Famosos Paolla Oliveira: ‘Me cobram a maternidade tanto quanto me cobram uma perna sem celulite’ Redação6 de fevereiro de 2025036 visualizações Em 2022, uma reviravolta interna mexeu com a cabeça e a carreira de Paolla Oliveira. Desde então, a atriz se orgulha de trazer consigo estandartes que anunciam o amor – pelo próprio corpo, pelo Carnaval, por sua história e por sua voz. Agora, aos 42 anos, sendo ao menos 20 deles na televisão, diz que enfim persegue o que quer (interpretar Heleninha no remake de ‘Vale Tudo’, por exemplo) e que perdeu o medo de negar o que não lhe cabe (seja um papel ou a opinião alheia) Arpoador, segunda-feira, 6 da manhã. A cidade do Rio de Janeiro, já desperta, recebe Marie Claire para as fotos de capa desta edição. Paolla Oliveira é a garota da vez. As areias da praia onde o sol é aplaudido ao entardecer abrigam paparazzis sedentos por uma imagem da atriz à beira mar. Fotografar Paolla em praça pública é atrair olhares e assédio, das câmeras, de fãs munidos por smartphones, de transeuntes que não disfarçam o interesse. Sua presença é irremediavelmente digna de nota, aonde quer que vá. Mas não foi sempre assim. “O jeito que sou vista – pelo público e pela imprensa – mudou nos últimos anos”, ela percebe. E diz isso aos 42, depois de mais de duas décadas de uma carreira construída nas principais produções da TV (só na Globo, fez entre novelas e séries, mais de 20 trabalhos). Quando diz da mudança, Paolla refere-se ao movimento que começou, mais precisamente em fevereiro de 2023, ao anunciar em seu Instagram que naquele Carnaval faria diferente. Que sua preparação para a maior festa do país seria “livre de julgamentos, feliz e conectada com cada parte potente” de si. O recado foi dado em forma de vídeo, em que perguntava a homens comuns em um samba no barracão da Grande Rio, sua escola do coração, como se preparavam para curtir a folia. “Não vai fazer dieta, não?”, ela indagava. “E não deixa de comer nenhum churrasquinho?”, “qual é o corpo ideal para sair no Carnaval?”. A ideia era colocá-los no mesmo lugar que ela se sentia ocupando desde que se entregou de vez ao Carnaval. Ela e um contingente de mulheres, nas avenidas do samba ou nas festas de rua. “É tudo sobre um sistema tolhendo o seu comportamento o tempo inteiro. E daí entra o seu corpo, entra o jeito como você age, a maneira como se senta, como fala, o quanto come, o que veste. E a verdade é que consegui conquistar muita coisa dentro desse sistema. Mas uma hora ele começou a me machucar e precisei dizer ‘não! Não aceito, não quero, não gostei!’.” A partir de sua rebeldia, levantou-se uma Paolla que já não fala mais só por si, mas por aquelas que se sentem objetificadas, julgadas e diminuídas por serem mulheres. O movimento multiplicou as atenções sobre a atriz, que tornou-se uma porta-voz da liberdade feminina (são mais de 37 milhões de seguidores só no Instagram). Estava decidido: as manchetes medindo seu corpo e suas escolhas não mais a paralisariam como antes: “Eu não podia mais regular a mim mesma por conta do que o mundo pensava”. Para Paolla, há nessa equação dois fatores fundamentais: o autoconhecimento que a própria história lhe trouxe e uma mudança importante na forma como as mulheres se colocam em nossa sociedade. “No fim, acho que a gente tá vivendo tempos, não ideais, mas melhores para nos sentirmos bem em nossas peles. Dizer isso aos quatro ventos é não só um jeito da coisa sedimentar em mim, mas uma chance de alcançar mais mulheres. Eu ainda fico muito emocionada quando ouço de uma mulher que ela aprendeu a amar o corpo dela porque me viu sendo feliz com o meu.” A intensidade no pensamento e nas ações de Paolla são marcas de uma personalidade inconformada – uma “ariana que não abaixa a cabeça”. Foi assim quando cansou de ter o corpo vigiado e assim quando não se curvou a ideia engessada de que “atrizes que se levam a sério não deveriam desfilar seminuas no Carnaval”. Ouviu “você vai se prejudicar! Uma mulher tão exposta assim não vai prestar. Vai perder a sua credibilidade e nunca será uma grande atriz. Vai ficar engavetada”. No Carnaval, me permito ser quem sou. Sou grandiosa, sou bonita, sou livre. Ali posso simplesmente ser.— Paolla Oliveira Paolla não nega, teve medo. Tanto que permaneceu dez anos afastada do Carnaval. “Desfilei dois anos e fiquei afastada dez, remoendo o que ouvi”, recorda. Hoje, diz com a boca cheia, é inimaginável estar longe. “Eu ganhei muito com o Carnaval. Não fui eu que contribuí para o Carnaval, foi ele que me deu coisas, e imensas. Sou grata porque ele me trouxe para a mulher que sou hoje. Fui abraçada por uma comunidade. Consegui o afeto das mulheres dessa comunidade. E falo das mulheres porque infelizmente até ali colocam uma para rivalizar com a outra. No Carnaval, me permito ser quem sou. Sou grandiosa, sou bonita, sou livre. Ali posso simplesmente ser. Agradeço muito ao Carnaval e fico feliz por essa virada na minha vida ter acontecido justamente