Pagamento de R$ 15 mil por ano e cobrança de forma violenta por milícia no Centro de SP: veja como era feita a extorsão de ambulantes

Trabalhar nas ruas do Brás, Centro de SP, tem um preço e quem cobra é uma milícia formada por policiais militares. Esta é a conclusão da Corregedoria das Polícias e do Ministério Público que levou à Operação Aurora na manhã desta segunda-feira (16) em São Paulo.

Nove pessoas foram presas nesta segunda, entre elas cinco policiais militares. Outro PM e uma policial civil estão foragidos. Durante a ação, os agentes encontraram R$ 145 mil na casa de um dos investigados.

Segundo a investigação, a milícia extorquia dinheiro de comerciantes autônomos há mais de um ano. As principais vítimas eram imigrantes que eram obrigados a pagar de R$ 200 a R$ 300 por semana, além de um valor anual chamado de “luva”, que chegava a R$ 15 mil.

Os investigadores fizeram outra descoberta: quem não conseguia juntar o dinheiro, era obrigado a pegar emprestado com um agiota, que fazia parte do esquema e cobrava juros de 20% ao ano. Se o pagamento atrasasse, eram os policiais militares que cobravam e de forma violenta.

“Uma vítima, de nacionalidade equatoriana, obteve dinheiro emprestado com um desses agiotas. Atrasou o pagamento, teve a sua casa invadida, foi agredido, espancado e teve a quantia de R$ 4 mil que ele tinha dentro de sua casa subtraída por um desses policiais”, relatou o coronel Fábio Sérgio.

Quem se recusasse a pagar, também era removido à força do ponto de venda. De acordo com a Corregedoria, o cabo José Renato Silva de Oliveira usava a motocicleta, a farda e a arma da PM para intimidar as vítimas.

Investigação

As investigações que levaram à operação desta segunda-feira (16) começaram em março depois que quatro vítimas denunciaram as extorsões. O medo de retaliações atrapalha, mas o Ministério Público espera conseguir outros depoimentos a partir de agora.

“Pelo menos 4 vítimas protegidas. Só que é um trabalho de apuração e esforço que continua. A gente hoje, durante o curso das buscas, identificamos uma série de planilhas de mecanismo de controle que eram utilizados pela organização criminosa para garantir que tivesse o controle efetivo de quem estava fazendo os pagamentos dos valores da extorsão, né?”, afirmou Carlos Gaya, promotor de Justiça.

E ressaltou: “E a partir de agora certamente a gente vai atrás dessas pessoas para ver se a gente consegue identificar mais algumas vítimas que estejam dispostas a depor aí depois formalmente aqui perante o Ministério Público perante a Corregedoria da Polícia Militar”.

Outras denúncias
Comerciantes do Brás já foram alvos de outros esquemas de extorsão. Em 2021, a TV Globo mostrou que criminosos anunciavam a venda de espaços públicos na região pelas redes sociais.

Os lotes eram demarcados no asfalto e o metro quadrado vendido por valores que superavam o de apartamentos em bairros nobres da cidade.

Os relatos vêm pelo menos desde 1999, quando o então presidente do sindicato dos camelôs independentes, Afonso José da Silva denunciou uma quadrilha que ficou conhecida como a máfia dos fiscais.

Policiais militares também foram presos na época. E um ano depois, Afonso José foi assassinado dentro da sede do sindicato.

Fonte: G1

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