Namorada nega que motorista do Porsche que causou acidente com morte tenha bebido antes de dirigir

A namorada de Fernando Sastre de Andrade Filho, motorista do Porsche que causou um acidente com morte no dia 31 de março na Zona Leste de São Paulo, falou por quase duas horas na delegacia que investiga o caso e negou que ele tenha bebido antes de dirigir.

O depoimento dela foi dado nesta terça-feira (9) no 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, que investiga as causas e eventuais responsabilidades pela morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana. Ele dirigia um Sandero, quando foi atingido na traseira pelo carro de luxo na Avenida Salim Farah Maluf. Câmeras de segurança gravaram a batida.

A namorada de Fernando foi depor acompanhada de quatro advogados, que também defendem o namorado dela. Nenhum deles conversou com a imprensa, que aguardava do lado de fora da delegacia. O g1 teve acesso ao depoimento dado pela namorada de Fernando.

Fernando não bebe quando dirige, diz namorada

A Polícia Civil queria saber da jovem se o empresário ingeriu bebida alcoólica, se ele dirigia em alta velocidade e por que ela não quis voltar para casa no carro com ele.

Fernando é suspeito de ter assumido o risco de matar a vítima porque teria consumido bebida alcoólica e dirigia acima do limite de velocidade. Algumas testemunhas contaram que ele bebeu “alguns drinks”, tinha sinais de embriaguez e transitava bem acima dos 50 km/h permitidos para a via.

Mas, diferentemente do que as testemunhas disseram à polícia, a namorada de Fernando contou que ele não ingeriu bebida alcoólica por estar dirigindo o seu Porsche. E que, por namorarem há oito anos, o casal sempre combinou que quando um dos dois beber, o outro não bebe.

Segundo a namorada de Fernando, os dois se encontraram na noite de sábado (30) com um amigo dele, Marcus Vinicius Machado Rocha, e a namorada de Marcus, num restaurante. O casal de amigos estava em outro carro.

A namorada de Fernando também disse que, nesse local, somente ela e Marcus tomaram bebidas alcóolicas. Disse ainda que o motorista do Porsche e a namorada do amigo dele não ingeriram nada com álcool porque os dois estavam dirigindo.

Depois, os quatro amigos saíram do restaurante e seguiram em seus carros até uma casa de pôquer, segundo a namorada de Fernando. Lá, segundo ela, seu namorado não bebeu álcool também, mas jogou. E como ele estava ganhando dinheiro com isso, não queria ir embora. Isso teria provocado uma discussão entre os dois porque ela queria ir para casa.

E, segundo o depoimento, quando decidiram sair da casa de pôquer, essa discussão entre eles continuou, até que ela decidiu não voltar para casa no carro de Fernando. Com isso, o amigo, Marcus, foi para o banco do carona do carro de luxo para ir embora com o amigo. E a namorada do motorista do Porsche acabou entrando no outro carro, que era guiado pela namorada de Marcus.

A discussão descrita acima foi gravada por câmeras de segurança na rua onde fica a casa de pôquer.

Namorada não cita alta velocidade

Essa versão acima, dada pela namorada de Fernando, é diferente do que a namorada de Marcus contou à polícia. A outra jovem disse que os quatro amigos haviam bebido “drinks” no restaurante, sem especificar se eram bebidas alcoólicas, e depois seguiram para a casa de pôquer, onde não sabe se Fernando e Marcus beberam mais.

A namorada do amigo disse também que, na hora de irem embora, viu a namorada de Fernando discutir com ele porque o rapaz estava “alterado”. E que Marcus se ofereceu para dirigir o Porsche para ele, mas Fernando não deixou. Então, Marcus foi no banco do carona do carro de luxo, que foi guiado por Fernando. E a namorada de Fernando acabou indo com ela em outro carro.

A namorada de Fernando também não comentou no seu depoimento sobre os sinais de embriaguez, voz pastosa e andar cambaleante que seu namorado apresentava, segundo uma testemunha que socorreu às vítimas após a batida falou à polícia. Essa mesma testemunha ainda contou à TV Globo ter visto garrafas vazias dentro do Porsche, sem saber se eram de bebidas alcoólicas.

