O risco de incêndio em um prédio no centro de São Paulo faz com que todo o entorno dele também esteja sob ameaça. A avaliação é do engenheiro civil Roberto Racanicchi, coordenador adjunto da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo).
Na noite do dia 10 de julho, chamas de grandes proporções tomaram conta de diversos prédios localizados entre a rua 25 de Março e o Mercado Municipal. O incêndio fechou o comércio e assustou lojistas e pedestres que circulavam pelas ruas.
Estruturas antigas e precárias, ausência de manutenção elétrica e o armazenamento de materiais inflamáveis tornam os edifícios da região central da cidade mais suscetíveis aos incêndios. “Se um prédio como aquele entrar em colapso, o estrondo causado e o movimento do edifício em chamas no chão pode danificar todas as estruturas do entorno”, explica o engenheiro.
Incêndio em prédios na 25 de Março
O Corpo de Bombeiros foi acionado para apagar um incêndio que teve início em um galpão onde funcionavam lojas de brinquedos e artigos de festas, na rua Barão de Duprat, altura do número 95, na Sé, bairro do Centro Histórico de São Paulo.
As chamas comprometeram a estrutura do edifício e se alastraram para outros três empreendimentos. Os bombeiros conseguiram entrar no prédio por volta das 4h do dia seguinte ao incêndio, e o fogo foi contido somente depois de 60 horas do início da ação.
O arquiteto Alexandre Hodapp, membro da Peabiru Trabalhos Comunitários e Ambientais, aponta que edifícios com grandes fachadas de vidro e sem a compartimentação adequada entre andares e o recuo necessário entre outros prédios permitem que o fogo se alastre rapidamente.
O engenheiro do Crea-SP Roberto Racanicchi destaca que os edifícios são projetados de acordo com as suas especificidades. “O edifício onde se iniciou o incêndio era residencial e não deveria estar sendo usado para depósito de materiais inflamáveis. Quando você projeta um prédio, você prevê uma segurança específica contra incêndio para aquele lugar”.
Prejuízos e adequações
Dados da Univinco (União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências) apontam que o incêndio no maior centro de comércio popular do país deixou quase 300 lojas de portas fechadas, além de afetar cerca de 15 mil funcionários.
Para ajudar os lojistas a se adequarem às normas de segurança, Marcelo Mouawad, diretor da Univinco, afirma que a organização fechou um convênio com o Crea-SP. “Muitos lojistas cumprem as exigências, mas alguns menores esbarram na burocracia, na dificuldade de instalação, ou até nos custos para adequar prédios tão antigos”, disse.
De acordo com Mouawad, a parceria com o Crea-SP vai assessorar os pequenos lojistas a conseguir a documentação contra incêndios e adaptar as instalações para minimizar riscos. “Depois do incêndio na 25 de Março, houve um mutirão na prefeitura para os lojistas se adequarem às instalações de segurança das edificações ao AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) o quanto antes”, acrescentou.
Para obter o documento que atesta o funcionamento da edificação de acordo com as condições de segurança contra incêndio, os proprietários precisam apresentar um projeto técnico, e as medidas de segurança devem ser implementadas. Por fim, é necessário solicitar a vistoria dos bombeiros.
A engenheira e arquiteta Ana Flores, diretora da AF Engenharia contra Incêndios, alerta: “A segurança contra incêndios precisa ser tratada seriamente. A falta de atenção com essas normas pode ocasionar tragédias e levar à morte.”
Muitos proprietários que possuem empreendimentos no Centro, afirma Ana, não se atentam às normas de segurança. “A verdade é que o brasileiro precisa evoluir na cultura de segurança contra incêndios e entender que é necessário fazer o correto, que os sistemas devem ser eficientes para que, em caso de incêndio, eles funcionem”, afirmou.
Fonte: Com informações da Agência Estado