através dele.” Paolla também não se resignou quando foi oferecido a ela o papel “errado”. Errado porque não era exatamente a personagem que queria fazer. “O meu desejo era outro”, confessa. A história é ótima: ela foi convidada para o remake de Vale Tudo, o mais esperado dos remakes da dramaturgia nacional. Ficou honrada, mas a questão é que ela queria mesmo era interpretar Heleninha Roitman (vivida por Renata Sorrah na primeira versão da novela, em 1988), e não o papel que a princípio haviam pensado para ela. Pois negou o convite inicial e pediu para fazer os testes para a alcoolista mais lembrada da TV brasileira. Testes esses que sequer estavam abertos naquele momento. “Eu não me contentei. Como em várias coisas na vida, não quis me contentar com o que trouxeram. E não que a outra personagem era ruim, não existe isso de personagem ruim, cada uma tem seus desafios e particularidades. Mas eu queria alçar vôos maiores com a complexidade que a Heleninha tem. Queria dançar a coreografia mais difícil. Podia ter dado ruim, mas deu certo, abriram os testes e passei. Precisei ter coragem. Bem ou mal, assumi um baita risco. Se você tiver vontade, não se contente com o que o mundo está oferecendo, porque talvez você possa mais.” Queria alçar vôos maiores com a complexidade que a Heleninha tem. Queria dançar a coreografia mais difícil. Precisei ter coragem.— Paolla OliveiraAprovada para o papel, está radiante. Vem aí, com estreia prevista para março, o trabalho da vida de Paolla Oliveira. “Heleninha tem muitas vertentes. É complexa e já existe emblemática no imaginário das pessoas, então só por isso é um enorme desafio. Uma artista plástica com problemas sérios com álcool – algo que Manuela Dias [a autora do remake] quer ressignificar nesta versão – e que tem uma família cheia de questões. Sinto que é o tipo de personagem que vai estar em construção até o fim do trabalho.” Amor e outros afetosPaolla e Diogo Nogueira são um casal(zão) desde 2021. Não à toa, ela observa, ele de alguma forma faz parte da sua virada de chave. “Não que ele seja o responsável pela mudança interna que me ocorreu, mas não impediu que eu me revirasse do avesso. Eu estava passando por um momento em que não cabia uma pessoa do meu lado que questionasse qualquer coisa, que tolhesse o meu processo. Diogo não só me deixou livre pra fazer o que eu tinha que fazer, como sempre admirou e aplaudiu os meus passos.” Os dois tornaram-se uma espécie de casal 20 da contemporaneidade, não só parecem feitos um para o outro, como ficaram conhecidos por esbanjar desejo quando estão juntos. “As pessoas pensam que eu ando vestida de baby doll pela casa e que a gente se pega o tempo todo. Eu só posso rir disso.” Com o cantor, o filho dele (do casamento com Milena Nogueira), dois cachorros, quatro gatos e uma tia (que também trabalha com ela), Paolla mora em uma casa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “É uma convivência animada, com muito movimento, mas ao mesmo tempo organizada. Tem que ser porque sou eu, né?”, diz. Na capital carioca, ela vive desde os 23 anos. E não tem dúvidas de que foi na cidade onde pôde reinventar a vida e expandir os horizontes, especialmente os profissionais. “São Paulo foi onde eu fiz o corre. Trabalhei em todos os lugares da cidade, estudei, me formei numa faculdade [ela fez fisioterapia], aprendi a me virar e fazer dinheiro… até vir pro Rio. Aqui comecei tudo de novo e então veio a atuação.” Única filha mulher de um policial militar aposentado e uma auxiliar de enfermagem que aos 56 anos começou a cursar medicina, Paolla tem três irmãos e cresceu na Penha, bairro da Zona Leste de São Paulo. É nessa família, e na avó materna que vive em Guapiara, interior do estado, que busca forças para reafirmar suas convicções. “Tenho pensado sobre a finitude. Sobre os ciclos que se encerram e os que começam todo dia dentro da gente. E isso tem me feito aproveitar o presente e quem eu amo. É importante que a gente consiga sempre olhar para onde veio, revisitar nossa história e saber o valor dela.” É conhecendo a própria história que Paolla sente a segurança de refutar normas sociais. Além da patrulha com o corpo, há outra que insiste em tê-la como alvo: “Me cobram a maternidade tanto quando me cobram uma perna sem celulite”. “Quando você vai ser mãe? Já não tá passando da hora?” Desde que anunciou que havia congelado óvulos, em 2018, aos 35, esse tipo de pergunta a persegue. O fato de Paolla envelhecer aos olhos da audiência também colabora para a pressão aumentar. Sobre o assunto, ela diz: não tem respostas fechadas nem pra si. “Em mim, essa conversa também não se encerra. Todo dia eu penso nisso. Porque toda hora sou perguntada: ‘Tem certeza que não quer? ‘Pensa bem, quem vai cuidar de você quando você ficar mais velha?’.” O jeito que encontrou de conviver com uma ideia embebida em incertezas, e principalmente as dela, foi sossegar o coração. “Se a maternidade for para mim, será.” Fonte: revistamarieclaire