‘Tive um AVC aos 20 anos enquanto fazia esteira, tentando emagrecer a qualquer custo’

por Redação

A criadora de conteúdo Nicole Peixoto Freire, de 29 anos, sofreu um acidente vascular cerebral aos 20. Ela estava na esteira da academia quando passou mal. O lado esquerdo de seu corpo paralisou e só melhorou com fisioterapia. Ainda assim, ela não tem mais o movimento da mão esquerda.

“Eu estava fissurada em emagrecer e fui para esteira correr. Só que eu não tinha preparo físico. Escolhi um treino aleatório, que era tiro super rápido a 17 km/h, sendo que eu nunca tinha corrido antes. Eu queria me ver suando. Também estava fazendo uma dieta restrita, sem muito carboidrato”, lembra.

“Ainda que isso não tenha causado meu AVC, o meu alerta é que nada que você faça por estética vai valer tão a pena que compense você perder sua saúde”, diz.

Enquanto corria na esteira do prédio em que morava, Freire olhou para trás ao pensar que viu alguém e depois sentiu uma pontada na cabeça. Ela chegou a pensar que tinham batido nela. Instintivamente, a criadora de conteúdo puxou a trava de segurança da esteira, desceu e sentou no chão. Ao ligar para o seu pai, ele notou que havia algo de errado com a filha. “Eu achava que estava morrendo”, lembra Freire.

Sua madrasta desceu com a médica do prédio, e Freire foi encaminhada para o hospital às pressas. Nesse momento, o lado esquerdo do seu corpo estava paralisado. Entre a ligação de Freire com o pai e a ida ao pronto-socorro levou cerca de 30 minutos. A rapidez em buscar atendimento especializado é fundamental para um desfecho positivo em casos de AVC.

A confirmação do AVC
Ao chegar ao pronto-socorro, a jovem foi rapidamente medicada com trombolítico, fármaco usado para disolver coágulos sanguíneos. Na sequência, fez tomografia, exame que confirmou o acidente vascular cerebral isquêmico.

Freire ficou três dias na UTI e os descreve como os piores da sua vida. “Eu gritava para os meus médicos que não ia mais andar e chorava muito por medo de morrer”, lembra. Ela sofreu também pela incerteza do que seria sua vida após o AVC e de tudo que ela teria que abrir mão pelas perdas dos movimentos do lado esquerdo do corpo.

Você entende, aos poucos, que não consegue andar ou se mexer na cama e precisa de ajuda para ir ao banheiro, colocar roupa e comer.”
— Nicole Peixoto Freire, criadora de conteúdo
Depois da UTI, ainda ficou uma semana no quarto e, então, recebeu alta do hospital. Em casa, a situação ainda estava delicada. Mas a criadora de conteúdo tinha a certeza de nunca estar sozinha.

“Eu estava torta, não conseguia andar nem comer e tomava remédios de duas em duas horas. Mas agradeço a Deus porque eu tinha amigos e familiares por perto, para me darem banho, lavarem meu cabelo, me fazerem dar risada”, reflete.

A busca do diagnóstico correto
No hospital de Curitiba (PR), onde Freire mora, o AVC foi justificado como se paciente tivesse uma doença autoimune. Insatisfeitos com a explicação médica, os pais da criadora de conteúdo a levaram para São Paulo.

Quando chegaram no novo estado, a paranaense foi internada novamente para iniciar a investigação do seu quadro. Ela passou sete dias no hospital. Embora exausta devido ao desgaste emocional de duas internações seguidas, Freire descobriu o motivo de ter tido um AVC: um quadro de dissecção arterial.

“A dissecção ocorre quando a camada mais interna da parede da artéria se rompe, permitindo que o sangue infiltre a própria parede arterial. Isso compromete sua estrutura, que deveria permanecer íntegra para garantir um fluxo sanguíneo adequado dentro da artéria”, explica o neurologista Érico Induzzi Borges, do Hospital Nove de Julho.

Já a relação entre o quadro e o AVC isquêmico se dá porque “quando o sangue ocupa espaço dentro da parede da artéria, a área destinada ao fluxo sanguíneo é reduzida. Além disso, o sangue também pode coagular no local da lesão. Se tratando de uma artéria do pescoço, chegará menos sangue para irrigar o sistema nervoso e, no segundo exemplo, o coágulo pode causar entupimento de uma artéria menor, que se localize dentro do cérebro”, como informa Borges.

Com o diagnóstico correto, Freire iniciou a reabilitação. Com três meses de fisioterapia, os movimentos começaram a voltar, mas foi preciso aprimorá-los. “Eu andava, mas muito mancando. Meu braço voltou a mexer, mas não tinha força nele. A minha mão não mexe até hoje”, explica.

A reabilitação também fez com que a criadora de conteúdo aprendesse a perder peso de forma saudável, sem se colocar em risco, para inclusive ter disposição para realizar a fisioterapia. Freire também se dedicou a cuidar da sua saúde mental no processo de recuperação.

“Hoje, sou uma pessoa totalmente independente. Posso ficar sozinha, cuido da minha casa, malho, já montei a cavalo, joguei tênis, faço box, musculação… O meu propósito de vida é mostrar para pessoas que passam pelo AVC que podemos mudar o que quisermos”, reflete.

Freire faz isso principalmente nas redes sociais, como no seu perfil @ni.freire no TikTok, em que ela divide seu dia a dia com seguidores e suas reflexões sobre a vida seguir apesar das adversidades.

Qual a relação entre dissecção arterial, AVC e atividade física?
“Exercícios de alto impacto ou movimentos bruscos de rotação ou inclinação do pescoço podem aumentar o risco de dissecção, mas a corrida por si só não é uma causa. Na presença de sintomas neurológicos, é muito importante buscar ajuda antes da prática de qualquer atividade física”, reforça Borges.

Vale lembrar que o sintoma mais frequente da dissecção arterial é a dor no pescoço, do lado da lesão da artéria. No entanto, outros sinais menos específicos podem estar associados ao quadro como visão dupla, tontura, dificuldade para falar ou engolir e fraqueza em um dos lados do corpo.

Fonte: revistamarieclaire

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