Droga promete encurtar o tempo que você leva para adormecer, reduzir o número de despertares noturnos, aumentar a duração total do sono e melhorar a qualidade dele.
Desenvolvido na década de 1980, o zolpidem tornou-se nos últimos anos um medicamento substituto dos benzodiazepínicos — categoria que inclui Rivotril (clonazepam), Valium (diazepam) e Frontal (alprazolam) — para indivíduos que se queixam de dificuldade para dormir.
Trata-se de um fármaco sedativo-hipnótico que começou a ser vendido nos Estados Unidos em 1993, sob o nome comercial Ambien, após cinco anos de uso na Europa.
No Brasil, o zolpidem foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2007.
O medicamento de referência é o Stilnox, produzido pela farmacêutica Sanofi. Mais recentemente, surgiram dezenas de genéricos e similares.
O zolpidem faz parte de uma família de drogas chamadas de Z-hipnóticos, que inclui também outros medicamentos, como o zaleplon e a zopiclona.
Eles entram na categoria de não benzodiazepínicos, por não possuírem em suas formulações anéis de benzeno e diazepina fundidos.
Na prática, essa diferença química faz com que as drogas Z tenham uma particularidade na indução ao sono.
Os benzodiazepínicos causam sonolência, mas também têm propriedades ansiolíticas, relaxantes musculares e anticonvulsivantes, que costumam fazer com que as pessoas acordem grogues pela manhã.
Rivotril, Valium, Frontal e outros, na verdade, são ansiolíticos e não devem ser usados para induzir ao sono. São remédios que se destinam ao alívio de crises agudas de ansiedade ou, em alguns casos, para convulsões.
No caso dos Z-hipnóticos, mantém-se a indução ao sono com quase nenhuma das outras três características dos benzodiazepínicos.
O zolpidem, particularmente, tornou-se popular por fazer a pessoa dormir rapidamente sem causar sonolência no dia seguinte, desde que ela durma ininterruptamente de sete a oito horas.
De acordo com as bulas aprovadas pela Anvisa, o zolpidem “é destinado ao tratamento da insônia (dificuldade para dormir), que pode ser ocasional (eventual), transitória (passageira) ou crônica (que dura há muito tempo)”.
Como funciona
O zolpidem atua em áreas do cérebro responsáveis pelo sono. O comprimido ingerido costuma agir dentro de uma hora, mas há versões sublinguais que podem fazer com que a pessoa adormeça ainda mais rápido.
O medicamento promete encurtar o tempo que você leva para pegar no sono, reduzir o número de despertares noturnos, aumentar a duração total do sono e melhorar a qualidade dele.
As apresentações são em comprimidos de 10 mg e de 12,5 mg. Também há versões sublinguais de 5 mg e 10 mg, além de uma versão de 6,25 mg de liberação prolongada, indicada para quem desperta muito durante a noite.
Apenas versões acima de 10 mg, como é o caso do Stilnox de 12,5 mg, são de tarja preta. Todas as demais são em caixas com tarja vermelha e podem ser vendidas mediante apresentação de receita branca em duas vias, que não requerem notificação de receita (uma espécie de boleto de cor azul).
Zolpidem com mais de 10 mg exige receita azul e tem tarja preta
Zolpidem com mais de 10 mg exige receita azul e tem tarja preta
EDU GARCIA/R7 – 21.11.2022
Contraindicações
O NHS (Serviço Nacional de Saúde) do Reino Unido recomenda aos seguintes pacientes que tenham cautela, além de acompanhamento médico, ao tomar zolpidem:
• doentes renais ou hepáticos;
• pessoas diagnosticadas com miastenia grave (doença que causa fraqueza muscular);
• indivíduos que sofrem de apneia do sono;
• pessoas com algum transtorno mental;
• histórico de abuso de álcool ou drogas; e
• quem esteja tentando engravidar, gestante ou lactante.
Além disso, a bula sugere “acompanhamento mais estrito” de idosos que estejam fazendo uso da medicação, devido à possibilidade de apresentarem sensibilidade maior.
Efeitos adversos
O zolpidem pode causar alguns problemas imediatos em certas pessoas, incluindo sonolência no dia seguinte, sobretudo em quem não consegue ter uma noite completa de sono ou associa o medicamento a álcool ou outro depressor do sistema nervoso central.
O risco, nesse caso, envolve a capacidade de dirigir veículos ou operar máquinas, havendo possibilidade de acidentes. No caso dos idosos, por exemplo, existe mais risco de quedas.
Porém, o efeito adverso mais perigoso do zolpidem é a parassonia — o indivíduo entra em um estado de sonambulismo.
Esse efeito adverso é objeto de vários relatos nas redes socais de pessoas que tomaram o medicamento, não dormiram e fizeram coisas das quais não se lembravam no dia seguinte. Há histórias de compras online, gente que limpa a casa, faz comida, envia mensagens a amigos e parentes…
Para especialistas, o sonambulismo causado pelo zolpidem é um perigo e deve ser objeto de discussão com o médico que prescreveu o medicamento.
“Naquele momento de sonambulismo, existe o risco de suicídio, de machucar outra pessoa, de uma série de acidentes”, alerta a neurologista Dalva Poyares, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e integrante do corpo clínico do Instituto do Sono.
Período de uso
O período de uso do zolpidem deve ser o menor possível, afirma a neurologista Giuliana Macedo Mendes, presidente da Regional Centro-Oeste da ABS (Associação Brasileira do Sono).
“[É possível] você usar uma medicação em uma insônia pontual ou circunstancial, aquela insônia que pode acontecer mediante a um sofrimento agudo. Então, é um paciente que perdeu um ente querido, que ficou desempregado, teve uma separação… Algum estresse agudo na vida emocional pode gerar dificuldade para dormir. Isso não é transtorno de insônia”, explica.
A própria bula do zolpidem diz que “o uso prolongado do zolpidem não é recomendado e a duração do tratamento, assim como com todos os hipnóticos, não deve ultrapassar quatro semanas”.
Segundo Giuliana, muitos médicos das mais diversas especialidades costumam prescrever o zolpidem assim que surge a primeira queixa de que a pessoa tem dificuldade para dormir.
Ela salienta que o tratamento para insônia é baseado em mudanças comportamentais, algo também reforçado em um artigo escrito por pesquisadores dos EUA e disponível na Biblioteca Nacional de Medicina.
“O zolpidem não é recomendado para a população em geral como tratamento de primeira linha devido ao seu alto potencial de abuso”, afirmam os autores.
A retirada em casos em que o paciente já toma o zolpidem há bastante tempo deve ser feita sob supervisão médica.
“A interrupção abrupta de um tratamento com hipnóticos em posologia e duração acima das recomendadas pode provocar insônia de rebote transitória (reaparecimento de insônia às vezes mais grave do que aquela que motivou o tratamento) e pode também causar outros sintomas (alterações do humor, ansiedade, agitação). Portanto, a posologia deve ser reduzida gradualmente, e o paciente deve ser informado”, diz a bula do zolpidem.
Fonte: Com informações da Agência Estado