Pedreiro, garçom, pintor de paredes. A incrível trajetória de Alexandre Pantoja até o cinturão do UFC. O Brasil voltou a ter um campeão

por Redação

São Paulo, Brasil

“Se vocês conhecerem minha história…

“Vocês vão me amar.

“Minha esposa e meu filhos.

“Vocês não têm ideia…”

Foi assim que Alexandre Pantoja encarou, nesta madrugada, a plateia do T-Mobile Arena, em Las Vegas, que o vaiava.

O brasileiro de Arraial do Cabo havia frustrado a maioria do público, formado, na maioria, por mexicanos e americanos.

Pantoja roubou a festa, vencendo a espetacular batalha contra Brandon Moreno, depois de cinco rounds de tirar o fôlego.

E que levou os dois para o hospital, para exames, depois da troca de socos, cotoveladas e tentativas de sufocamento, na busca de finalizações.

O sangue estava estampado nos dois rostos, como mostra de como foi intenso, selvagem, o combate.

Ficou com o cinturão dos pesos-mosca, até 57 quilos, encerrando um jejum de 28 dias do Brasil sem campeões no UFC, com a aposentadoria de Amanda Nunes.

Foi uma das melhores lutas do ano, capaz de fazer até o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, presente na arena, aplaudir a vitória do imigrante brasileiro, que tem, realmente, uma história de vida emocionante.

Alexandre cresceu em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. E, fascinado por lutas, queria treinar na academia de Dedé Pederneiras, a Nova União, que fica na capital carioca.

Fazia um rodízio de casas de parentes para dormir de favor, no Rio de Janeiro, para ficar perto da academia.

Trabalhou como pedreiro, garçon, pintor, motorista de Uber, marinheiro.

O que aparecia pela frente, de trabalho manual, Pantojas enfrentava, para poder se manter e lutar.

Desde os 14 anos ele enfrenta essa rotina. Atualmente, tem 33 anos.

Ele é lutador profissional desde 2007 e só chegou ao UFC em 2017.

E seguia vivendo com dificuldades financeiras.

Até mesmo sua mulher trabalhou como empregada doméstica, nos Estados Unidos, para que o marido seguisse treinando.

A confissão que fez à ESPN é algo marcante.

E que desvenda um pouco o mundo das lutas.

Ele já era contratado do UFC, foi segundo colocado no The Ultimate Fighter, quando começou a pandemia.

“Quando eu volto para os EUA durante a Covid-19, eu faço uma luta, consigo dar entrada na minha casa, mas daí a grana apertou muito forte.

“E eu trabalhei de Uber durante um tempo, minha esposa trabalhou de empregada também. Isso foi há duas lutas. A gente via isso como algo que teria que ser feito.

“Uma semana antes de eu lutar com o Brandon Royval eu estava fazendo entrega de Uber porque eu só tinha um mês para pagar financiamento, carro… Peguei uma chuva sinistra, fiquei gripado, pedi a Deus que não fosse Covid, fiz minha pesagem e já estava certo o dinheiro da bolsa.

“Quando eu bati o peso e sabia que tinha ganhado o dinheiro da bolsa, uma semana antes eu estava ralando para ganhar 100 dólares no dia, e na semana eu fiz 100 mil dólares, eu agradeci muito a Deus.”

O destino parecia que impediria Pantoja de chegar ao cinturão, mesmo acumulando vitórias.

Primeiro, teve de recusar um combate pelo título, com o mesmo Brandon Moreno, em 2011.

Havia operado o joelho direito e teve de recusar o combate.

Depois, Dana White fez com que Brandon enfrentasse Deiveson Figueiredo quatro vezes.

Suas características principais, que o levaram até o cinturão do UFC, são talento no jiu-jítsu, excelente boxe e resistência a golpes. É um lutador completo.

E que atravessou o caminho do mexicano Brandon Moreno três vezes.

A primeira foi em 2016, quando Dana White promoveu o The Ultimate Fighter especial, só com campeões de associações menores do que o UFC. Foi quando Pantoja finalizou Brandon pela primeira vez, sem muito sofrimento.

Depois, em maio de 2018, teve apenas três semanas para treinar e enfrentar Brandon novamente. E a vitória foi unânime dos jurados.

Brandon, campeão do moscas, não teve como fugir. O presidente do UFC, Dana White, sabe como vender uma luta.

E apelou para o trauma do campeão mexicano de ter Pantoja “atravessado na garganta”.

Dana promoveu muito bem o combate.

O clima de guerra chegou ao octógono, na luta.

Pantoja sabia que era a hora de aproveitar todos os holofotes.

E a chance da vida.

Assim como Brandon queria se livrar de seu “carrasco” e provar a si mesmo que não era o mesmo lutador derrotado duas vezes pelo brasileiro.

Sorte de quem acompanhou a selvagem luta territorial.

Foram cinco rounds onde os dois provaram profundo conhecimento das artes marciais.

No primeiro deles, o brasileiro percebeu que Brandon estava querendo cansá-lo, por ter muito mais familiaridade com cinco rouds. A estratégia era imprensar o brasileiro contra as grades, desgastá-lo.

Só que não deu certo. Ao se desvenciliar, Pantoja começou a desferir cruzados, diretos e cotoveladas no mexicano. Parecia que tudo seria fácil.

Mas veio o segundo assalto e o brasileiro estava confiante demais. Lutava com a guarda baixa. E tomou vários jabs, que o foram desgastando. Inaceitável ele não movimentar a cabeça para diminuir o impacto dos golpes.

Pantoja tomou uma séria bronca no intervalo de um minuto. Seus treinadores exigiram que se protegesse mais.

No terceiro round, os dois seguiram com uma guerra aberta. Com socos, pontapés e tentivas de imobilização. O round tirava o fôlego, estava equilibrado, até que o brasileiro acertou a distância e seguiu dando mais golpes.

Dominou também o quarto e o quinto rounds.

Terminou a luta travando o mexicano e comemorando o cinturão que já sentia ser seu.

Os jurados foram injustos na vantangem do brasileiro. Principalmente um, que teve a coragem de dar o combate ao mexicano. 46-49, 48-47 e 48-47.

Lembrou de seu tempo como pedreiro, motorista de Uber, garçom, quando Dana White colocava o símbolo dos campeões do UFC na sua cintura.

Vieram as vaias em Las Vegas.

E ele não suportou.

Tratou de encarar a plateia e avisar.

“Se vocês conhecerem a minha história, vão me amar.”

É verdade.

Esse campeão brasileiro tem de ser admirado…

Fonte: r7

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