Transporte Reclamações de passageiros sobre ônibus em SP aumentam 35%; veja linhas campeãs Redação8 de agosto de 2023069 visualizações As reclamações de passageiros de ônibus em São Paulo aumentaram 35% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2022. Os dados exclusivos, obtidos pelo R7 via LAI (Lei de Acesso à Informação), são da SPTrans. Somente entre janeiro e junho do ano passado, sob a gestão Ricardo Nunes (MDB), a capital paulista registrou 31.395 queixas de usuários. Em 2023, o número disparou para 42.529. De acordo com os dados, a quantidade de reclamações registradas nos primeiros seis meses deste ano também superou a do período anterior à pandemia de Covid-19. Em 2019, os passageiros denunciaram 39.989 vezes o sistema de ônibus municipal. O intervalo excessivo nas linhas lidera o ranking de reclamações, com 10.426 queixas, o que representa 24,5% do total. Ocupa o segundo lugar o não atendimento ao sinal de embarque ou desembarque dos passageiros por parte dos motoristas (5.933). A falta de respeito com o público vem em terceiro lugar, com 3.607. Outras denúncias envolvem o descumprimento da partida no ponto final ou inicial (2.556), buracos nas faixas exclusivas de ônibus (2.064) e velocidade incompatível com a via ou manobras bruscas (1.484). A empregada doméstica Suilan Mirely da Silva, de 47 anos, contou à reportagem que sofre com o intervalo excessivo e a falta de pontualidade dos ônibus. Diariamente, ela usa a linha 6043, que liga o Jardim Capelinha ao Terminal Santo Amaro, na zona sul da capital, para ir trabalhar. “Normalmente, eu pego [o ônibus] às 5h25. Eu subo no ponto no horário exato, porque tenho medo de ficar lá. Onde eu moro tem muito assalto por motoqueiros. Às vezes, eu chego no ponto 5h20, e o ônibus já passou. Na volta, durante a noite, a situação é pior ainda”, desabafa. Confira as linhas com mais reclamações: 746H — Jardim Jaqueline/Santo Amaro; 6824 — Parque Fernanda/Terminal Capelinha; 3459 — Itaim Paulista/Terminal Parque Dom Pedro II; 3026 — Vila Iolanda II/CPTM Guaianazes; 3064 — Cidades Tiradentes/CPTM Guaianazes; 6007 — Terminal Capelinha/Terminal Santo Amaro; 971M — Vila Penteado/Metrô Santana; 2703 — Jardim Etelvina/Metrô Itaquera; 476G — Vila Industrial/Metrô Ana Rosa; 3902 — CPTM Jardim Romano/CPTM Guainazes; 637A — Terminal Jardim Ângela/Terminal Pinheiros. O que explica o aumento das queixas?A priorização por parte da prefeitura do transporte individual – principalmente os carros – em detrimento do transporte coletivo, motoristas que trabalham sob pressão e o abandono da conservação do pavimento das faixas e corredores de ônibus são algumas das causas apontadas pelos engenheiros ouvidos pelo R7. Atualmente, de acordo com a SPTrans, o sistema de ônibus municipal recebe, em média, 7 milhões de embarques de passageiros. Para o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP, as reclamações – registradas pelo telefone 156 ou pelo site da prefeitura – não refletem a opinião de todos os usuários. Entretanto, o crescimento de queixas é preocupante e revela uma piora em praticamente todos os aspectos do transporte. De acordo com Ejzenberg, os dados mostram “esperas excessivas e superlotação de ônibus decorrente da contínua e progressiva redução da frota efetivamente circulante do sistema de ônibus”. Enquanto isso, as reclamações registradas contra os motoristas de ônibus demonstram, segundo o engenheiro, que eles estão trabalhando sob pressão. “O que causa grande preocupação com relação à possível piora da segurança e o aumento de sinistros de trânsito e atropelamentos por ônibus”, pontua. Horácio Figueira, consultor em engenharia de transporte de pessoas, afirma que o principal problema de mobilidade urbana em São Paulo é a priorização dos carros em relação ao transporte coletivo. Uma faixa de uma via com semáforos ocupada apenas por automóveis pode transportar cerca de 700 pessoas, enquanto o mesmo espaço com ônibus pode levar de cinco até 15 vezes mais passageiros, dependendo da frequência das linhas, exemplifica Figueira. Para o consultor em engenharia, os corredores deveriam ser exclusivos para ônibus sem exceções, permitindo maior número de viagens. “Para diminuir o intervalo, basta deixar eles andarem. Não precisa aumentar a frota. Hoje, o ônibus fica preso atrás do táxi”, afirma. Figueira também aponta algumas defasagens no controle operacional das linhas, como a falta de comunicação entre os motoristas. É comum, por exemplo, dois ônibus que realizam o mesmo percurso pararem concomitantemente no ponto – sem necessidade, de acordo com o especialista. Abandono do transporte Para os engenheiros, a piora no transporte coletivo, principalmente em relação à superlotação e às longas esperas, afasta os usuários do sistema, que acabam migrando para outros modais – o que leva ao agravamento do congestionamento, da poluição e de acidentes. De acordo com Figueira, a tendência é que os usuários de classe média migrem para os aplicativos de transporte como Uber e 99. Após a pandemia, esse público passou a trabalhar com frequência em home office, precisando se deslocar até as empresas ocasionalmente. Segundo um levantamento do R7, três em cada dez passageiros abandonaram o sistema municipal de ônibus com a chegada dos aplicativos à capital e a pandemia. Outro ladoO SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo) informou, em nota, que “reclamações como as de intervalo excessivo e tempo de viagem estão diretamente relacionadas com a ausência de uma infraestrutura adequada – corredores e faixas exclusivas – para a circulação dos ônibus”. “Sobre a reclamação dos motoristas, as empresas operadoras possuem programas de treinamento e capacitação de seus profissionais, com o objetivo de qualificá-los para uma direção segura e econômica e para o melhor atendimento aos passageiros”, afirmou o sindicato. Já a SPTrans esclareceu que “a fiscalização da operação das concessionárias é feita 24 horas por dia e, quando é verificada alguma irregularidade no cumprimento das partidas programadas, intervalo excessivo ou comportamentos de motoristas, aplica autuações”. A SPTrans também informou que, em 2023, todas as solicitações feitas pelos usuários referentes aos buracos nos corredores foram atendidas. “O contrato de concessão prevê treinamento de ingresso para os novos motoristas com carga horária de 40 horas. O treinamento de atualização para o ano de 2023 é de 24 horas, divididas em 3 módulos”, afirma em nota. “Até 2024, a cidade deverá contar com 2.600 veículos elétricos, além de ampliar a frota com ar-condicionado, USB e com conexão de internet por wi-fi. Também estão sendo projetados novos corredores, terminais e implantadas faixas exclusivas que contribuem para a maior eficiência ao sistema, reduzindo os tempos de viagem. Além disso, está prevista a implantação do Aquático SP, o primeiro modo de transporte hidroviário por embarcações na cidade”. Fonte: r7