Mundo Uso de armas nucleares contra a Ucrânia entra em pauta de analistas da Rússia após operação ‘Teia de Aranha’ Redação4 de junho de 2025022 visualizações O sucesso estratégico da Ucrânia com a chamada “Operação Teia de Aranha” e a realização de novos ataques contra a Rússia abriram um debate nacional sobre qual deve ser a reação de Moscou para restabelecer sua imagem de soberania militar. Interlocutores russos afirmam que o ataque massivo deve ser interpretado pelo Kremlin como um sinal verde para o uso do arsenal nuclear do país — uma hipótese que foi aventada ao longo do conflito, mas sempre com um contorno maior de ameaça do que de execução. A Rússia revisou sua doutrina sobre emprego de armas nucleares ao longo da guerra na Ucrânia. Se em um cenário anterior ao conflito o uso do arsenal só era permitido em caso de um ataque de outra potência nuclear ou em uma situação de ameaça existencial do país, uma revisão aprovada em 2024 incluiu no rol de hipóteses ataques por Estados não nucleares, se apoiados por países com arsenais atômicos — a Rússia considera que EUA e União Europeia (UE) contribuem diretamente com a guerra ao enviar armas à Ucrânia. É dentro desse contexto que algumas vozes com destaque no ecossistema do setor de defesa russo argumentaram que a última operação ucraniana merecia uma retaliação com o nível máximo de força. O canal militar “Two Majors”, que tem mais de um milhão de inscritos no Telegram, afirmou que a ação oferece mais que um pretexto, mas uma razão para bombardear a Ucrânia. “Depois da nuvem em forma de cogumelo, você pode pensar em quem mentiu, cometeu erros e assim por diante”, diz uma publicação do canal, referindo-se ao anúncio do Kremlin de que lançou uma investigação para avaliar a falha de segurança. As menções em apoio ao uso do arsenal nuclear não ficaram restritos à blogsfera militar russa. O apresentador da TV estatal Vladmir Solovyov — próximo ao presidente Vladimir Putin e alvo de sanções da UE desde 2022 — afirmou que a operação ucraniana era “motivo para um ataque nuclear”. Anteriormente ele já havia defendido essa escalada. O Kremlin não deixou claro como seria sua resposta ao ataque em profundidade contra seu território, que chegou até regiões no ártico e na Sibéria. Em resposta até certo ponto discreta, Moscou prometeu uma investigação sobre o ataque ucraniano, participou normalmente de um encontro diplomático na Turquia no dia seguinte ao ataque e apenas reivindicou alguns avanços na frente de guerra na região de Sumy, em uma dinâmica que já era regra antes do ataque sofisticado. O silêncio no Kremlin até este momento não é certeza de uma reação amena. Em setembro do ano passado, Putin afirmou que poderia usar armas nucleares se fosse atacado massivamente com mísseis convencionais. Embora a Ucrânia tenha intensificado recentemente seus ataques, o clima para muitos em Moscou é de certa normalidade. Ao contrário de Kiev, onde ataques russos matam civis regularmente e moradores recebem alertas para se abrigar durante bombardeios mais intensos, em Moscou, não há sirenes de ataque aéreo e não há pressa em buscar abrigos quando drones são detectados. O Ministro de Situações de Emergência, Alexander Kurenkov, simplesmente pediu aos russos que “tentassem manter a calma” em caso de ataque. — O pânico sempre desorienta — disse ele, segundo a mídia russa na semana passada, destacando a publicação de folhetos com “recomendações”. Enquanto calcula a resposta em reservado, o governo russo continua a dar sinais de normalidade nos demais compromissos. Nesta quarta, o Kremlin garantiu que um ataque reivindicado por Kiev contra a ponte que liga a Península da Crimeia ao território russo não causou danos, minimizando os relatos ucranianos. O país também parece comprometido em cumprir uma troca de presos que foi anunciada em Istambul na segunda-feira, envolvendo mil prisioneiros (500 de cada lado). O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, garantiu nesta quarta que os russos confirmaram que a troca seria feita neste fim de semana. (Com AFP) Fonte: OGLOBO