vítimas, segundo a polícia. No interrogatório, ela alegou que não tinha a intenção de participar de algo errado, mas queria estar ao lado de um dos suspeitos do caso que não foi preso: Caio. Negou que receberia dinheiro pelo sequestro. Foi indiciada por associação criminosa e extorsão mediante sequestro.
Quem são os três procurados:
Caio Pereira da Silva era inquilino do imóvel usado no cativeiro. De acordo com a polícia, está envolvido no sequestro.
Matheus Eduardo Candido Costa também tem participação no caso, segundo a DAS. E estaria envolvido na abordagem ao ex-jogador.
Camily Novais da Silva alegou que é inocente da acusação de ter participado do crime, segundo sua defesa informou na Justiça. Ela ainda não se entregou e é procurada.
Procurado pelo g1, a defesa de Jones reconheceu que ele conseguiu as contas bancárias de outras pessoas para movimentação do dinheiro no caso, mas que desconhecia que seria um sequestro.
“Ele, de fato, entende ali que havia uma origem ilícita, mas que era um estelionato”, disse o advogado Anderson Caio, que também defende Eliane.
“A Eliane ela é amiga de Jones. Ela simplesmente emprestou a conta para sacar os valores. Eles não participaram do sequestro”, afirmou.
A defesa de Thauannata, feita pelo advogado Victor Nicollas Santos Nascimento, informou que ela “é presumidamente inocente até que se prove sua culpa além de qualquer dúvida razoável”.
Victor afirmou também que “reconhece a seriedade das acusações apresentadas, especialmente considerando a natureza delicada do caso envolvendo o ex-jogador Marcelinho Carioca. No entanto, é imperativo entendermos que as alegações são apenas a perspectiva inicial apresentada pela acusação. Estamos empenhados em apresentar uma narrativa completa e justa, demonstrando todos os fatos relevantes à medida que o caso se desenrola”.
“Ao longo da investigação, surgiram diversos elementos que merecem uma análise mais aprofundada. Nossa equipe está trabalhando diligentemente para reunir evidências, entrevistar testemunhas e garantir que todos os aspectos relevantes sejam considerados de maneira equitativa”, completou.
O advogado Henrique Batista Leite, que defende Wadson, afirmou que não pode passar informações sobre a defesa.
O g1 não conseguiu localizar as defesas de Caio, Matheus e Camily para comentarem o assunto.
Fonte: G1