Segurança Traficante FB é condenado a 225 anos por ataque que derrubou helicóptero e matou três policiais; juíza fala em ‘ato terrorista’ Redação21 de junho de 2023054 visualizações Após quase 22 horas de julgamento, o traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, foi condenado no início da manhã desta quarta-feira (21) a 225 anos de prisão no episódio da derrubada do helicóptero da PM na Zona Norte do Rio, quase 14 anos atrás. Para o corpo de jurados do 3º Tribunal do Júri, FB, o último réu a ser julgado no caso, foi o responsável por ordenar e comandar a invasão ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, no ano de 2009, em que três policiais a bordo da aeronave morreram. Às 6h, com 20 horas de sessão, a defesa encerrou sua manifestação, e a juíza Tula Mello mandou o Conselho de Sentença se reunir. A sentença foi lida às 7h30. FB está condenado por 3 homicídios, 6 tentativas de homicídio (3 sobreviventes do helicóptero e 3 agentes em terra) e associação para o tráfico. “A cena da vítima saindo da aeronave como uma bola de fogo causa um impacto sem precedentes”, escreveu a magistrada, em relação a um vídeo inédito exibido na sessão. FB participou do julgamento por videoconferência, de dentro do presídio federal de Catanduvas (PR). O advogado dele, Cláudio Dalledone, disse que vai recorrer. “Trata-se de um processo defeituoso. É tudo baseado em ‘ouvir dizer’. Manifestações contrárias ao que está nos autos.” Naquela manhã de 17 de outubro, a polícia entrou na favela de Vila Isabel para intervir na guerra que havia começado naquela madrugada, quando traficantes do Comando Vermelho atacaram a área, controlada pela facção Amigos dos Amigos (ADA). Em setembro do ano passado, outros dois traficantes foram condenados pelo mesmo crime: Magno Fernando Soeiro Tatagiba de Souza, o Magno da Mangueira, e Leandro Domingos Berçot, o Lacoste. Condenados por três homicídios qualificados e seis tentativas de homicídio, eles tiveram suas sentenças estipuladas em 193 anos, um mês e dez dias. Em 2019, outro réu do mesmo processo, Luiz Carlos Santino da Rocha, o Playboy, foi condenado a 225 anos. Um quinto acusado, Michel Carmo de Carvalho, morreu antes de seu julgamento. Para a promotora Carmen Elisa, a pena de 225 anos a FB foi uma resposta à sociedade: “Foi a resposta que o Código Penal permite. Esperamos que essa sentença alivie um pouco a dor das pessoas que tanto sofreram com esse crime. Foi um ato contra a sociedade do Rio de Janeiro”, disse. Ela acrescentou que os jurados entenderam a participação de Fabiano Atanásio da Silva nos ataques ao Morro dos Macacos: “Acusação não é de ser apenas o mandante. Ele fez a organização do ataque, e previa a morte de quem estivesse no caminho deles, traficante rival ou policial. Naquele momento do abate à aeronave não havia confronto entre quadrilhas. Eles escolheram matar os policiais”. Autor dos disparos jamais foi descobertoO julgamento começou por volta das 10h de terça-feira. Oito testemunhas foram ouvidas em juízo, além do próprio FB. O primeiro a depor foi Carlos Henrique Pereira Machado, delegado da 25ª DP (Engenho Novo). Por dezenas de vezes, ele respondeu que não se lembrava do que era perguntado. O responsável pelas investigações do caso à época disse também que, passados 14 anos, jamais foi descoberto quem efetivamente fez os disparos que derrubaram a aeronave — e que a participação de FB nos ataques teria sido identificada por relatórios de inteligência e depoimentos. “Não afirmei que eu lembro que ele participou. Estou me baseando no relatório que fiz à época. Faz 14 anos. Não me recordo de detalhes. Mas foram informações de inteligência e através de depoimentos de PMs”, disse o delegado. Novo vídeo da queda foi exibido pelo MPO segundo a depor foi o hoje tenente-coronel Marcelo Mendes, copiloto do helicóptero que foi atingido por um tiro de fuzil no pé. Durante o depoimento, as promotoras Carmen Elisa e Fernanda Neves exibiram um