Pacientes que ficaram cegos ou com sequelas após um mutirão de catarata em Taquaritinga (SP), em outubro do ano passado, recusaram recentemente a proposta de indenização oferecida pelo Estado de São Paulo.
Segundo eles, cada uma das 13 vítimas receberia R$ 50 mil, valor considerado abaixo do que já foi pago em outras decisões judiciais. Um pedido de pensão vitalícia aos pacientes afetados foi negado.
Em fevereiro, quatro meses após o ocorrido, uma advogada que representa cinco pacientes afetados disse ao g1 que o Estado estava condicionando o ajuizamento das indenizações administrativas à desistência de processos judiciais na esfera cível, ou seja, as vítimas deveriam desistir de ações antes de saberem o valor proposto pela indenização administrativa.
À EPTV, afiliada da TV Globo, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou, por meio de nota, que atua para viabilizar a indenização dos pacientes, independentemente da ação judicial.
” Este procedimento administrativo possibilita o pagamento de uma indenização de uma forma mais rápida do que ocorre em juízo”.
Sem poder trabalhar, o pintor Carlos Augusto Rinaldi disse que espera há quase seis meses por uma solução.
A empresária Priscila Xavier Verone, sobrinha de uma das vítimas, também reclama da falta de acordo com os responsáveis.
“A gente não sabe o que falta mais. A Santa Casa de Franca já assumiu o erro, o AME já assumiu, e a família que está pagando o pato. Se já foi assumido, o que está faltando? A gente está perdido. Tudo que está pedindo pra ser feito, a gente faz. E aí? A gente está de mão atada, não foi aceito o acordo que propuseram pra gente e eles [os pacientes] estão sem atendimento nenhum, sem auxílio nenhum”.
Filha da dona de casa Francisca dos Reis Pereira, a técnica em enfermagem Luciana Garcia diz que não tem tido apoio do AME.
“O pessoal de Taquaritinga em si, os que fizeram a lesão neles em si, não teve apoio nenhum. É um colírio aqui, outro colírio ali, mas é só”.
Após o mutirão, Francisca precisou ser submetida a um transplante de córnea por conta da gravidade do problema.
“Eu estou transtornada, sinceramente. Estou sem chão, mexeu com meu psicológico, é como se tivesse ceifado metade da minha vida”.
Procurada pela EPTV, a Secretaria de Estado de Saúde informou que todas as receitas são atendidas conforme prescrição médica e ainda disse que todos os pacientes estão em acompanhamento no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Receitas médicas não têm colírios suficientes
Além do impasse nas indenizações, os pacientes também reclamam que as receitas médicas não consideram a quantidade de colírios suficiente e eles têm recebido menos medicamento do que o necessário para passar os meses até uma próxima consulta.
“A entrega do colírio virou uma política danada. Agora toda vez que a gente vai precisar desse colírio, a gente vai ter de ter uma consulta no H. Como é que o pessoal vai fazer pra ir toda semana pegar uma receita no HC em Ribeirão Preto? Não tem como. Tem gente que não está conseguindo sair da cidade, não tem ajuda nada”, diz Carlos.
Angela Xavier tem uma receita para três colírios até julho, quando foi marcado o retorno dela para o tratamento. Segundo a sobrinha, um frasco dura dez dias.
“Até lá, não tenho receita. O pessoal do AME de Taquaritinga mandou um comunicado pra gente via WhatsApp, que a partir daquele momento eles seguiriam a receita médica que estaria ali. Só que é de uso contínuo, estava escrito um frasco e eles me entregaram um frasco. Os próximos remédios, eles entregariam com uma nova receita”, diz Patrícia.
Fonte: G1