Perfis falsos, sequestros filmados e tortura ao vivo: como agiam ‘justiceiros’ que atraíam homens para falsos encontros com adolescentes na Argentina

por Redação

As autoridades argentinas desmantelaram, recentemente, uma organização conhecida como “los caza violines” — ou “os caça abusadores”, na tradução livre para o português. O grupo, que atraía homens pelas redes sociais e os submetia a sessões de tortura física e psicológica transmitidas ao vivo, alegava agir somente contra abusadores sexuais. Além disso, usavam redes sociais para transformar os episódios de violência em conteúdo viral. Eles foram acusados de sequestro, extorsão e agressão.

Como agiam os ‘caça abusadores’?
A estratégia da quadrilha começava com a criação de perfis falsos em redes sociais e aplicativos de namoro. Uma jovem de 21 anos, conhecida como “A Isca”, se apresentava como maior de idade e iniciava conversas com homens adultos. No meio do diálogo, de maneira desconexa, introduzia frases como “tenho 13” — um gatilho usado para posteriormente acusar as vítimas de grooming (assédio online de menores).

Após ganhar a confiança da vítima, o grupo marcava encontros presenciais em apartamentos alugados temporariamente, preparados com câmeras, luzes e equipamentos de transmissão ao vivo.

Assim que o homem chegava ao local, era surpreendido por outros integrantes do grupo. Depois, era imobilizado, espancado e filmado. Em uma das ocorrências que motivou a investigação, um homem de cerca de 40 anos foi convidado por uma jovem para um apartamento na Avenida Corrientes. Imagens de câmeras de segurança mostraram os dois entrando juntos no prédio. Minutos depois, o pesadelo começou.

Durante mais de duas horas, ele foi agredido enquanto a cena era transmitida ao vivo na plataforma Kick. Os agressores, além disso, expuseram seus dados pessoais: número de telefone de familiares, amigos e até empregadores, gerando uma onda de perseguições e ameaças por parte de internautas.

Manipulação e distorção para viralizar
Os celulares das vítimas eram usados para manipular as informações. O grupo escondia partes das conversas originais e mostrava apenas os trechos que interessavam para justificar os ataques, criando a falsa narrativa de que os homens estariam tentando se encontrar com menores.

O objetivo, segundo os investigadores, não era a denúncia de crimes sexuais reais — mas a produção de conteúdo sensacionalista, com potencial de viralização. Os apartamentos eram alugados exclusivamente para esse fim, montados como estúdios de gravação improvisados.

O grupo era liderado por Brandon Joaquín Maldonado, de 29 anos, conhecido nas redes como “El Quechuga” ou “Brandon Lee”. Ele acumulava mais de 80 mil seguidores no Instagram e já era conhecido por publicar vídeos nos quais supostamente confrontava abusadores.

Em entrevistas e vídeos anteriores, Brandon dizia se inspirar em criadores de conteúdo norte-americanos que abordavam predadores sexuais. Em seus perfis, publicava vídeos com títulos como “Violino caçado e domado” ou “Empresário de 51 queria com uma de 12”, sem nunca ter respaldo de autoridades ou investigações formais.

Investigação
O caso ficou sob responsabilidade do Juizado Nacional de Menores Nº 1, com apoio da brigada de investigações da Comuna 5. A participação de um adolescente de 17 anos nos ataques levou o caso para o foro da infância e juventude.

No dia 2 de abril, enquanto o grupo realizava mais uma transmissão ao vivo, os investigadores conseguiram identificar a região de onde o vídeo era transmitido. Uma vigilância foi montada e, horas depois, os cinco integrantes da quadrilha foram presos.

Todos foram acusados de sequestro qualificado, coação e violência agravada por múltiplos autores e pela participação de um menor de idade. As penas para os adultos podem chegar a 25 anos de prisão.

Até agora, há apenas uma denúncia formal. No entanto, os registros das transmissões mostram que existem outras vítimas, que estão sendo identificadas. Parte do conteúdo publicado pela quadrilha ainda circula nas redes, e a Justiça trabalha com as plataformas para remover o material e preservar as provas.

O caso segue em fase de instrução e novas testemunhas devem ser chamadas nos próximos dias.

Fonte: OGLOBO

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