Trama golpista: STF julga se torna réus militares do ‘núcleo 3’, que elaboraram plano com sequestros e assassinatos

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar nesta terça-feira (20) se transforma em réus mais 12 acusados de integrar os planos da trama golpista que tentava manter na presidência da República o então presidente Jair Bolsonaro, mesmo após a derrota nas eleições de 2022.

Desta vez, são julgadas as denúncias contra 11 militares e um policial federal do chamado “núcleo 3”, de ações táticas.

O número inclui os “kids pretos” — também chamados de “forças especiais” (FE) —, militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais. Ao g1, em 2023, o Exército confirmou a existência das tropas e disse que elas operam desde 1957.

Segundo a Polícia Federal, entre as ações elaboradas pelos indiciados neste grupo havia um “detalhado planejamento operacional, denominado ‘Punhal Verde e Amarelo’, que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022” para matar os já eleitos presidente Lula e vice-presidente Geraldo Alckmin.

Estão em julgamento nesta terça as denúncias contra:

general Estevam Gaspar de Oliveira
tenente-coronel Hélio Ferreira Lima
tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira
tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo
Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal (PF)
coronel Bernardo Romão Corrêa Netto
coronel da reserva Cleverson Ney Magalhães
coronel Fabrício Moreira de Bastos
coronel Marcio Nunes de Resende Júnior
general Nilson Diniz Rodriguez general
tenente-coronel Sérgio Cavaliere de Medeiros
tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo Júnior
Em delação, Mauro Cid relata ter recebido dinheiro a ser entregue para ‘kids pretos’

Crimes que serão analisados
Os investigados foram denunciados por cinco crimes:

organização criminosa armada
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
golpe de Estado
dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima
deterioração de patrimônio tombado
Desde março, o Supremo já tornou réus 21 investigados pela trama golpista – entre eles, Bolsonaro, Braga Netto e seus principais aliados.

As defesas dos acusados
Pela manhã, o STF ouviu os advogados dos 12 acusados. Em comum, as defesas:

pediram a rejeição da denúncia por “falta de provas”;
afirmaram que a reunião de novembro de 2022 que contou com a presença dos “kids pretos” não teve tom golpista – advogados usaram termos como “confraternização” e “conversa de bar” para descrever o encontro;
negaram que o grupo tenha pressionado o Alto Comando do Exército para aderir ao golpe de Estado – e disseram, inclusive, que seria incomum um coronel pressionar um general (patente superior);
questionaram a validade da delação do tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro;
colocaram em xeque a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgar as denúncias, já que os militares não têm foro privilegiado;
ressaltaram o currículo dos militares acusados – citando, por exemplo, missões internacionais executadas por eles.

“Não há manifestação concordando com o golpe – manifestação dizendo ‘avante, vamos la’, um emoji, um joinha assentindo com qualquer tipo de plano ilícito –, mas [só] a delação de Mauro Cid. Essa afirmação foi aceita e não foi tida como mentirosa”, disse o advogado Luiz Mario Felix de Moraes Guerra, que representa o coronel Cleverson Ney Magalhães.

Frentes de atuação
Conforme a acusação, o núcleo atuava em múltiplas frentes.

Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, como comandante do Comando de Operações Terrestres (COTER), aceitou coordenar o emprego das forças terrestres conforme as diretrizes do grupo.
Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Wladimir Matos Soares, no mesmo núcleo, lideraram ações de campo voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades.
Os especialistas (kids pretos) Bernardo Romão Correa Netto, Cleverson Ney Magalhães, Fabrício Moreira de Bastos, Márcio Nunes de Resende Júnior, Nilton Diniz Rodrigues, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Ronald Ferreira de Araujo Junior promoveram ações táticas para convencer e pressionar o Alto Comando do Exército a ultimar o golpe.

O Coter, que tinha à frente o General Theophilo, é o órgão do Exército encarregado de orientar e coordenar o emprego das forças terrestres. A estrutura era, portanto, órgão relevante para a implementação do plano golpista, especialmente na execução de ações sensíveis, como a da prisão do ministro Alexandre de Moraes.

Segundo a PGR, o modus operandi do grupo visava fomentar, no meio militar e entre os seguidores do ex-Presidente Jair Bolsonaro, a imagem de que os militares legalistas eram “traidores da pátria”, alinhados ao “comunismo”.

➡️ Entre as ações do grupo estavam o plano de atentado contra autoridades, chamado de “Punhal Verde e Amarelo”, que seria executado após as eleições presidenciais de 2022..

➡️ Além disso, o núcleo era responsável por fazer o monitoramento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e se cogitava o uso de armas contra o ministro Alexandre de Moraes e a morte por envenenamento do presidente da República.

➡️ Já os kids pretos teriam atuado para pressionar o Comandante do Exército e o Alto Comando, formulando cartas e agitando colegas em prol de ações de força no cenário político – tudo para impedir que Lula assumisse o Palácio do Planalto.

Fonte: G1

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