Os temidos congestionamentos nas tardes e noites de sexta-feira no trânsito de São Paulo agora acontecem um dia antes. Os maiores índices de lentidão estão sendo registrados às quintas-feiras, que se consolidaram como o pior dia do trânsito depois da pandemia de Covid-19.
Segundo especialistas, o fenômeno está ligado às atividades a distância, como o home office, que ganharam impulso durante a quarentena. Apesar de a pandemia ter acabado, muitas empresas mantiveram parte de seus funcionários trabalhando em casa em tempo integral ou em sistema híbrido.
Dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) mostram que a média dos congestionamentos registrados às sextas-feiras era de 537 km em 2019, antes da pandemia. Esse índice caiu para 327 km em 2023. O número é menor que os 347 km de congestionamento que vêm sendo registrados às quintas-feiras.
Para o consultor em transportes Horácio Figueira, o fenômeno é uma mudança radical de hábitos iniciada na pandemia.
“Quem pode escolher opta por fazer o home office em dias como segunda-feira ou sexta-feira, dias próximos do fim de semana. Quem não está em São Paulo acaba escolhendo ir à capital paulista em dias de meio de semana, já para escapar dos piores momentos do trânsito”, avalia. Para o especialista, isso também deve estar repercutindo no trânsito nas estradas e em outras atividades.
Diversos estudos apontam a consolidação do home office em parte das empresas, ainda que outras tenham voltado ao trabalho presencial. Um levantamento do site empregos.com.br mostrou, por exemplo, que o número de vagas nessa modalidade ofertadas em janeiro de 2021, no auge da pandemia, era de 887. Esse número aumentou para 2.132 no ano seguinte, quando as regras da quarentena já haviam sido flexibilizadas.
Congestionamento crescente
Os dados da CET mostram que os congestionamentos são crescentes ao longo da semana, até quinta-feira. A segunda-feira é o dia útil de menor trânsito, com picos de 243 km, superando apenas o sábado e o domingo, que é o dia com menor movimento. Os números revelam ainda que houve queda nos congestionamentos em todos os dias da semana.
Para Flamínio Fischmann, urbanista e coordenador da divisão de mobilidade e logística do Instituto de Engenharia, além do home office, há uma mudança no perfil dos serviços. Ele cita o crescimento dos cursos a distância. Apenas em 2021, o número de matrículas subiu quase 20%. Fischmann lembra que pesquisas de mobilidade mostram que os deslocamentos ligados à educação (escola, faculdade etc.) são o segundo motivo para o movimento de pessoas na capital paulista.
Em seguida, vem o comércio. Nesse setor, o especialista também vê mudanças no perfil dos envolvidos. “O cliente que faz aquisição de itens pela internet não se desloca. Assim, algumas lojas acabam enxugando seu quadro de funcionários, o que também impacta em deslocamentos de pessoas. Há ainda a questão da entrega, que é normalmente feita com o uso de motos, veículo que causa menor impacto no trânsito”, analisa Fischmann.
O urbanista também cita a atividade econômica do país como causadora da redução dos deslocamentos de forma geral e considera que parte dos setores geradores de riqueza e emprego no país ainda busca se recuperar dos efeitos da pandemia.
Metodologia
Os dados da CET englobam o período que vai da segunda semana de janeiro até agosto deste ano e em igual período em 2019, considerando a mesma quantidade de vias analisadas na capital paulista.
Fonte: r7