O Brasil registrou 2.058 casos de febre maculosa e 695 mortes pela doença entre 2013 e 2022. Os dados são do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Somente o estado de São Paulo concentrou mais de 61% das mortes (426) e 35% dos casos (722) nos últimos dez anos. A doença é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, sendo o principal vetor o carrapato-estrela.
Nesta semana, o Governo de São Paulo emitiu um alerta para um surto de febre maculosa que teria começado na Fazenda Santa Margarida, em Campinas, no interior do estado. Atualmente mapeado como área de risco, o local recebeu dois eventos: o show do Seu Jorge, com 10 mil participantes; e a Feijoada do Rosa, com cerca de 3.500 pessoas.
Desde a última segunda-feira (12), o Instituto Adolfo Lutz já confirmou a morte de cinco pessoas que frequentaram festas na fazenda. O piloto Douglas Pereira Costa, de 42 anos, e a dentista Mariana Giordano, de 36, estão entre as vítimas.
Ao R7, a infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia Tânia Chaves explica as causas que levam o estado paulista a liderar o número de óbitos. No Brasil, há dois tipos de bactérias causadoras da doença: a Rickettsia rickettsii e a Rickettsia parkeri. A primeira espécie é considera mais grave e é encontrada, justamente, nos estados da região Sudeste e no Pará.
De acordo com a infectologista, o tipo de bioma também exerce grande impacto na proliferação dos carrapatos-estrela. “São Paulo tem as características do bioma, os aspectos da vegetação e de mata silvestre mais propícios para [esses aracnídeos] alcançarem a vida evolutiva plena”, explica.
Além desses fatores, o risco de infecção para os humanos está relacionado com a interação com animais silvestres, como capivaras e cavalos, e com a exposição em locais de risco, principalmente em áreas rurais, como atividades em fazenda, pescaria ou trilha em cachoeira.
Apesar de ser uma doença com elevada taxa de letalidade, a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia reforça que a população não precisa entrar em pânico em relação ao surto em Campinas, mas é preciso ficar em alerta.
No ano passado, o Brasil registrou 190 casos e 50 mortes por febre maculosa. Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, neste ano foram confirmados 54 casos da doença, dos quais 9 resultaram em óbitos. Ou seja, os números estão dentro do esperado.
“A doença é conhecida em São Paulo desde 1929. Então, a gente já sabe da existência da doença há muito tempo. Felizmente, ela apresenta poucos surtos como o de agora. No geral, é extremamente normal ter todo os anos casos de febre maculosa, porque é uma região endêmica”, afirma a professora de Entomologia do Instituto de Biologia Patrícia Thyssen
Carrapato-estrela não está presente só em SP
Apesar de proporcionalmente o maior número de casos ser em território paulista, o carrapato-estrela, hospedeiro da bactéria que causa a febre maculosa, pode ser encontrado em outras regiões do Brasil, mas em especial na Sudeste.
Entre 2013 e 2022, a região Sudeste registrou 1.262 casos da doença, sendo 722 em São Paulo, 317 em Minas Gerais, 154 no Rio de Janeiro e 69 no Espírito Santo. Isto é, em média, 6 de cada 10 casos foram confirmados nessa região do país nos últimos dez anos.
Patrícia Thyssen reitera que o clima presente no centro-sul do país é mais favorável ao parasita, assim como a grande presença de hospedeiros.
“O carrapato-estrela, particularmente, vive associado a regiões rurais e perto ou próximo de mata e água, em algumas situações”, explica. “[Este animal] tem preferência por sugar sangue de equinos e roedores. Por isso, frequentemente, são encontrados na zona rural.”
De acordo com a professora de entomologia do Instituto de Biologia, o contato entre as pessoas e o parasita costuma ocorrer entre os meses de maio e agosto, fase na qual o animal está em busca constante por novos hospedeiros.
“A gente tem no campo [entre maio e agosto] muita larva, muito micuim, muita ninfa, fases em que os [carrapatos-estrela] são mais vorazes. Eles se alimentam mais e ficam sempre na vegetação”, continua a especialista.
Como combater a doença?
Para Tânia Chaves, a principal ferramenta de prevenção da doença é a informação. “É necessário criar um programa [governamental] envolvendo todos os setores da sociedade, inclusive a rede de saúde e de educação. Tem que ser uma informação clara e objetiva, principalmente sobre a sazonalidade [da infecção de maio a agosto]”, sugere.
Como a doença tem alta letalidade, também é essencial o diagnóstico precoce. Assim que surgirem os primeiros sintomas, é importante que o paciente procure ajuda nas unidades de saúde para avaliação médica e tratamento.
Em áreas consideradas de risco, o Ministério da Saúde também recomenda a utilização de roupas que cubram todo o corpo, com preferência às cores claras. Dessa forma, os carrapatos podem ser vistos com maior facilidade.
A pasta ainda recomenda o exame do corpo com frequência, pois quanto mais rápido os carrapatos forem retirados, menores os riscos de infecções.
Quais são os sintomas?
Os principais sintomas, segundo o Ministério da Saúde, são:
- Febre;
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos.;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e na sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e nas orelhas;
- Paralisia dos membros que começa nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando parada respiratória.
Fonte: r7