Venda de lugar na fila, agressões e pisoteamento: fãs de Jorge & Mateus narram tumulto na entrada do show da dupla no estádio do Pacaembu

por Redação

Fãs da dupla sertaneja Jorge e Mateus relataram venda de lugar em longas filas, tumulto e brigas na entrada do show realizado no último sábado (5), na Arena Pacaembu, Zona Oeste de São Paulo. A apresentação faz parte da última turnê antes da pausa na carreira dos artistas.

A maior parte dos transtornos foi enfrentada justamente pelos fãs mais dedicados da dupla Jorge e Mateus, que desembolsaram entre R$ 500 e R$ 1 mil por ingressos da chamada “pista premium” do show comemorativo dos 20 anos de carreira.

Segundo relatos, cerca de 2 mil pessoas vivenciaram momentos de caos a partir das 17h, quando começaram a chegar à Arena Pacaembu para acompanhar a apresentação. Eles relatam que a fila para acesso à arena dava mais de cinco voltas na Praça Charles Miller e que apenas sete catracas estariam em funcionamento, provocando lentidão na entrada.

Antes do show principal, o evento contou com apresentações de artistas como Belo e a dupla César Menotti & Fabiano. Com o passar das horas, a angústia entre os fãs aumentava diante da possibilidade de perderem a aguardada performance dos ídolos, programada como a última da noite.

Segundo alguns fãs ouvidos pelo g1, a organização do evento não informou em nenhum momento qual o horário que o show principal da noite começaria.

Porém, a fila andava muito lentamente e a confusão começou a se armar quando um grupo de cambistas começou a oferecer cortes na fila de entrada por valores que variavam de R$ 30 a R$ 50.

“A fila estava imensa e não andava. Quando deu 19h, todos achando que estava tocando César Menotti e Fabiano, notamos pelos fogos que era o início do show do Jorge e Mateus. Foi um empurra- empurra na fila para pressionar que andasse mais rápido”, contou a publicitária Vanessa Cristina Pereira.

“Nesse momento, eis que noto um bate-boca atrás de mim. Estavam filmando cambistas que estavam cobrando para passarem pessoas diretamente na catraca. Um rapaz levantou o celular para filmar, e começou uma porradaria generalizada com outros cambistas que foram chamados”, disse.

Vanessa narra que chegou ser pisoteada na confusão.

“Um rapaz bateu no outro com uma lata de lixo. Aí as pessoas [que estavam na fila] começaram querer pular a grade do show. Derrubaram as grades, inclusive em cima de mim. E aí um monte de gente começou brigar em cima da gente nesse recuo. A gente caiu e outras pessoas começaram a passar por cima da gente. Todo mundo ficou preso nesse recuo”, afirmou.

O que dizem os responsáveis pelo evento
Por meio de nota, a Allegra Pacaembu – empresa que administra o estádio após reforma – disse que “já convocou os promotores do evento para esclarecer os ocorridos que geraram desconforto ao público”.

“Nosso compromisso é o de que a experiência dos shows seja a melhor possível, tanto para o público quanto para os bairros vizinhos”, afirmou a empresa.

O g1 também procurou a produção da dupla Jorge & Mateus, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.

Início da confusão
O rapaz que tentou filmar a ação de um dos cambistas é o mecânico de empilhadeira Wellington Gomes. Ele tinha ido ao show com a esposa e um grupo de seis amigos. O mecânico comemorava os dois anos de casamento com a enfermeira Melissa Monteiro.

A moça disse que, no meio da confusão, ela também foi agredida com um soco no rosto que quebrou seus óculos.

“Uma menina na nossa frente foi denunciar lá na catraca que os cambistas estavam vendendo espaço pra quem quer cortar a fila. O coordenador do evento disse pra ela provar e aí meu marido tirou o celular para filmar e perguntou pro cambista: ‘você acha legal fazer isso que você tá fazendo, bigode?’. Aí o cambista tentou tomar o celular dele. Como não conseguiu, ligou pra outros cambistas. Em segundos tinham mais de dez deles que começaram a bater no meu marido e num amigo nosso”, contou a enfermeira.

A estudante Larissa Simões presenciou todo o tumulto e diz que toda a situação vivida pelo grupo foi consequência do que ela chama de “total falta de organização das empresas que produziram o show”.

“A gente chegou por volta das 17h e a fila estava enorme. Não tinha nenhum funcionário da Allegra ou da Enter Eventos para orientar onde era a entrada correta da pista premium. Quando a confusão começou, não tinha nenhum policial na Praça Charles Miller, nenhum segurança. Uma desorganização que nunca vi na minha vida em shows desse nível”, disse a moça.

“Quando a confusão começou, tinha uns dez cambistas batendo nos dois meninos. Eles inclusive faziam ameaças, dando a entender que estavam armados. Na correria pra perto da entrada, minha irmã foi agredida, tomou socos e chutes. Eu comecei a chorar e gritar, porque estava prensada na grade. Foi um inferno que deixou todo mundo traumatizado”, contou Larissa.

