Não é só Ronaldinho: como são os rolês aleatórios que pagam até R$ 800 mil a ex-craques da Seleção

Faltavam 30 minutos para servir o café da manhã quando Ronaldinho, sem dormir, chegou ao saguão do hotel em Chennai, no sul da Índia. Estava cansado da viagem, sentindo o fuso pós-Londres, mas acima de tudo faminto. Então quando as portas se abriram, às 6h30 da manhã, o campeão mundial, sem hesitação, mandou uma macarronada direto no prato.

– Todo mundo falou: “Já está aqui? Batendo almoço logo de manhã” – conta o organizador do evento, Ricardo Ximenes, aos risos.

Ali, o cardápio inusitado marcava apenas o início de uma viagem de cinco dias, que levou uma dezena de campeões mundiais, em voos classe executiva, com cachês pagos, para um evento de três atos na Índia: encontro com crianças, jantar beneficente e um jogo para 23 mil pessoas no Estádio Jawaharlal Nehru. O Brasil venceu por 2 a 1.

Cruzaram o oceano, assim como Ronaldinho, sete campeões da Copa de 2002 e quatro de 1994. Entre eles, Rivaldo, Lúcio, Edmilson, Gilberto, Júnior, Amaral, Viola, Paulo Sérgio e até Dunga, que fez o papel de técnico do time. Também estiveram atletas como Giovanni, de 1998, e Ricardo Oliveira, que perdeu a Copa de 2006 por uma ruptura de ligamento.

– Muitas vezes só vamos nos encontrar nesses momentos, então terminava o almoço e a gente ficava conversando, cada um contando sua história – diz Paulo Sérgio, tetracampeão em 1994.

O trabalho de convencimento? Funciona na base da confiança e credibilidade, diz Ximenes, uma vez que os atletas não querem, como dizem, “entrar em uma barca”.

Mas o financeiro também ajuda, claro. São pagos cachês de cinco a 10 mil dólares em média para cada atleta, que por vezes levam familiares, acompanhantes, e têm logística de visto, hospedagem, alimentação e segurança mobilizados e custeados pela organização.

O cachê mais caro já pago pela organização foi de 150 mil dólares. Não pelo cacife do atleta em questão, mas pelo que o evento exigia. Na negociação, chegou-se a este valor. O dinheiro, por sua vez, vem do contratante internacional interessado, enquanto os repasses são feitos pelo empresário.

– Pago os atletas antes da viagem. Até porque tem jogadores que já deixaram de receber de outras organizações, empresas que não pagaram – justifica ele, explicando o próprio método e sem revelar quem foi o jogador “mais caro”.

É uma verdadeira indústria, especializada em eventos com selecionado brasileiro fora do país.

Investimento é milionário. Quem paga a conta?
A Brazil Soccer Academy, empresa gerenciada por Ximenes, está há 20 anos no ramo, levando atletas ao Vietnã, Burundi, Uganda, Quênia e Madagascar, por exemplo, com duas frentes de trabalho: a “business” e a humanitária.

Na humanitária, atua em centros de refugiados e cidades em situação de calamidade. Foi ao Iraque e Turquia, por terremotos em 2023, à Síria em 2019 e Mianmar, em 2008, para reconstruir uma cidade destruída pelo ciclone Nargis, que deixou mais de 31 mil mortos no país.

– Fizemos amistosos nos países em volta do Sudeste Asiático, vendendo ingressos e levando recursos para reconstruir escolas, creches. Tento servir de alguma maneira através do futebol. Na Síria, em 2019, acabei adotando minha filha, uma menina que perdeu o pai e a mãe – conta Ximenes.

No business, a história é diferente. A empresa é procurada pelas instituições interessadas e faz uma seleção, com visitação ao local, para decidir que eventos realizar. No avião voltando da Índia, por exemplo, Ximenes diz que conversava simultaneamente com outros cinco interessados no projeto.

A meta é trabalhar com dois jogos por ano, três no máximo. Isso porque cada evento precisa de três a quatro meses de organização, por uma questão de logística, valores altos e a agenda dos jogadores. O investimento? Cerca de um milhão de dólares para tirar do papel.

Os contratantes entram com todo o dinheiro. A empresa brasileira, por sua vez, cobra um valor fixo para organizar o time e acaba prestando consultoria sobre captação de recursos através de patrocínio, televisão e jantares.

As viagens incluem ex-jogadores profissionais brasileiros, mas principalmente nomes com passagem pela seleção brasileira. Nunca antes, contudo, houve tantos campeões reunidos em um mesmo evento como na Índia.

Os bastidores na Índia
A viagem começou com a inauguração de uma escolinha de futebol em Chennai, chamada Football Pro Soccer Academy, em que Rivaldo e Ronaldinho cortaram as faixas amarelas de abertura, rodeados de 100 crianças e familiares, escolhidas para terem acesso a fotos e autógrafos.

Uma delas, conta Ximenes, vestia uma camisa customizada com o nome “Dinho” nas costas, reproduzida pela criança dias após o lançamento da Nike em homenagem ao uniforme do primeiro time em que Ronaldinho jogou quando era mais novo.

Depois da escolinha, um jantar de gala, com a participação dos atletas – Ronaldinho desfrutando de alta culinária, dessa vez -, recebeu 150 participantes e cobrou ingressos a preço de R$ 2 mil. A meta era levantar fundos para uma organização indiana que trabalha com crianças em situação de vulnerabilidade.

Até que chegou o dia do jogo. Era o encontro de “Lendas do Brasil” contra o All Stars da Índia, na esperança de invocar nostalgia e reacender o interesse pelo futebol na cidade, marcada pelo consumo do cricket. Tanto que o estádio recebe até 80 mil pessoas em jogos do esporte mais famoso no país, mas é raro encher com futebol.

Ronaldinho chegou ao estádio em uma luxuosa BMW, sequestrou as atenções para si, e Ximenes conta que até o exército precisaram mobilizar para fazer a segurança dos atletas até o estádio.

É justificável pelo valor dos ingressos, que custavam 100 dólares no setor mais barato, podendo chegar a 200 dólares no mais caro. É o equivalente a um salário mínimo na Índia. Diante dos 23 mil que puderam pagar, portanto, o Brasil disputou dois tempos de 35 minutos, com aplausos sempre que Ronaldinho tocava na bola.

– Lógico que todo mundo está lá para se divertir, ninguém tem mais a mesma força, mas a pressão é pra ganhar – conta Paulo Sérgio.

E assim foi. Viola, campeão em 1994, abriu o placar, Bibiano Fernandes empatou pela Índia, e Oliveira garantiu a vitória do Brasil por 2 a 1. Encerrando, com bolas lançadas às arquibancadas, a visita inusitada em mais um projeto da indústria de campeões.

Fonte: GE

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