Brasil Onda de calor: temperatura no Rio alcançará níveis superiores aos que o corpo suporta; sensação térmica pode alcançar 62,7 graus Redação14 de fevereiro de 2025053 visualizações O maçarico está ligado no Brasil, sob intensa onda de calor, mas a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em especial a capital, ferve ainda mais. A receita para o sufoco combina os mesmos fatores que cozinham em fogo alto a maior parte do país com peculiaridades locais. O resultado é que, até pelo menos o fim da próxima semana, a temperatura alcançará níveis superiores aos que o corpo humano suporta sem sentir, no mínimo, mal-estar, alertam cientistas. Frequentador assíduo do topo do ranking das capitais mais quentes do país, o Rio estará entre as cidades com as maiores máximas, de acordo com as previsões dos principais serviços de meteorologia. Para próxima segunda-feira, por exemplo, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inemet) prevê 40 graus. Caldeirão à cariocaEle explica que há a ilha urbana de calor — a estufa urbana feita de asfalto, emissões de veículos e indústrias e prédios. Além disso, aspectos da geografia, como o relevo, influenciam. Tanto a capital quanto a também tórrida Baixada Fluminense ficam em terreno baixo, cercado por montanhas. O calor fica confinado. E, quando há condições atmosféricas de grande escala favoráveis às altas temperaturas, como o sistema de alta pressão atual, fica horrível, frisa Menezes. A alta pressão, ou anticiclone, esquenta o ar por compressão. O sistema empurra e comprime o ar para baixo e faz com que esquente e seque nesse processo, impedindo a formação de nuvens. E o ar seco ainda esquenta mais depressa com a radiação do Sol. Se não bastasse, o Rio está no fim da linha dos rios voadores da Amazônia. O diretor de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, o meteorologista Marcelo Seluchi, diz que eles já chegam no estado desprovidos de muito de sua umidade, perdida ao longo do caminho, mas com o calor amazônico em ponto de bala. O motivo é que existe uma relação entre temperatura e umidade chamada temperatura potencial equivalente. Se parte da umidade é perdida, a temperatura aumenta. Suplício térmicoEspera-se na capital temperaturas diárias superiores a 36 graus — medidos na sombra — e sensação térmica acima de 50 graus. Vale sempre lembrar que nas ruas, sob o sol, a temperatura é maior que a aferida pelas estações meteorológicas. Por padronização, elas ficam em locais à sombra nas horas mais quentes e com sensores a pelo menos 1,5 metro do solo. Os 40 graus de máxima previstos pelo Inmet para a próxima segunda-feira, com até 80% de umidade, podem significar uma intolerável sensação térmica de 62,7 graus, se a máxima coincidir com 60% de umidade. Mas nem precisa tanto: 39 graus com 50% são suficientes para se chegar a 51,6 graus de sensação térmica. Muito antes disso qualquer pessoa sente mal-estar. A tolerância ao calor varia de um indivíduo para outro. Mas o risco, independentemente da idade e da boa saúde, começa quando a temperatura do ar supera a do corpo humano, de 36,5 graus, ensina Fábio Gonçalves, professor de biometeorologia da Universidade de São Paulo (USP), um dos maiores especialistas do Brasil em conforto térmico. Acima de sua própria temperatura, o corpo precisa trabalhar mais para se manter em equilíbrio. Com a temperatura igual ou superior a 37 graus com mais de 70% de umidade do ar, qualquer pessoa pode ter problemas de saúde, diz Gonçalves. É prevista também umidade alta, o que amplifica o desconforto térmico porque o suor não evapora levando o calor que o corpo tenta expelir embora. Porém, não há previsão de chuva capaz de fazer o termômetro baixar um pouco. Seluchi diz que os modelos descartam a chance de frentes frias ou uma Zona de Convergência do Atlântico Sul nos próximos dez dias. Verão a secoO Rio, na verdade, tem tido um verão sem chuva. Dados revelados com exclusividade pela pesquisadora do Cemaden Ana Paula Cunha mostram que de 1º de janeiro a 10 de fevereiro, em cerca da metade da capital choveu 33% a 40% da média. Nem a metade do que deveria. Além disso, a chuva está concentrada. De 1º de novembro a 10 de fevereiro, a cidade do Rio teve 71 dias sem chuva. Mas observar apenas a média oferece uma visão enganosa. O percentual de chuva está entre 70% e 80% da média. Mas a maioria dos dias (71 de 102) foi seca. — Podemos inferir que as chuvas foram muito concentradas. Isso favorece desastres por excesso de água, ainda que esteja chovendo abaixo da média — salienta Cunha. Mar sem refrescoResta o mar, mas ele não está para refresco. O Atlântico influencia muito o clima do Rio e, nesta época do ano, seria esperado que estivesse bem mais frio do que o continente. Isso ajudaria a gerar vento e a reduzir a temperatura. Mas o Atlântico está muito quente. A brisa marinha é resultado do contraste da temperatura da água mais fria do mar com a quentura da terra; mas agora ambos estão muito quentes, e ela praticamente desaparece. Alívio de verdade não é esperado antes de março. Nível de calor 3O município do Rio está no nível de calor 3 (NC3) desde a última segunda-feira (dia 10). O nível de calor 3 caracteriza-se quando há registro de índices de calor alto (36 graus a 40 graus) com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos. Fonte: OGLOBO