vídeo inédito do exato momento da queda da aeronave. Foi um dos momentos mais emocionantes do julgamento. As imagens mostraram o Fênix 3 em queda e uma dramática tentativa de resgate em seguida. Numa das cenas, o então capitão Mendes tenta apagar o fogo que tomava conta do corpo de um dos colegas. Em seguida é possível ver que, mesmo após o abate, traficantes do Complexo do São João (dominado pelo CV) continuaram atirando nos policiais que tentavam sobreviver à queda da aeronave em chamas. Informações de inteligência e da mídiaA imprensa também foi citada por outras quatro testemunhas como tendo sido as fontes de que Fabiano teria orquestrado o ataque ao Morro dos Macacos. “A mídia falou que era o traficante responsável pela invasão apenas. Nenhuma outra fonte de informação que eu me lembre”, chegou a dizer o quinto depoente, o sargento André Luiz dos Santos Guedes, que integrava a equipe de terra do 6º BPM (Tijuca) e foi ferido na perna durante a operação. Seu então chefe de operações na unidade, o coronel João Jacques Busnello – que também foi baleado na perna no dia do ataque – falou sobre os dados de inteligência recebidos e que, por isso, FB “deve ter participado”. A defesa interveio: “Isso é uma dedução sua”, afirmou Renan Canto, um dos advogados de FB. Outro momento de embate entre as promotoras e os advogados de defesa ocorreu durante o depoimento do subtenente da PM William de Souza Noronha, que no dia também incursionou por terra e acabou ferido por estilhaços no rosto e na mão. “Soube por moradores que FB estava no morro. Um deles chegou perto e disse que, numa reunião na quadra do São João/Matinha, ele orientou os soldados”. Este foi o trecho de seu depoimento à polícia em 2009, lido pelo MP. “Nesses lugares os moradores se aproximam, mas têm medo de passar informações. Não tenho como afirmar…” Neste momento a bancada de defesa se levantou, alegando que o depoimento era inconsistente, já que ele não deu certeza de que um morador disse ter visto FB. A promotora Carmen Elisa retomou a palavra e pediu para o policial responder se confirmava o depoimento que havia prestado no inquérito conduzido pela Polícia Civil. “Confirmo o que falei em sede policial. Não tenho como lembrar com riqueza de detalhes. Morador falou em diversos traficantes. Foi um lapso de memória”, disse o subtenente Noronha. FB diz que sofreu tentativas de extorsãoPreso em uma unidade federal desde 2012, Fabiano Atanásio da Silva começou a depor por volta das 23h. Exaltado, ele começou a atacar a polícia do Rio de Janeiro. “Eu fazia parte do tráfico da Vila Cruzeiro, mas nunca fui líder de nada. Isso tudo veio de polícia mau-caráter, corrupto. Nunca dei dinheiro para não botarem processo em cima de mim. Hoje eu só respondo a tantos crimes porque nunca dei dinheiro para eles. Nunca dei arrego”, disparou. FB citou nomes de policiais, mas confundiu acusações e operações que teriam resultado em algumas prisões desses agentes (vários dos citados acabaram sendo absolvidos ao longo desses processos). O traficante classificou a polícia como “raça da pior espécie”. Debates acalorados e pane no sistemaOs debates entre defesa e Ministério Público entraram pela madrugada e começaram acalorados. Carmen Elisa e Fernanda Neves focaram suas explanações no histórico de crimes de FB, que tem uma extensa ficha criminal, que já somavam mais de 90 anos de cadeia antes da sentença desta quarta. Por volta das 3h, quando Cláudio Dalledone fazia a defesa diante dos sete jurados, o julgamento foi interrompido. Em Catanduvas, onde FB estava, o sistema de videoconferência travou, e eles não conseguiam mais acompanhar a audiência. O problema de conexão só foi reparado uma hora e meia mais tarde. E a juíza Tula Mello zerou o cronômetro da defesa, que voltou a falar por uma hora e 20 minutos. Dalledone e Renan atacaram a falta de provas da participação nos autos, lembrando que dos 26 indicados inicialmente, só quatro foram a Júri Popular. Fonte: G1