Outro ponto divergente no depoimento da namorada de Fernando e da namorada de Marcus é o fato de que a primeira não cita se o motorista do Porsche andava em alta velocidade. Já a segunda disse que o carro de luxo “acelerou” e, como ela guiava devagar o outro carro, o perdeu de vista.

A namorada de Marcus disse ainda que emprestou seu celular para a namorada de Fernando ligar para ele. E que souberam que havia ocorrido um acidente. A namorada do motorista do Porsche também não tocou nesse assunto.

Motorista do Porsche responde por morte

Fernando foi indiciado por homicídio por dolo eventual, lesão corporal e fuga do local do acidente. Ele responde aos crimes em liberdade.

A Justiça já negou dois pedidos de prisões feitos pela polícia para o empresário. Apesar disso, impôs medidas restritivas a ele:

Pagamento de fiança de R$ 500 mil em até 48 horas para garantir uma eventual reparação futura ao amigo ferido e à família de Ornaldo Viana, que morreu;
Suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH);
Proibição de sair da cidade por mais de oito dias;
Apreensão do passaporte;
Não pode se aproximar de Marcus Rocha, o amigo e sobrevivente do acidente, nem de testemunhas e familiares por no mínimo 500 metros de distância;
Proibição de frequentar o restaurante e a casa de pôquer onde foi antes do acidente;
Entrega do celular em até 24 horas para a perícia verificar as ligações e mensagens que recebeu da mãe dele quando ocorreu o acidente.

Fernando foi interrogado pela polícia e negou ter fugido e estar embriagado, mas admitiu que guiava “um pouco acima do limite” da avenida, e não conseguiu desviar do carro de Ornaldo, que havia desacelerado. O empresário não soube informar, no entanto, a velocidade em que estava no momento da colisão.

A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche. O laudo será feito pelo Instituto de Criminalística (IC).

Liberação pela PM e fuga

A Polícia Militar (PM), que atendeu a ocorrência, acabou liberando o motorista do Porsche para sair do local do acidente sem fazer o teste do bafômetro nele. O equipamento poderia indicar se o empresário havia bebido álcool enquanto dirigia, o que é crime.

Os policiais militares alegaram que a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, também foi ao local do acidente e disse que levaria o filho para tratar de um ferimento num hospital. Mas quando os agentes da PM foram depois a unidade médica, não encontraram nenhum dos dois.

A Corregedoria da PM apura se se os policiais militares que liberaram Fernando sem fazer o teste do bafômetro erraram no procedimento. A Ouvidoria da Polícia pediu as imagens das das câmeras corporais dos agentes que atenderam a ocorrência para serem analisadas.

Para a Polícia Civil o motorista do Porsche havia fugido. Depois de 38 horas, ele se apresentou espontaneamente na delegacia que investiga o caso.

A investigação também apura se Daniela cometeu crime de fraude processual pelo fato de a mãe de Fernando, segundo a investigação, ter impedido o motorista do Porsche de fazer teste do bafômetro e ter supostamente mentido ao dizer que o levaria a um hospital, mas não o fez.

Defesa cita ‘fatalidade’ e família de morto alega ‘injustiça’

A defesa de Fernando divulgou nota à imprensa informando que seu cliente não bebeu e que o acidente foi uma “fatalidade”.

Ele é gerente de uma das empresas da família e ganha R$ 15 mil de salário. Há cinco anos, foi aprovado em uma universidade privada da capital paulista, o Mackenzie, onde cursou engenharia civil por algum tempo. Segundo a instituição de ensino, ele não está matriculado lá desde 2021.

“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu nesta segunda em seu Instagram, Luam Silva, filho de Ornaldo. O motorista por aplicativo deixou mais dois filhos e e esposa.

O amigo de Fernando, Marcus continuava internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Luiz Anália até a última atualização desta reportagem. Ele teve quatro costelas quebradas no acidente.

Os médicos retiraram seu baço e colocaram drenos nos pulmões por causa das lesões causadas pela batida. O rapaz saiu do coma induzido, mas não há previsão de alta.

Fonte: G1

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