Mundo Os bastidores da maior troca de prisioneiros entre EUA e Rússia desde a Guerra Fria Redação2 de agosto de 2024071 visualizações Quando um conhecido assassino russo e um correspondente de um jornal americano embarcaram em aviões separados na Turquia na quinta-feira (1º), isso marcou a conclusão de um acordo secreto e dramático para a troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente, que durou anos. As origens desse acordo, que envolveu duas dúzias de prisioneiros, remontam a 2022. No entanto, as negociações nos bastidores entre a Rússia, os EUA e quatro países europeus se intensificaram no início deste ano, e ainda mais nas últimas semanas, com a divulgação de um acordo final. Essas negociações foram muitas vezes difíceis, como era de se esperar. Até porque ocorreram num momento em que as tensões entre EUA e Rússia aumentaram por conta da guerra na Ucrânia. Na quinta-feira (1º), em uma ligação com repórteres, incluindo da CBS, parceira americana da BBC, representantes da Casa Branca forneceram um cronograma detalhado dos eventos. Segundo eles, o primeiro indício de que o governo de Vladimir Putin poderia estar aberto a um acordo surgiu no segundo semestre de 2022. EUA e Rússia estavam negociando a libertação de Brittney Griner, a estrela do basquete americano que foi presa por possuir óleo de Cannabis e enviada para uma colônia penal russa. Griner acabou sendo liberada no final de 2022 em uma troca pelo notório traficante de armas russo Viktor Bout. Foi durante essas conversas, disseram autoridades da Casa Branca, que a Rússia deixou claro que também queria garantir a libertação do assassino Vadim Krasikov, que cumpria pena de prisão perpétua na Alemanha por matar a tiros um homem em um movimentado parque de Berlim sob ordens diretas do Kremlin. Sullivan disse a seu colega alemão que a Rússia estava buscando meios de libertar Krasikov e perguntou se Berlim consideraria libertá-lo em troca de Alexei Navalny, o ativista anti-Putin e líder da oposição que estava detido na Rússia. A Alemanha, no entanto, estava relutante em libertar um criminoso que havia abertamente cometido um assassinato em seu território. Embora Sullivan não tenha recebido uma resposta definitiva de Berlim, as conversas iniciais em 2022, tanto entre os EUA e a Rússia quanto entre os EUA e a Alemanha, ajudaram a pavimentar o caminho para o acordo maior e mais complexo firmado nas últimas semanas, concluído na pista de um aeroporto turco sob intenso calor. Isso foi possível porque os dois lados sinalizaram, pelo menos até certo ponto, o que queriam. A Rússia deixou claro que queria Krasikov. E Washington não queria apenas Navalny, mas também Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval preso por acusações de espionagem na Rússia em 2018. Os elementos iniciais de um possível acordo de troca começaram então a tomar forma, mas ainda havia um longo caminho a percorrer. No final de março de 2023, um repórter do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, de 31 anos, de Nova Jersey, foi preso por agentes da inteligência russa durante uma viagem de reportagem. Sua detenção foi condenada pelos EUA e por seus aliados. Um dia depois, Biden instruiu Sullivan a fechar um acordo que traria o jornalista e Whelan para casa. Mas as conversas logo passaram desses diplomatas para os serviços secretos de inteligência, o que os EUA hesitaram em fazer, pois Gershkovich tinha sido acusado de espionagem e Washington temia que o envolvimento da CIA nas negociações apenas alimentasse essas acusações. No final de 2023, à medida que essas negociações tensas prosseguiam, os EUA entenderam que a libertação de Krasikov era fundamental para qualquer acordo bem-sucedido, segundo autoridades da Casa Branca. Foram feitas ofertas à Rússia que não incluíam o assassino de 58 anos. Todas foram rejeitadas. Como Krasikov estava preso na Alemanha e não nos EUA, Washington não tinha o poder de libertá-lo unilateralmente. No final de 2023 e no início de janeiro de 2024, Sullivan conversou com seu colega alemão quase que semanalmente, em um esforço para convencê-lo a trocar Krasikov e atender à principal demanda da Rússia para efetivar o acordo. A posição de Moscou, disseram eles, era, em última análise, que seus espiões presos deveriam ser devolvidos em troca dos americanos acusados de espionagem. Com isso em