Estratégia para reduzir custos e manter o preço dos produtos não é ilegal, mas há regras que as empresas devem seguir
O pacote de sabão em pó passou de 1 kg para 800 g, o biscoito de 200 g agora tem 160 g, a aveia perdeu 35 g, o molho de tomate foi reduzido de 150 g para 120 g e até a caixa de fósforos diminuiu de 240 unidades para 200.
Com a inflação, os brasileiros também estão se deparando com a mudança do tamanho dos produtos nos supermercados, mas sem a queda dos preços.
Embora não seja novidade, a prática chamada de “reduflação” é uma estratégia das empresas que reduz o tamanho do produto em vez de elevar os preços.
Dessa forma, o consumidor não tem a sensação de que os preços dos produtos, sobretudo dos alimentos, estão subindo tanto.
Porém, a redução da quantidade significa, na prática, a mesma coisa. O consumidor paga mais por menos produto.
Segundo o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a presença de novas embalagens com diferentes quantidades é uma forma de driblar a lei, já que confunde as pessoas, que estão acostumadas a comprar os produtos e podem acabar não percebendo a diminuição do conteúdo das embalagens.
Apesar de a prática não ser ilegal, existem regras que as empresas devem seguir para que os consumidores não sejam lesados.
O Procon esclarece quais são as obrigações das empresas:
• Informar ao consumidor qual a quantidade que havia antes e qual há depois da alteração;
• Alertar para a mudança em local de rápida e fácil visualização, em negrito, caixa alta e em cor que contrasta com o resto da embalagem;
• Informar o tamanho da redução, tanto de forma percentual quanto de forma absoluta;
• Manter a informação sobre a mudança por pelo menos seis meses.
Se houver descumprimento dessas normas, o consumidor poderá denunciar a empresa aos órgãos responsáveis, como o Procon, o Senacom e o próprio Ministério da Justiça.
No caso, a empresa poderá ser punida por agir de má-fé e em “desconformidade com os princípios do dever à informação e transparência”, segundo o Procon.
Ainda que as empresas sigam essas regras, no entanto, a reduflação pode ser vista como “maquiagem do produto” e, conforme o Idec, utilizada para “não expor a própria imagem, ocultando o aumento do preço com a redução das embalagens”.
O Idec, em nota, se pronunciou sobre a reduflação e classificou a prática como uma forma de “driblar a lei”.
Outra estratégia utilizada pelas empresas é substituir ingredientes da receita por outros mais baratos, de forma a não repassar o aumento dos preços aos consumidores.
Um exemplo disso aconteceu com o leite condensado da Nestlé, que não diminuiu de tamanho, mas teve a fórmula alterada para “mistura láctea condensada”, com ingredientes mais baratos e de menor qualidade.
O caso causou espanto e críticas dos consumidores, e o assunto repercutiu nas redes sociais, sobretudo no Twitter.
A marca se pronunciou sobre a questão. “Os consumidores da Nestlé são plurais e a empresa se preocupa em desenvolver produtos que atendam às suas diversas necessidades. O Moça pra Toda a Família é uma alternativa ao leite condensado com menor desembolso para as famílias brasileiras que querem continuar preparando suas receitas sem abrir mão da segurança do resultado e da qualidade Nestlé”, afirmou a empresa em nota.
Outro item que tem chamado a atenção dos consumidores é o sabão em pó Omo, da Unilever, que teve redução na quantidade de produto. O pacote de 1 kg, agora, vem com 800 g de sabão, redução de 20%.
Em comunicado, a empresa afirmou que mudanças na apresentação dos produtos não são uma prática recorrente.
“Cada segmento de atuação da companhia segue sua estratégia de negócio, que pode envolver alterações que são pontuais para produtos específicos, sempre seguindo as normas estabelecidas pela legislação e as tendências de mercado”, disse a empresa.
A “reduflação” é comum em tempos de inflação alta, como o que é vivenciado pelos brasileiros em 2022.
Em maio, apesar de ter havido uma desaceleração, o IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial, foi de 0,47% e, nos últimos 12 meses, de 11,73%. No acumulado do ano, o índice chegou a 4,78%.
Nos últimos cinco anos, o consumidor brasileiro perdeu 30% do poder de compra, e isso pode ser visto nas reclamações em redes sociais sobre idas aos supermercados. São bastante comuns demonstrações de quantos produtos são comprados por R$ 100.
O ideal é que o consumidor fique atento quando for ao supermercado para fazer as compras, tanto no preço quanto na quantidade ofertada pelas empresas, para saber exatamente quanto está comprando e quanto está pagando.