Brasil Lives de jogo do tigrinho surgem em canais de YouTube sobre culinária e jogos infantis Redação4 de julho de 2024052 visualizações Lives com dezenas de horas de duração sobre o Fortune Tiger (ou jogo do tigrinho), um dos mais famosos caça-níqueis online, têm surgido diariamente em canais populares de YouTube sem qualquer relação com o assunto – como culinária, música e jogos infantis. Em vez de transmissões ao vivo, essas lives são, na verdade, repetições por horas a fio de um mesmo conteúdo gravado. O conteúdo é sempre o mesmo: um apresentador diz ter encontrado uma falha que permite ganhar muito dinheiro em supostas novas versões do Fortune Tiger, nome oficial do jogo do tigrinho. Em um dos casos, o apresentador diz que lucrou o equivalente a 8 salários em meia hora. O g1 analisou oito lives assim, postadas em sete canais diferentes, que têm entre 1 milhão e 7,2 milhões de seguidores. Sete lives ficaram inacessíveis após a reportagem entrar em contato com os donos dos canais e uma foi removida pelo YouTube por violar as diretrizes da plataforma. Advogados e especialistas do setor de aposta apontam ilegalidade de lives que promovem apostas como fonte de renda e falsas estratégias para garantir ganho de dinheiro. As regras do YouTube proíbem vídeos que façam promessas exageradas, como afirmar que os espectadores podem enriquecer rapidamente. Os responsáveis por 2 dos 7 canais (@familiasantana e @leomedeiros) disseram à reportagem que tiveram as contas invadidas e negaram relação com as lives. Os responsáveis pelos canais @SrPedroCanal (jogos infantis), @McArcoIris (conteúdo para adolescentes), @DandoTrela (humor) e @pedrobennington (humor) não responderam até a publicação desta reportagem. O g1 não conseguiu encontrar contato do responsável pelo canal @GahMarinax. 80 comentários iguais de 22 contas diferentesEnquanto as transmissões ocorrem, usuários diferentes postam links para sites de apostas e fazem comentários repetitivos com elogios a essas plataformas. Em um dos vídeos, ao longo de 25 minutos, a mensagem “muito boa essa plataforma” apareceu 80 vezes, postada por 22 contas diferentes. Em outra, o mesmo comentário (“muito boa essa plataforma”) aparece 49 vezes, postado por 19 perfis diferentes num intervalo de 13 minutos. Essa repetição indica que comentários postados nas lives são automatizados, segundo o especialista de segurança digital Thiago Ayub. A prática de inflar artificialmente comentários para aumentar o engajamento também é proibida pelo YouTube. Lives promovem links para sites no exteriorAlém de elogios, nos comentários são postados links de sites de apostas que estão em português, mas são sediados no exterior. Os sites mmabet.com e go.aff.apostatudo.bet dizem ter autorização do governo de Curaçao para operar – naquele país, os caça-níqueis online são liberados. O g1 entrou em contato com ambos para saber se têm conhecimento das lives falsas, mas não obteve retorno. O g1 não conseguiu contato com o grandebetpix.com, que não informa de onde é. Segundo o advogado Fábio Jantalia, especialista em jogos e apostas, empresas sediadas no exterior podem oferecer o jogo do tigrinho para jogadores brasileiros, desde que tenham autorizações dos países em que estão sediadas. No Brasil, o setor de apostas avalia que o jogo do tigrinho se enquadra na categoria de jogos on-line prevista na lei que regulamentou o mercado de apostas, publicada em dezembro de 2023. Essa lei define que os jogos on-line são aqueles em que o resultado é determinado de forma aleatória, a partir de um gerador randômico de números, símbolos, figuras ou objetos – definido por sistema de regras. Para alguns integrantes do setor, é nessa categoria que se enquadram caça-níqueis como o tigrinho. O advogado Luis Felipe Ferrari ressalta, entretanto, que para ser oferecido por plataformas sediadas no Brasil, o jogo precisa cumprir uma série de regras – a lei das bets exige que os jogos passem por um processo de certificação. Além disso, as plataformas precisam ter autorização do Ministério da Fazenda para atuar no país. As empresas que tiverem interesse terão até 31 dezembro de 2024 para se adequarem à nova legislação. Fonte: G1