Transporte PM faz operação em garagens e terminais para garantir circulação de ônibus das empresas suspeitas de envolvimento com PCC Redação10 de abril de 2024060 visualizações A Polícia Militar realiza na manhã desta terça-feira (10) uma operação para garantir a circulação dos ônibus das empresas Transwolff e UpBus, investigadas pelo Ministério Público por ligação com o crime organizado. Viaturas estão posicionadas dentro e fora das garagens das duas empresas, a fim de garantir a saída e entrada dos coletivos que prestam serviço nas Zona Sul e Leste da capital paulista. A Prefeitura de São Paulo também anunciou a presença da Guarda Civil Metropolitana (GCM) em todos os terminais de ônibus dessas duas regiões, na tentativa também de não prejudicar o atendimento dos passageiros que saem para trabalhar nesta manhã de terça (10). O aumento da segurança faz parte da ‘Operação Impacto’, lançada pelo comando da Polícia Militar com o objetivo de evitar interrupções na circulação dos ônibus em São Paulo. “Nenhum ônibus foi retido durante essa operação, portanto, eles estão à disposição. Mas, por experiência, sabemos que o crime organizado espalha boatos de que haverá intersecções nas redes, queima de ônibus… E essa rede de boatos acaba trazendo medo e insegurança para a população”, afirmou o comandante-geral da PM, coronel Cássio Araújo de Freitas na coletiva de imprensa desta segunda-feira (9). “Vamos iniciar um patrulhamento na portaria das empresas e, posteriormente, em toda a cadeia logística dessas empresas de ônibus, para dar essa tranquilidade e garantir a mobilidade para que o cidadão paulistano possa trabalhar, estudar, com tranquilidade, durante toda essa semana”, completou Freitas. ‘Fim da Linha’ A Operação ‘Fim da Linha’, do Ministério Público de SP, contou com 340 policiais do Batalhão de Choque, que apoiaram no cumprimento dos mandados de prisão e busca deflagrados nesta terça-feira (9). Segundo as investigações do Grupo de Atuação Especial ao Crime Organiza (Gaeco), os envolvidos usavam a exploração do serviço de transporte público por ônibus para “legalizar” valores provenientes de tráfico de drogas, roubos e outros delitos praticados pela facção criminosa, além de ocultar o patrimônio do bando. “Foram meses de trabalho para que essa ação fosse materializada, sendo cumpridos na data de hoje mandados de busca e de prisão realizados pelo Gaeco e agentes do serviço de inteligência da PM. Essa parceria com o Ministério Público, Cade e Receita Federal ganha mais robustez para asfixiar financeiramente o crime organizado no Estado de São Paulo”, disse o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. “É inaceitável que chefes de facção figurem como grandes empresários.” Segundo o MP, a Transwolff e a UPBus receberam no ano passado mais de R$ 800 milhões da Prefeitura de SP pelos serviços de operação das linhas de ônibus nas regiões onde operam. Com 13 linhas e 138 veículos operando na cidade, a UPBus recebeu R$81 milhões da SPTrans em 2023, contra R$748 milhões da Tanswolff, que opera 100 linhas na Zona Sul de SP e tem mais de 1.100 veículos circulando na capital paulista, de acordo com os promotores. Intervenção da Prefeitura de SP Após determinação judicial, a Prefeitura de São Paulo assumiu a operação das linhas de ônibus das empresas Transwolff e UPBus. As companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês. Dirigentes de ambas são suspeitos de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e foram alvos de uma operação do MP. Na ação, dois diretores e um representante da Transwolff foram presos. Um dirigente da UPBus está foragido. Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o decreto foi publicado no Diário Oficial. Em coletiva de imprensa no início da tarde, ele afirmou ainda que “Nenhuma linha será paralisada”. “Já fiz o decreto publicado hoje no Diário Oficial onde determino a intervenção na Transwolff e na UPBus. Quero contar com a colaboração da imprensa para deixar claro que não haverá nenhuma paralisação no transporte público municipal por parte dessas empresas. Fornecedores não deixarão de receber. Os interventores já estão lá nas duas empresas. Não haverá demissão de funcionários. Só muda a gestão dessas empresas.” Os dois interventores nomeados pelo prefeito são servidores de carreira da SPTrans: Valdemar Gomes de Mello e Wagner Chagas Alves (diretor de operações da empresa). Mais cedo, em entrevista à TV Globo, o secretário executivo de Transporte e Mobilidade Urbana, Gilmar Pereira Miranda, afirmou que a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, tem condições técnicas para dar conta do serviço sem prejuízo da população. “A gente não vislumbra, neste momento, qualquer substituição de operador. Muito pelo contrário: a gente tem pessoal capacitado na SPTransporte, com expertise desde a época que já teve no passado necessidade de intervenção por má prestação”. Ambas já tinham histórico de problemas, falhas na operação, além denúncias anteriores de ligação com o crime organizado. Há duas semanas, passageiros quebraram equipamentos do Terminal Varginha II após atraso de mais de duas horas em um das linhas operadas pela Transwolff. Por conta dos atrasos e falhas, a SPTrans tirou seis linhas da empresa e aplicou multa. Dirigentes investigadosA Justiça também estabeleceu o bloqueio de bens dos investigados, no valor máximo de quase R$ 600 milhões. Na casa de um deles, foram encontradas armas, dinheiros e joias. Os dirigentes das empresas devem se afastar dos cargos e cinco deles, ligados a UPBus, terão de cumprir medidas medidas cautelares – entre elas a proibição de frequentar a empresa de se ausentar da cidade sem comunicação prévia à Justiça. Lavagem de dinheiro e tráficoDurante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes. A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus. Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul. Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes dessa cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados a transferir o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff. Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados. Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão. Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos. No caso da UPBus, o Ministério Público afirma que os diretores integram a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”. Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste. Os promotores descobriram que outros chefes da facção criminosa fazem parte da direção da UPBus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango. Eles já foram alvo de investigação por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos. Parentes dos investigados também entraram para a sociedade. Segundo a investigação, eles têm profissões ou exercem atividades econômicas incompatíveis com o capital investido na UPBus. Fonte: G1