Trama golpista: o grande ‘perdedor’ dos interrogatórios, segundo os advogados dos réus

por Redação

Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, o general Walter Braga Netto foi o “grande perdedor” nos dois dias de interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), avaliam reservadamente advogados ouvidos pela equipe do blog que atuam no caso da trama golpista.

Na opinião de quatro advogados de diferentes réus do caso, Braga Netto não apenas complicou a sua situação como cometeu um erro estratégico ao dizer que não reconhecia as mensagens de celular usadas contra ele na acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolvimento numa intentona golpista para impedir a posse de Lula. Ao ser questionado, ele preferiu dizer que se tratavam de prints expostos de forma desconexa.

“Ficou difícil para o Braga Netto. Entendo que aquilo que é inquestionável, não se pode negar. Senão todo resto perde credibilidade. O que não é possível negar, você justifica – ainda que seja difícil. Caso contrário, até a verdade que você disser fica comprometida”, diz um dos defensores.

“Braga Netto saiu muito comprometido”, concorda outro advogado, com bom trânsito no meio político e jurídico.

Um dos maiores deslizes do general, na avaliação desses defensores, envolveu a resposta a uma pergunta do ministro Alexandre de Moraes sobre mensagens em que ele orienta ataques a colegas militares que se opuseram a uma articulação golpista para manter Bolsonaro no poder.

“E a apreensão de mensagens, onde uma mensagem do senhor, a mensagem é muito clara, diz: ‘Para sentar o pau nele, preservar o almirante Garnier (ex-comandante da Marinha, réu na trama golpista), mas também criticar o brigadeiro Baptista Júnior (ex-comandante da Aeronáutica no governo Bolsonaro, que se opôs à ofensiva para impedir a posse de Lula). O senhor se recorda?”, questionou Moraes.

O relator fazia referência a uma troca de mensagens de 15 de dezembro de 2022, quando manifestantes golpistas permaneciam acampados na frente de quartéis para contestar a derrota de Bolsonaro. À época, Braga Netto pediu ao major reformado do Exército, Ailton Barros, para endurecer as críticas a Baptista.

Em resposta ao relator, Braga Netto alegou que as “mensagens no inquérito estão fora de contexto, descontextualizadas”. “Eu não me lembro de ter enviado essa mensagem, eu não me lembro de ter feito essa mensagem. Eu posso confirmar para o senhor, com certeza, eu jamais ordenei ou coordenei ataques a nenhum dos chefes militares”, respondeu o general.

As provas obtidas pela Polícia Federal dizem o contrário. “Senta o pau no Batista Júnior (sic). Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita (sic) e ele fechado nas mordomias. negociando favores. Traidor da pátria. Daí para frente. Inferniza a vida dele e da família”, escreveu Braga Netto.

Em depoimento prestado no mês passado na condição de testemunha, Baptista Junior disse ao ministro Alexandre de Moraes que ele e sua família sofreram ataques de Braga Netto pelo fato de não ter aderido à minuta golpista discutida nos bastidores do governo Bolsonaro para impedir a posse de Lula. Para Baptista Junior, os ataques eram uma “tentativa infrutífera” de desviá-lo do caminho certo”.

Conforme revelou a coluna, Braga Netto também orientou Barros a disseminar uma mensagem repleta de ataques ao atual comandante do Exército, Tomás Paiva – o que, para a investigação da PF, consistiu em uma tentativa deliberada de “atingir a reputação” do general. Na mensagem Braga Netto diz ainda que parecia até que Tomás Paiva é “PT desde pequenininho”.

Diante de Moraes, o general mudou seu ponto de vista sobre Tomás Paiva. “Eu nunca escrevi essa mensagem. Eu conheço o Tomás, eu sei que o Tomás não tem nada de PT, nada disso. As mensagens estão desconexas.”

Na denúncia apresentada em fevereiro deste ano, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma categoricamente que os diálogos “não deixam dúvida sobre o papel relevante de Braga Netto na coordenação das ações de pressão aos comandantes, apoiado por Ailton Gonçalves Moraes Barros, que incitava militares e difundia os ataques virtuais idealizados pelo grupo”.

Em outro ponto de vulnerabilidade de sua defesa, o general refutou a acusação levantada pelo delator Mauro Cid de que recebeu dele uma caixa de vinho com dinheiro que seria destinado a um major acusado de integrar grupo envolvido num plano para “neutralizar” Moraes. Braga Netto alegou que achava se tratar de gastos de campanha.

“O que tem de real aí, presidente, há um equívoco nesse ponto. O Cid veio atrás de mim e perguntou se o PL podia arrumar algum dinheiro. Era muito comum, outros políticos, através ou do presidente Valdemar, ou do presidente Bolsonaro, pediram para pagar contas de campanhas atrasadas. Na minha cabeça, tem alguma coisa a ver com campanha. Eu viro pra ele e falo: ‘procura o tesoureiro, que é o Azevedo’. Eu deixei com o Azevedo, porque eu não sabia o que era”, afirmou.

Em meio ao constrangimento com o depoimento do general e a avaliação de que ele poderia se enrolar ainda mais com as respostas, as defesas dos demais réus não quiseram fazer perguntas.

Fonte: OGLOBO

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