mente, os EUA trabalharam para encontrar mais espiões russos mantidos por seus aliados que pudessem fazer parte de uma ampla negociação. Autoridades dos EUA, diplomatas e funcionários da CIA viajaram pelo mundo em busca de governos amigos dispostos a libertar prisioneiros que se encaixassem nessa descrição, de acordo com o Wall Street Journal. Um sinal de seu sucesso veio na quinta-feira, quando os russos foram libertados das prisões na Polônia, Eslovênia e Noruega. Em fevereiro deste ano, o chanceler alemão Olaf Scholz se encontrou com o presidente Biden na Casa Branca. E, de acordo com o relato fornecido pela Casa Branca, eles discutiram opções para uma troca que incluía todas as pessoas-chave: Krasikov, Navalny, Whelan, Gershkovich. Também houve sinais positivos da Rússia. Em uma entrevista com o ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson, no início de fevereiro, Vladimir Putin falou sobre Gershkovich. “Não descarto que Gershkovich possa retornar à sua terra natal”, disse o presidente russo. Steve Rosenberg, editor da BBC sobre Rússia, classificou a declaração de Putin como “uma dica muito pública e pouco sutil de que Moscou estava aberto a fazer um acordo”. Provavelmente, o prisioneiro mais importante que poderia ter sido incluído na troca, Alexei Navalny, morreu em sua cela na Sibéria aos 47 anos. Amigos, seguidores e parentes, bem como muitos líderes estrangeiros, culparam Putin por sua morte. As autoridades russas disseram que ele morreu de causas naturais. Embora quase nada se soubesse sobre as negociações no momento de sua morte, Maria Pevchikh, colega de Navalny, disse abertamente que ele estava perto de ser libertado em troca de Krasikov. Na época, a BBC News não conseguiu verificar de forma independente essas alegações. O Kremlin, por sua vez, negou publicamente que um possível acordo tenha sido fechado. Na quinta-feira, no entanto, a Casa Branca confirmou que estava trabalhando para incluir Navalny no acordo, que acabou libertando da custódia russa três pessoas que haviam trabalhado diretamente com o opositor de Putin. Reconhecendo a importância da notícia e o risco que ela representava para essas negociações, ele disse que dali para a frente “seria um caminho um pouco mais difícil”. O acordo potencial teve que ser reestruturado, e os EUA e a Alemanha se reagruparam. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, realizou então duas reuniões importantes para ajudar a manter uma possível troca em andamento, disse à BBC uma alta fonte do governo americano. Em meados de fevereiro, ela participou em Munique, na Alemanha, da Conferência de Segurança, onde enfatizou a Scholz a importância de entregar Krasikov. Kamala Harris também se encontrou com o primeiro-ministro da Eslovênia, onde estavam detidos dois prisioneiros russos identificados pelos EUA como sendo de alta prioridade para Moscou. Ambos foram libertados na última quinta-feira. Então, nos últimos meses, o novo acordo, que obviamente não incluía mais Navalny, tomou forma na Casa Branca. Em junho, Berlim concordou em libertar Krasikov. O acordo foi submetido à Rússia. Em meados de julho, Moscou respondeu aceitando os termos do acordo e concordando com a libertação dos que estavam na lista detidos nas prisões russas. No entanto, quando as negociações estavam chegando à fase final, a política interna se impôs, com Biden sofrendo imensa pressão de dentro de seu próprio Partido Democrata para retirar sua candidatura à reeleição em novembro, após um fraco desempenho no debate com Donald Trump. De acordo com Sullivan, apenas uma hora antes de Biden anunciar, em 21 de julho, que não concorreria à reeleição, ele estava em uma ligação com seu colega esloveno finalizando a troca de prisioneiros. Como acontece com qualquer troca de prisioneiros de alto risco, o acordo não estava garantido, mesmo quando o avião estava a postos e as rotas dos prisioneiros para casa finalizadas. “Prendemos a respiração e cruzamos os dedos até algumas horas atrás”, disse Sullivan na tarde de quinta-feira. Depois, Biden postou uma foto dos americanos libertados juntos em um avião com destino a solo americano, junto com uma legenda curta. “[Eles] estão seguros, livres e começaram sua jornada de volta aos braços de suas famílias.” Esta reportagem foi traduzida e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto. Fonte: G1