Uma clínica de estética, conhecida por atender famosos em São Paulo, publicou fotos de antes e depois de procedimentos feitos no rosto do prefeito Ricardo Nunes (MDB), de 56 anos. A conta do prefeito foi marcada em uma postagem publicada em rede social na tarde desta quinta-feira (7) pela JK Estética e, tão logo viralizou, foi apagada.
Na legenda, o texto dizia: “Com muito carinho e dedicação, realizamos um tratamento facial especial para o nosso prefeito, reforçando nosso compromisso em cuidar da estética de líderes que representam nossa cidade! #JKEstetica #ParceriaDeCuidado”.
Em 31 de outubro, a CEO da clínica, Simone Viotto, participou de um almoço com outras mulheres no gabinete de Nunes. O evento não fez parte da agenda oficial do prefeito.
O g1 procurou tanto a prefeitura quanto a clínica para que esclarecessem se houve permuta, ou algum tipo de parceria entre ambos, e também sobre a autorização da publicação por parte do prefeito, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Questionado pelo g1 se a imagem de um gestor público pode ser associada a uma marca, o professor de psicologia e ética na FGV-Eaesp, Vitor Carvalho, afirmou que o ato pode ser caracterizado como “instrumentalização da figura pública”.
“Permitir que uma imagem desse tipo, de antes e depois, de um prefeito, seja usada por uma empresa privada para autopromoção, especialmente carregando essa hashtag, #parceriadecuidado, levanta, sim, questões éticas e críticas sobre o que a gente pode entender como instrumentalização da figura pública”, avaliou.
Fontes do Ministério Público disseram à TV Globo que, se o órgão for provocado por uma representação, deve abrir procedimento para investigar se houve alguma irregularidade.
Para o professor da FGV-Eaesp, “um prefeito, ao se associar a uma empresa, para veicular sua imagem de forma quase publicitária, desta maneira, está se submetendo a um tipo de banalização mercadológica, transformando sua imagem, que é para ser um representante da coletividade, em um produto”.
Na medida em que faz isso, complementa, há uma mistura entre interesses privados e públicos e, assim, acaba comprometendo o “papel essencial de um gestor público, que tinha de ser guiado por ética e por um serviço à sociedade”.
“Uma atitude como esta demonstra um afastamento dessas responsabilidades reais e está se aproximando de práticas de autopromoção que vai chegando ao favorecimento da empresa, também banalizando a confiança e os valores de sua própria função pública.”
Do ponto de vista de uma marca, diz o especialista, esse tipo de associação também é questionável. “De modo geral, uma empresa comprometida com o que chamamos de responsabilidade social deve evitar se envolver em postagens que possam soar como promoção de políticos. É importante, para a ética da empresa, claro que isso fica a cargo da reflexão da empresa, mas para sua ética, é importante se manter imparcial e íntegra em suas ações.”
Em resumo, afirma o professor, “esse tipo de postagem sugere uma falta de compromisso ético tanto da parte do prefeito quanto da empresa”. “A imagem pública, os recursos, e a confiança da população têm que ser usados para o bem comum, nunca para os interesses individuais, ou reforçar a imagem individual, se autopromover.”
Fonte: G1