Prejuízo do Brasil com chuvas em um mês é suficiente para construir 17 piscinões

Desastres naturais não escolhem dia nem hora para ocorrer, mas, segundo especialistas entrevistados pelo R7, são previsíveis e, consequentemente, podem ser evitados. Só entre 1° e 31 de dezembro de 2022, o Brasil teve um prejuízo total de R$ 931,4 milhões, o que corresponde a R$ 30 milhões por dia somente com as destruições causadas pela chuva. Esse valor, se convertido para investimento contra esse tipo de calamidade, seria o suficiente para construir cerca de 17 piscinões, aponta estudo da CNM (Confederação Nacional dos Municípios).

Segundo o levantamento, neste recorte, o governo federal pagou R$ 74,5 milhões para ações de proteção e Defesa Civil aos municípios afetados. Com isso, o valor corresponde a apenas 8,1% do que as cidades realmente precisam para fazer os trabalhos e reparações necessárias causados por essas destruições.

A cada ano, não só o Brasil, mas o mundo tem sofrido com tragédias causadas pelo excesso de chuvas, tempestades, ciclones e tornados, que deixam rastros de destruição e morte por onde passam. Só em dezembro, no país, esses fenômenos deixaram 33 pessoas mortas, 15.652 desabrigadas e 72.353 desalojadas.

O cenário, de acordo com a coordenadora de incidência política na Habitat Brasil, Raquel Ludemir, revela que essas catástrofes não são ‘simplesmente’ ambientais, mas socioambientais, porque “acontecem todos os anos e, muitas das vezes em lugares que já foram afetados antes, e os efeitos disso têm um perfil econômico muito expressivo: a população mais empobrecida do país”, ressalta.

A coordenadora, que é doutora e mestra em desenvolvimento urbano, exemplifica as consequências sofridas por pessoas que perderam tudo devido aos estragos causados pela chuva em Pernambuco. “Cada família recebe R$ 1.500 de auxílio emergencial, mas é necessário ressaltar que eles perderam tudo. Então, esse valor dá para comprar um fogão e uma cama de segunda mão, mas roupas, móveis, comida e geladeira não. Fora o aluguel que precisam pagar por conta das casas interditadas”, diz.

Além dos danos urbanos e coletivos, a maioria também perde bens que não são materiais, como parentes que acabam tendo a vida levada nesses desatres, “podendo afetar profundamente o psicológico das pessoas que ficaram”. “Como é que você calcula os danos não materiais de uma morte?”, questiona.

Essas circunstâncias, ainda segundo a especialista, “não são novidade ou coincidência”. Para ela, o local de moradia da maioria das vítimas hoje ainda é definido pelas questões de raça, classe e gênero.

Qual a solução para minimizar os prejuízos e consequências dessas catástrofes?
Para minimizar os danos causados por desastres naturais é necessário, seguno a CNM, que os órgãos públicos criem ações de gestão de risco, prevenção, preparação, reabilitação e reconstrução de áreas destruídas. Mas, por onde começar?

Como medida urgente, Raquel aponta as questões de moradia. “Ninguém mora em regiões de risco porque quer. Essas pessoas não têm outra alternativa”. Apesar disso, reconhece que as políticas de moradias adequadas para todos têm um processo lento, então, o ideal seria que essas regiões pudessem receber os investimentos prioritariamente.

A coordenadora do Habit ainda aponta que, apesar de ser uma alternativa, os investimentos também ocorrem em “processo lento” e lamenta o fato de que tragédias causadas pela natureza ainda serão vistas por muitos anos.

As possíveis soluções, em curto prazo, segundo Raquel, é que a população tenha em mente a necessidade dessa reparação e passe a cobrar o governo por “medidas de emergência e realizações de comitês de gestão de risco”.

Prevenção
Para o engenheiro civil e especialista em geotecnia Luciano Machado, é possível prever, por meio de mecanismos de medição de solo e previsão do tempo, quais serão os locais que podem ser mais afetados pela chuva. Com os resultados disso, as autoridades podem criar operações para a realização de manutenções, obras e, em determinados casos, evacuação de áreas que estejam “no limite”.

Uma ação preventiva, citada por Machado, foi a ocorrida na Marginal Tietê, quando três faixas da pista acabaram se abrindo, formando uma cratera. “Como a movimentação do solo foi detectada, houve tempo suficiente para fazer o isolamento da área e evitar acidentes. Apesar do cenário de caos no trânsito de São Paulo, o ocorrido poderia ter sido bem pior se tivessem mortos e feridos”, ressalta.

Em Araraquara, no interior de São Paulo, uma cratera também se abriu em uma avenida após o temporal que caiu no município às vesperas da virada de ano. Entretanto, não houve um aviso prévio da situação do solo, e cinco pessoas da mesma família morreram, sendo uma mãe, os filhos gêmeos e o casal de cunhados.

Para o especialista, que é sócio da MMF Projetos, as autoridades públicas deixam para agir sempre “quando a tragédia já aconteceu”. “O ideal é começar a prevenir tudo isso por meio de projetos, obras de infraestrutura e, de preferência, antecipadamente, como em épocas de estiagem”, cita.

MG lidera posição com maior número de mortos em dezembro por catástrofes ambientais; SP vem na sequência
O estado de Minas Gerais teve 14 mortes por catástrofes ambientais só entre 1° e 31 de dezembro, liderando a posição. São Paulo vem na sequência, com 6.

Em relação ao número de desabrigados, a Bahia teve 11.473 moradores que perderam os lares, sendo o estado que mais sofreu com as chuvas no período, contabilizando mais de R$ 254,8 milhões em prejuízos.

Ainda em relação ao número de desabrigados, Santa Catarina fica em segunda posição, com 2.694 pessoas que também tiveram as casas destruídas pela chuva intensa e precisaram de apoio de alguma forma. Foram R$ 182,2 milhões em prejuízos, segundo o levantamento da CNM.

“A gestão de risco somente será viável quando todos participarem, e isso demanda uma mudança cultural. Cada um de nós, em nosso dia a dia, tem a obrigação de exercer atitudes que reduzam riscos e vulnerabilidades; é indispensável que isso se torne algo natural para jovens, crianças e adultos”, afirmou o órgão na conclusão do estudo.

Fonte: Com informações da Agência Estado

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