A queda de braço entre Elon Musk, dono da rede social X, antigo Twitter, e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), tem reflexos que vão além da discussão que motivou a suspensão da plataforma no Brasil, desde o último sábado (31). Produtores de conteúdo que tinham o aplicativo como fonte de renda se veem órfãos e já sentem o impacto no bolso.
“Eu tinha acabado de entregar a última publicação paga quando o X caiu. Eu estava prestes a fechar com outro anunciante, mas a negociação foi para o brejo”, contou ao R7 a advogada, publicitária e produtora de conteúdo Babi Magalhães sobre as publicidades que faz na web.
Aos 34 anos, a mineira tem a maior parte da renda vinda do trabalho nas redes sociais. O perfil no X é o maior sob administração dela. São quase 400 mil seguidores, contra 72 mil no Instagram. Na plataforma de textos curtos, a ‘tuiteira’ se dedica a comentar séries, programas de TV e reality shows. “Quase 95% dos contratos que eu fecho são para ações no X”, comenta.
Babi não revela valores que movimenta atualmente, mas conta que começou a ganhar dinheiro na internet em 2016, com um contrato para fazer 10 publicações no então Twitter, ao custo de R$ 5.000. A cifra já é maior atualmente. Inclusive, o crescimento na rede a permitiu deixar de lado o trabalho como advogada para se dedicar aos estudos para o concurso público de promotora de Justiça.
Na tentativa amenizar a incerteza com os contratantes, a advogada passou a se dedicar à rede social BlueSky, que tem sido procurada pelos órfãos do X. “Eu imaginava que a plataforma iria cair porque, como advogada, eu li as decisões e imaginei que o ministro Alexandre de Moraes não voltaria atrás. Mas a gente sempre acha que não vai acontecer. Quando aconteceu, pensei: e agora, para onde eu vou?”, relembra.
Apesar de se manter informada sobre o processo envolvendo o X, Babi diz que a “ficha ainda não caiu” em relação à suspensão. “Acho que só não vai cair mesmo se a rede social não voltar até o Rock In Rio, que é uma época em que fechamos muitos contratos”, comenta sobre o festival de música que se inicia no próximo dia 13 de setembro.
“Eu sei que sou privilegiada. Ao contrário de muitos tuiteiros que conheço, eu tenho duas profissões. Se tudo der errado, eu volto a trabalhar em agência ou volto a advogar, mas espero não precisar ativar a cartela de clientes do direito e poder continuar estudando para os concursos”, comenta sobre o futuro.
Babi não é a única com o desafio. Em Belo Horizonte, o influenciador digital Matheus Caseca se viu na mesma situação. O jovem de 29 anos que começou a ‘tuitar’ profissionalmente em 2021 já teve um trabalho cancelado por causa da suspensão do X e está atento às decisões para definir o futuro com os contratantes. “Alguns me deram uma semana para ver como vai ficar, se vai voltar ou não, aí depois disso vamos conversar novamente”, comenta.
No X, onde tem quase 60 mil seguidores, Caseca é conhecido com Odontinho. Ele produz conteúdo sobre programas de TV e a vida dos famosos. Por lá, o número de seguidores é quase cinco vezes maior que na redes social de fotos.
“Eu sempre assisti a reality shows e novelas e gostava de comentar no Twitter, mas não todos os dias. Era raro. Em 2020, um amigo sugeriu que eu investisse mais nesses comentários, passando a comentar diariamente sobre todos os programas e famosos. Durante a pandemia, em 2021, me dediquei 100% a isso e, com o tempo, foi ganhando proporções cada vez maiores e eu sigo lá até hoje”, detalha sobre o destaque com as publicações virais.
“Eu fiquei bastante apreensivo e sem saber o que fazer porque eu tenho trabalhos para serem entregues e o bloqueio atrapalhou tudo o que havia planejado”, desabafa sobre a suspensão da plataforma que também representa a maior parte de sua orçamento.
Entenda a suspensão do X
O X foi suspenso por uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, nesta última sexta-feira (30). O magistrado tomou a decisão após a plataforma não atender à ordem de indicar um representante legal no país. O ministro também estabeleceu uma multa diária de R$ 50 mil a quem tentar usar a plataforma por meio da tecnologia de rede privada virtual, conhecida como VPN, que simula a localização de um usuário em outro país para burlar o bloqueio.
O Supremo Tribunal Federal também travou as contas da Starlink Holding, outra empresa do bilionário Elon Musk, devido ao descumprimento de decisões.
A situação do X foi analisada pelo plenário do STF nesta segunda-feira (02). Os cinco ministros mantiveram a suspensão, por unanimidade. Os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux acompanharam o voto de Moraes, relator do caso.
Em seu voto, Moraes afirmou que o Marco Civil da Internet prevê a responsabilização civil do provedor de aplicações de internet por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. “Novamente, Elon Musk confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão. Confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos”, escreveu o ministro.
Pelas redes sociais, Elon Musk tem feito reiteradas críticas à barreira imposta à plataforma.
Fonte: r7