Mortes violentas caem, mas Brasil concentra 20,4% dos homicídios do planeta, indica estudo

por Redação

Foram 47.503 mortos em 2021 no país. Somados os casos em 102 países, os assassinatos totalizaram 232.676 em 2020.
Apesar da queda de 6,5% no número de mortes violentas no país, 47.503 pessoas morreram em 2021, de acordo com dados do Anuário de Segurança Pública divulgados nesta terça-feira (28). Isto significa que 20,4% dos homicídios no planeta ocorreram no Brasil.

A taxa nacional é de 22,3 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes. O levantamento reúne homicídios dolosos, latrocínios (roubos seguidos de morte), lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais.
As maiores taxas foram registradas no Amapá (53,8%), Bahia (44,9%), Amazonas (39,1%), Ceará (37%) e Roraima (35,5%).
Segundo o UNODC, sistema de dados do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas, o Brasil tem 20,4% dos homicídios no mundo mesmo tendo apenas 2,7% dos habitantes do planeta. Enquanto, em 2020, em 102 países morreram 232.676 pessoas, só aqui foram quase 48 mil óbitos.

O Anuário aponta que, em números absolutos, o Brasil lidera o ranking mundial de homicídios e é o oitavo país mais violento do mundo. Em volume de registros, apenas Índia (40.651) e México (36.579) possuem números tão grandes quanto os do Brasil.
Para Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum de Segurança Pública, o Brasil reproduz um problema verificado nos países da América Latina.

“Se a gente for somar a América Latina Central, a região tem cerca de um terço de todas as mortes do planeta. Nós temos um ciclo inconcluso de reformas das polícias. O sistema de governança das polícias é extremamente frágil, não é exclusivamente no Brasil. Aqui o complicador é o país ser federado, e a União não tem ingerência no limite sobre o que faz os governos do estado no dia-a-dia”, destaca.

Vítimas e desigualdades regionais
No Brasil, as vítimas são 77,9% negras, 50% tem entre 12 e 29 anos, e 91,3% são homens. Segundo o estudo, 76% das mortes foram provocadas por armas de fogo.

A região Norte teve alta de 7,9% na violência letal enquanto em todas as outras regiões do país houve queda na variação da taxa de mortes. A mais expressiva redução foi no Centro-Oeste, com baixa de 13,5%.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum de Segurança Pública, são diferentes realidades a cada estado do país.

“Os estados do Sudeste têm mais recursos financeiros, tropas dentro das polícias mais estruturadas e investiram muito em programas de prevenção, em fortalecimento da investigação. O que está passado a região Norte e vários estados do Nordeste hoje é um pouco do que viveu o Sudeste nos anos 1990. Forças policiais estão tentando correr atrás do prejuízo para tentar dar conta desses desafios”, afirma.

O pico da violência no Brasil foi em 2017 com 65 mil mortes, ano em que houve uma intensa disputa territorial entre facções. Desde que o Anuário é elaborado, os números de mortes violentas tendem a ficar em torno de 50 mil óbitos.

“Varia pouco de um ano para o outro, mas a gente não consegue romper com esse padrão de violência muito elevada, que também se dissemina na violência sexual, roubos e sequestros. Isso é uma marca da América Latina e faz parte da cultura, com padrões de comportamento violentos”, explica Samira Bueno.
A diretora-executiva lembra que em estados como São Paulo, houve redução de 80% dos homicídios em 20 anos, por causa da adoção de políticas públicas, mas também pela atuação do crime organizado. O estado é o berço do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do país.

“Isto tende a reduzir, em um primeiro momento, a violência letal porque não tem mais grupos rivalizando. Em São Paulo, é um grupo só, diferente do Rio de Janeiro, que tem várias facções e milícia em conflito mais latente. Isto reduz a violência, mas a que preço? Com uma imposição do medo através do crime”, defende Samira Bueno.

Esta frágil estabilidade pode ser quebrada se houver a chegada de um novo grupo rival, por exemplo.


Redução da violência letal


Entre as hipóteses para a redução da violência letal no país, os pesquisadores destacam:

  • Mudanças demográficas: redução do número de jovens no país com o envelhecimento populacional ou por serem vítimas de assassinatos;
  • Políticas de prevenção à violência ou de integração policial;
  • Ação do crime organizado: quando não há rivalidade entre facções ou milícias, há uma queda nos indicadores de violência;
  • Controle de armas e mudanças recentes na legislação.

No entanto, a ausência de uma política nacional de Segurança Pública, segundo Renato de Lima, dificulta o enfrentamento de forma integrada no país.

“Não há uma política nacional de segurança pública pactuada. Na verdade, se vai cair ou se vai crescer [indicadores], vai depender de fatores estruturais, como dinâmica demográfica e questões de ação, mas vai depender, até de certa forma, do acaso”, acredita.

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