A jovem Rayane Ferreira, que estava já dentro do estádio na hora da confusão, narrou que demorou uma hora e meia para conseguir entrar e, quando finalmente estava na pista premium, ouviu relatos da briga na parte de fora.

“Teve muito desorganização na entrada, fiquei mais de uma hora e meia na fila para conseguir entrar. Quando o show principal começou, a fila ainda estava grande lá fora porque tinha muitos ingressos dando erro de leitura na entrada. E como estava dando erro do ingresso, tudo estava travado”, afirmou.

“Ouvi relatos na fila do banheiro de pessoas que subornaram os seguranças para conseguir entrar. Já fui em diversos shows do Jorge e Mateus como fã mesmo, nunca vi nada desse tipo”, comentou.

Descaso e reembolso

As reclamações sobre o ocorrido no sábado (5) inundaram as redes sociais da dupla Jorge e Mateus e também da Arena Pacaembu. Há muitos relatos e reclamações da desorganização e perrengues enfrentados pelos fãs da dupla sertaneja.

Além da confusão, os fãs também reclamaram da superlotação dentro do estádio e falta de sinalização para encontrar banheiros, locais de compra de bebidas e finalização correta das saídas de emergência.

Fãs que estavam do lado de fora da Arena Pacaembu quando o show começou dizem que só conseguiram entrar apenas perto das 20h, quando já tinha transcorrido mais de 1h da apresentação dos sertanejos.

Alguns registraram queixa da delegacia pelas agressões e pretendem ir à Justiça para reaver o valor caro pago pelos ingressos. É o caso da enfermeira Melissa Monteiro.

“Já registrei o B.O junto com os meus amigos. A gente pretende ir ao Procon e à Justiça para tentar reaver os valores do ingresso. Foi uma experiência traumatizante. Como eu trabalho perto do Pacaembu, quando meu ônibus passa em frente eu já choro de nervoso, lembrando de tudo que aconteceu”, contou.

“Foi um descaso tudo isso. A gente gostaria de um ressarcimento do ingresso e um pedido de desculpas pelo que aconteceu. Não sei se os artistas ficaram sabendo do que realmente ocorreu lá fora, mas foi uma humilhação com os fãs que tanto adoram eles”, afirmou Larissa Simões.

Por meio de nota, a Polícia Militar disse que “realizou esquema de segurança específico para o entorno do evento, com equipes da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (ROCAM), viaturas de quatro rodas e uma Base Comunitária Móvel, com foco na manutenção da ordem pública nos arredores do estádio”.

Disse também que uma ocorrência foi atendida pelos policiais que integravam a base e foi solucionada no local, sem necessidade de condução das partes ao distrito policial.

“A Polícia Civil permanece à disposição para a formalização de boletim de outras eventuais ocorrências, não localizadas com os dados fornecidos. A autoridade policial reitera a medida para dar início às investigações”, afirmou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Reclamações da vizinhança

Além dos fãs, os vizinhos da Arena Pacaembu também usaram as redes sociais do estádio para reclamar de problemas do lado de fora.

O entorno do estádio é formado de casas de alto padrão, que sempre foram contra transformar o estádio em uma casa de evento.

Após os shows, a vizinhança relatou falta de agentes da CET para coordenar o trânsito, presença massiva de flanelinhas, carros estacionados na frente das garagens das casas e barulho além dos limites estabelecidos pela lei de ruídos da capital paulista.

A Allegra Pacaembu disse, por meio de nota, que “depois de 20 anos sem shows no local, é esperado que surjam alguns incômodos”.

“Com relação a isso, a Concessionária vem tomando diversas medidas a fim de minimizar o impacto na região, como a nova localização do palco e melhorias nos acessos das vias ao redor do Complexo”, afirmou.

O g1 também procurou a Prefeitura de SP para falar desses problemas do lado de fora e, segundo a gestão municipal, equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) atuaram no monitoramento do trânsito no entorno do Estádio do Pacaembu nos dias 5 e 6 de abril desde as 6h e aplicaram 178 multas por infrações relacionadas a estacionamento irregular.

“Todas as informações sobre interdições e caminhos alternativos foram divulgadas previamente no site da companhia. A CET monitora rotineiramente o entorno do Pacaembu e, para os dias de eventos, ativa um plano operacional específico”, afirmou.

A Subprefeitura Sé também informou, por meio de nota, que “houve fiscalização no local para evitar o uso inadequado do espaço público por ambulantes irregulares”.

“A Guarda Civil Metropolitana (GCM) prestou apoio aos agentes da subprefeitura durante as ações de fiscalização na Praça Charles Muller. A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer informa que a segurança interna do Complexo Pacaembu é de responsabilidade da concessionária”, disse a nota.

Fonte: G1

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