Nove anos após a chegada a São Paulo da Uber, a primeira empresa de transporte por aplicativo a atuar na cidade, a capital paulista viu o número de passageiros transportados por ônibus despencar. No período, marcado também pela pandemia de Covid-19 e pela inauguração de estações do Metrô, a queda foi de 29%, ou seja, quase 3 em cada 10 passageiros.
Para especialistas em transporte, vários fatores podem ajudar a explicar a mudança no perfil da mobilidade, como a popularização dos aplicativos de transporte.
A Uber chegou a São Paulo em junho de 2014. Nos 12 meses que se seguiram, os ônibus de São Paulo transportaram 2,92 bilhões de pessoas, considerando que parte dos passageiros faz mais de uma viagem.
O R7 comparou esse número com o de períodos semelhantes seguintes. Entre julho de 2022 e junho de 2023, por exemplo, foram transportados 2,07 bilhões de passageiros, uma queda de aproximadamente 29%.
Os apps foram autorizados pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) por meio de um decreto, em maio de 2016. A partir de então, a queda de passageiros de ônibus foi constante. Já na pandemia, em razão das políticas de quarentena, o número de passageiros despencou — entre 2020 e 2021, o sistema teve apenas a metade dos passageiros de alguns anos antes.
Os números cresceram com o fim do isolamento social, mas ainda estão longe dos parâmetros de 2014.
Especialistas
Para o consultor em transportes Horácio Figueira, a tendência é que o número de passageiros não retorne ao patamar anterior em razão das mudanças de comportamento.
“Tem a questão do home office, que ficou para parte das empresas e dos profissionais. E os serviços de entregas, que evitam deslocamentos de passageiros”, avalia.
O especialista cita ainda a própria atratividade dos aplicativos de transporte. “Dependendo da viagem, o usuário entende que a comodidade e o preço oferecido são atrativos e há um melhor custo-benefício em relação ao transporte público. Ainda mais quando esse passageiro está acompanhado de mais pessoas”, afirma.
Para Figueira, os aplicativos não só roubaram parte das viagens do ônibus, mas também criaram novos deslocamentos que antes não eram feitos.
Empresas
Atualmente, 18 empresas estão credenciadas para atuar como app de transporte em São Paulo. Recentemente, a prefeitura até lançou um serviço próprio, o MobizapSP. O mercado, entretanto, é amplamente dominado por Uber e 99.
Segundo Horácio Figueira, o transporte público deve permanecer como prioridade das administrações públicas. Em São Paulo, ele defende investimentos em diferentes modais, especialmente em corredores de ônibus.
Metrô e crise
Para o presidente da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), Aílton Brasiliense, o impacto do mercado de aplicativos no transporte público é certo. Mas há vários outros fatores, segundo ele.
Além da mudança de hábitos e da pandemia, ele cita a economia do país em si. Dados como PIB e número de trabalhadores empregados foram mais altos no início da década passada. Em seguida, alternaram anos de queda e de baixo crescimento, coincidindo com a redução dos passageiros de ônibus.
Ele aponta ainda a inauguração de estações e linhas de Metrô, que acabam capturando passageiros dos coletivos.
No período analisado, houve a expansão da Linha 5-Lilás até a estação Santa Cruz, conectando-se com as linhas 1-Azul e 2-Verde, além da expansão da Linha 4-Amarela até a Vila Sônia e a implantação da Linha 15-Prata (monotrilho). A Linha 9-Esmeralda de trem, administrada pela ViaMobilidade, também ganhou estações.
Prefeitura
A Prefeitura de São Paulo afirmou que, por meio da SPTrans, trabalha de forma contínua para melhorar o sistema de transporte público municipal, “tornando-o mais atrativo, confortável e ágil”. Lembrou que a gestão municipal estuda a possibilidade de implantar a tarifa zero nos ônibus de São Paulo.
A frota da cidade tem sido mantida acima da demanda apresentada desde março de 2020. Atualmente, o sistema de ônibus recebe, em média, 7,2 milhões de embarques de passageiros por dia, o que representa 78% dos passageiros de antes da pandemia, enquanto a frota do sistema de transportes está em 93,13% em toda a cidade.
A tarifa de ônibus é mantida no valor de R$ 4,40 há três anos, “visando a garantir o acesso da população ao transporte público, sem impactar no orçamento das famílias”, segundo a administração.
Desde janeiro de 2021, 2.893 veículos mais modernos foram incorporados à frota. Além disso, até 2024, a cidade deverá contar com 2.600 veículos elétricos e ampliar a frota com ar-condicionado, USB e conexão de internet por wi-fi.
Também estão sendo projetados novos corredores e terminais e implantadas faixas exclusivas que contribuem para uma maior eficiência do sistema, reduzindo o tempo de viagem. Está prevista ainda a implantação do Aquático SP, o primeiro modo de transporte hidroviário por embarcações na cidade.
Fonte: r7