Virada Cultural supera violência com só um palco 24 horas e público bem menor que o dos outros anos

São Paulo teve, em 2023, uma Virada Cultural que não virou. O único espaço que funcionou 24 horas, no Anhangabaú, ficou quase vazio de madrugada. Outros palcos, conforme a programação, fecharam no fim da noite e retornaram só na manhã seguinte.

Os números oficiais não foram divulgados pela Secretaria de Segurança Urbana até 20 horas, mas o que se viu desde o início, às 18 horas de sábado, foi uma operação policial inteligente, pensada juntamente com a produção artística do evento. Apesar dos receios do público, a violência foi superada.

Não faltaram bons shows na noite e na manhã. A catarse do BaianaSystem, a aula de Alceu Valença e uma homenagem completa a Rita Lee estiveram entre os destaques. Gloria Groove e Anavitória enfrentaram e venceram obstáculos (problemas no som no Anhangabaú e chuva no Butantã, respectivamente). No show da Iza, houve um problema pontual na plateia.

O Viaduto do Chá, a Praça Ramos de Azevedo e as escadarias da Líbero Badaró estavam cercados com tapumes, isolando o Anhangabaú do entorno, como se fosse uma fatia separada da cidade.

Para evitar os arrastões, a festa foi feita em cercado, resumiu um fã. O público passou pelas grades e pela revista e assistiu feliz a dois ótimos shows de Gloria Groove e do BaianaSystem.

A plateia estava cheia, mas não lotada. Assim que o grupo baiano parou de tocar, aconteceu a retirada em massa. O Anhangabaú esvaziou, e só começou a encher de novo ao longo da homenagem a Rita Lee no dia seguinte.

Nas zonas mais distantes, era possível perceber policiais conversando por volta das 2h30 – no início do evento, eles estavam tensos. Até a revista na entrada foi se tornando mais condescendente com a diminuição do público e deixou de lado o detector de metais.

O número de viaturas também caiu pela metade. Para se aproximar do palco no show de Dread Mar-I, não era necessário empurrar ninguém. Dava para chegar sem aperto e com tranquilidade.

A debandada é compreensível pelo receio das pessoas em viver mais um ano de violência – o que não aconteceu em 2023. Mas a impressão é que a própria programação buscou esse movimento, vide o abismo de popularidade entre as duas primeiras atrações e as seguintes: Josyara e Dread Mar-I.

Em outros locais também não houve registro de grandes problemas. Na tarde cinzenta de chuva fina do domingo, por exemplo, o palco Butantã estava tranquilo para receber a dupla Anavitória.

As pessoas se concentraram mais à frente da pista, com muitos espaços vazios ao fundo. A revista era feita de forma rápida, com um certo desleixo. Mas havia muitos policiais no entorno.

Outras 11 arenas pela cidade tiveram fartura de boas atrações. O sábado teve Carlinhos Brown, Raça Negra, Nação Zumbi, Livinho e mais. No domingo, Djonga, Tierry, Léo Santana, MC Caveirinha, Emicida, Zé Vaqueiro, Cabelinho, Marina Sena e outros.

Em resumo, o evento teve bela curadoria, de cabeça aberta. E um palco em Heliópolis pela primeira vez. A impressão que fica é de uma Virada pronta para ser repensada. Não falta, no palco e na plateia, energia para isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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