Mundo Trump, Venezuela e Oriente Médio: três perspectivas que mobilizam o mundo na chegada de 2025 Redação31 de dezembro de 2024021 visualizações Viramos a última página de um ano conturbado, marcado por 73 eleições nacionais e mudanças dramáticas no tabuleiro político de países cruciais. O primeiro mês de 2025 se anuncia quente. Os Estados Unidos promovem a reestreia de Donald Trump na Casa Branca; a Venezuela encena um terceiro mandato de Nicolás Maduro, desafiado pela oposição em eleição considerada fraudulenta. E o Oriente Médio se rearticula sob a batuta de Israel e Turquia. Veja quais são as perspectivas nesses três contextos: O retorno de Trump: à espera da concretização de promessas que podem reconfigurar a ordem mundial A posse de Donald Trump dita um novo compasso para os EUA e para o mundo, à espera de que ele concretize promessas mirabolantes já nos primeiros dias de governo: deportação em massa de imigrantes sem documentos, acordos para pôr fim às guerras da Rússia na Ucrânia e de Israel em Gaza, a radical guinada protecionista, traduzida na implantação de tarifas aos países aliados e vizinhos, e o encolhimento da máquina governamental capitaneada pelo bilionário Elon Musk. A retórica do presidente eleito é calcada no unilateralismo e no desprezo pelo que ele chama de globalismo. Neste segundo mandato, organismos como ONU e Otan e parceiros tradicionais dos EUA devem amargar mais dissabores no relacionamento com o presidente americano. O lema “America First” norteará os impulsos imperialistas de Trump, que animou o período natalino ao lançar provocações como o controle do canal do Panamá e a jocosa ideia da anexação do Canadá como o 51º estado americano. Durante a campanha, Trump alardeou bravatas e soluções simples que seduziram eleitores, mas que são complexas de executar. A etapa inicial deste segundo mandato será embalada pelas perspectivas de mudanças que ele ofereceu. Elas reconfiguram a ordem mundial e, ao mesmo tempo, ameaçam seriamente a liderança dos EUA no cenário externo. Venezuela: Maduro e González disputam legitimidade política em posse no dia 10 O ditador Nicolás Maduro não deixa dúvidas de que é ele quem tomará posse no dia 10 e conclamou seus partidários a se manifestarem nas ruas já nos primeiros dias do ano. Exilado na Espanha desde setembro, o opositor Edmundo González Urrutia, de 75 anos, assegura que voltará à Venezuela para assumir o cargo, apesar das ameaças dos homens fortes do regime de que será preso se pisar em solo venezuelano. Ambos disputam a legitimidade política com diferenças fundamentais. Maduro tem o controle das instituições estatais — o que lhe permitiu autoproclamar-se vencedor sem mostrar uma ata de votação —, mas amarga a impopularidade e o desprestígio no cenário internacional. É apoiado por regimes autocráticos como Rússia, Irã, China, Cuba e Nicarágua e insiste na velha ladainha — a de que o Palácio Miraflores “não cairá nas mãos de um fantoche da oligarquia ou do imperialismo”. González e Maria Corina Machado, por sua vez, reivindicam o triunfo na eleição de 28 de julho, com mais de 60% dos votos, e denunciam a fraude eleitoral. O líder opositor diz que tem um plano político para assumir a Presidência, sem revelar detalhes. Boa parte da comunidade internacional, incluindo o Brasil, não reconheceu a vitória de Maduro, que se manteve irredutível e desafiador, escorado nas Forças Armadas, no Judiciário, no Legislativo e no Conselho Nacional Eleitoral. O respaldo a González, contudo, não se refletiu em reconhecimento como presidente eleito, como ele gostaria. Isso já foi feito com Juan Guaidó e não surtiu o efeito desejado. “Não há dúvidas de que o governo não está disposto a transferir o poder para Edmundo González, mas a resposta não depende do que o governo quer, mas sim do que as instituições decidirão fazer ou não para apoiar o governo ou facilitar uma mudança política, aderindo à neutralidade político-institucional que lhes corresponde”, analisa Benigno Alarcón Deza, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés Bello. O regime vem dando sinais ambíguos para lidar com a frustração popular. Recentemente libertou 247 pessoas detidas por motivos políticos após as eleições, mas ainda restam 1.800 encarcerados, de acordo com a ONG Foro Penal. Em contrapartida, uma nova lei pune com 30 anos de prisão quem não reconhece Maduro como presidente ou que apoia sanções contra o regime. Ele antecipou ainda o plano de uma reforma constitucional, sob o argumento de empoderar os venezuelanos, mas que é interpretada como mais um mecanismo do chavismo para controlar o poder. Oriente Médio: Netanyahu e Erdogan emergem como forças dominantes O ano que termina empurra a instabilidade no Oriente Médio para outro patamar, em que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, emergem como os homens fortes da região e exibem a inabalável capacidade de sobrevivência. O presidente turco respaldou o campo vitorioso no colapso surpreendente do regime Assad, que perdurou por meio século na Síria. Sob a liderança dos rebeldes do grupo HTS, o destino do país ainda é incerto, mas Erdogan se beneficiará com o retorno de milhares de refugiados sírios, o enfraquecimento de curdos e acordos com o novo governo em Damasco. Como membro da Otan e aliado da Rússia, ele atua como ator importante no equilíbrio das tensões com a Ucrânia e o Ocidente. Humilhado pelo Hamas no maior massacre em solo israelense, em outubro de 2023, Netanyahu conduziu o país com força implacável para múltiplas frentes em Gaza, Cisjordânia, Líbano, Irã, Iêmen e Síria. O premiê isolou Israel no cenário externo e teve um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, que lhe impede de circular por 124 países. Desdenhou as advertências do presidente Joe Biden para interromper o cerco humanitário em Gaza e manteve, até quando quis, a ofensiva no Líbano. Netanyahu reconquistou a alcunha de Sr. Segurança e conseguiu recuperar parte da popularidade interna, a despeito das críticas por relegar a segundo plano um acordo de cessar-fogo em Gaza, para trazer mais de 100 reféns de volta ao país. Tornou-se réu em julgamentos por corrupção e não desistiu das ofensivas contra o sistema judiciário. Com tudo isso, ele se mantém de pé e desafiador. Descrito como única potência nuclear na região, Israel entra em 2025 com ganhos territoriais em Gaza e na Síria. Impôs severas derrotas a seus principais inimigos — Hamas, Hezbollah e, por consequência, o Irã — e assassinatos dos comandantes das organizações armadas. A questão é se e em quanto tempo conseguirão se reagrupar. Estas vitórias têm um custo alto para a economia e a reputação do país, que ostenta o título de única democracia da região. A sociedade israelense ainda se divide sobre o primeiro-ministro, e sua coalizão extremista permanece frágil, mas Netanyahu entra em 2025 com mais uma vida. Fonte: G1